Estamos em 1946. Uma noite fria e chuvosa de Inverno acaba de descer sobre a cidade de Nova Iorque. No palco de um dos inúmeros clubes de jazz da cidade uma orquestra soa num turbilhão de energia, criatividade e alegria, fazendo-nos esquecer o frio e transportando- nos para um mundo de magia e emoção que não poderemos facilmente esquecer.
No centro do palco, uma silhueta imponente toca um instrumento enorme, de metal, de igual impacto, e juntos libertam um som forte e directo, um swing poderoso, repleto de melodias bem definidas que fazem dançar a banda.
A orquestra era a de Duke Ellington e o solista, no saxofone barítono, o grande Harry Carney (1910-1974), um dos maiores saxofonistas barítono que já existiu. Quando pensamos no som da orquestra de Ellington, o que nos vem à cabeça são os três elementos mais marcantes da banda, o sax alto doce e melódico de Johnny Hodges, o trompete ágil e gritante de Cootie Williams, e o barítono forte e profundo de Harry Carney.
Apesar de não ter sido o primeiro saxofonista barítono no jazz (o clarinetista Don Murray já tocava o instrumento nas orquestras de Frank Trumbauer e Bix Beiderbecke), Harry Carney foi o primeiro a colocar o barítono num lugar de destaque, tornando-o uma peça essencial da orquestra de jazz contemporânea.
Sendo um virtuoso no seu instrumento, Carney foi também o primeiro a criar com o barítono linhas ágeis e dinâmicas que o colocavam a par dos seus “irmãos” mais reconhecidos, os saxofones alto e tenor.
Harry Carney começou a tocar com Ellington aos 17 anos, tendo permanecido 45 anos na sua orquestra. Durante este período foram gravadas algumas das maiores obras-primas do jazz, e em todas elas Carney deixou a sua marca inconfundível. Quando Duke morreu, Carney referiu: “Este é o pior dia da minha vida. Sem Duke já não tenho razão para viver.” Quatro meses depois morreu.
Dos registos com Ellington destacamos Never no Lament (RCA) de 1942, Ellington at Newport (Columbia) de 1956, o incontornável Black, Brown and Beige (Columbia) de 1958, e And His Mother Called Him Bill (RCA) de 1967. Carney toca também num registo histórico de Benny Goodman At Carnegie Hall 1938 – Complete (Columbia).
Em nome próprio deixou apenas dois registos, e apenas um deles, Harry Carney with strings, está disponível e aparece inserido num CD de Ben Webster, Music for Loving (Verve).
Nos anos 30 e 40, músicos como Les Hite ou Sid Trucker ocuparam a cadeira do saxofone barítono nas orquestras de Louis Armstrong, mas sem o destaque e brilhantismo que lhe foi dado por Carney.
A chegada da big band de Count Basie a uma cena dominada pelas orquestras de Ellington, Lunceford e Henderson veio trazer um novo fôlego à era do swing e veio dar uma nova oportunidade ao desenvolvimento e evolução do saxofone barítono. Dois dos principais responsáveis pelas partes de barítono nas formações de Basie eram Jack Washington e Charlie Fowlkes, músicos que, apesar de nunca terem assumido um papel solista de destaque, fizeram um trabalho notável ao nível do timbre e da textura no seio da orquestra, tendo consolidado definitivamente o papel do saxofone barítono no seio da orquestra jazz. (...)
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