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16 de Junho
FLAUTA
Depois do piano, a flauta, o PÚBLICO distribui o quarto volume de Let’s Jazz em Público, colecção inédita de 31 livros com oferta de CD, sob a direcção de José Duarte, onde a história do jazz é percorrida através de alguns dos seus nomes essenciais mas também do papel dos instrumentos ou das vozes que o marcaram. Do texto do flautista e saxofonista Paulo Curado, que integra este quarto livro desta colecção, publicamos aqui um breve excerto:
das experimentações musicais mais alargadas e da procura de inter-relações entre músicas e tradições diversas, com os músicos a começarem a querer levar ao limite as possibilidades dos seus instrumentos, em nome de abordagens cada vez mais pessoais e distintas, surge Herbie Mann, que é o primeiro músico de jazz a dedicarse exclusivamente à flauta, Sam Most, supostamente o primeiro a murmurar e falar para dentro da flauta, para encontrar novos timbres e ataques das notas e Bobby Jaspar, que gravou com Herbie Mann, em flauta e saxofone tenor.
Herbie Mann desenvolveu desde aí uma longa carreira com permanentes incursões às músicas latina e árabe, que sempre conseguiu misturar com a sua própria tradição – o jazz.
É neste contexto de interpenetrações culturais que aparece Yusef Lateef, que grava em 1957 o album Songs of Yusef Lateef, sendo o primeiro músico de jazz a juntar à flauta transversal ou-tras flautas de diferentes proveniências – China e Norte de África.
Herbie Mann, Yusef Lateef e ainda Sahib Shihab, também um dos primeiros flautistas do Bebop, no início dos anos 60 utilizavam já técnicas alargadas de tocar, como sejam falar e cantar para dentro da flauta, ou soprar com muito mais força do que seria necessário, no sentido de extremar as possibilidades tímbricas e interpretativas do instrumento, caminho que também estava a ser tomado na Europa por campositores da Música Contemporânea como Luciano Berio e Edgar Varèse, desde os finais dos anos 50. É no ambiente de todas estas experiências, que aparece um músico fundamental para a História da Música, que é Eric Dolphy.
Eric Dolphy, em tournée pela Europa, teve aulas com o flautista italiano Severino Gazzelloni, com quem trabalhou todas as novas possibilidades da flauta e que o levaram a descobrir a sua própria maneira de tocar, onde, por exemplo surgiam imitações de vento ou pássaros. Dolphy dedicou uma música do seu disco Out to Lunch ao seu mestre, dando-lhe o seu nome – Gazzelloni.
Ainda nesta altura aparece outro músico completamente revolucionário a utilizar a flauta de maneira inovadora – o multi-instrumentista Roland Kirk. Kirk é conhecido por tocar três saxofones por ele modificados, ao mesmo tempo e como flautista, é tido como o primeiro músico de jazz a usar as chaves da flauta como instrumento de percussão, para além das outras técnicas faladas antes. Tocava também flautas de cana e apitos vários. (...)
"PAULO CURADO EXCERTO DO TEXTO INCLUÍDO NO VOL4" |