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Na colecção Let’s Jazz em Público, é a vez do saxofonista, flautista e clarinetista Eric Dolphy. É o quinto de 31 livros com oferta de CD, sob a direcção de José Duarte, onde a história do jazz é percorrida através de alguns dos seus nomes essenciais, mas também do papel dos instrumentos ou das vozes que o marcaram.
Um excerto:
“A obra de Eric Dolphy continua a ser fundamental para uma melhor percepção da chamada corrente dominante do jazz com a estética do free. Apesar do seu estilo ter sido criticado como anti-jazz, a modernidade da sua obra é ímpar e indiscutível. A inovação que Dolphy introduziu no jazz é tão importante como as de Charlie Parker ou John Coltrane. O lirismo da sua flauta contrastava com o radicalismo do clarinete baixo, o seu discurso no saxofone alto era impetuoso, as suas composições dissonantes e bizarras foram fundamentais para o desenvolvimento do jazz até aos dias de hoje.”
O CD, que acompanha o livro, tem os seguintes temas:
God Bless The Child, Red Planet, Hat And Beard, Out To Lunch, Epistrophy, You Don’t Know What Love Is.
Eric Dolphy mantinha uma hiperactividade musical sem limites.
HERNÂNI FAUSTINO EXCERTOS DO TEXTO INCLUÍDO
NO VOLUME 5
Passava grande parte da sua vida nos estúdios de gravação, onde participou em muitas sessões lideradas pelos músicos: Max Roach, Abbey Lincoln, Ted Curson, Ron Carter, Mal Waldron, Pony Poindexter, Benny Golson, Gary McFarland, Orchestra U.S.A., Freddie Hubbard, Teddy Charles, Andrew Hill, Gil Evans, Ken McIntyre e John Coltrane.
É no seu apartamento de Brooklyn que Dolphy começa a tocar e a partilhar ideias com o seu amigo John Coltrane, que o convida para trabalhar na sua primeira gravação para a então recémcriada editora Impulse, tendo a seu cargo a orquestração e a direcção da orquestra. O resultado conseguido não tem paralelo na discografia de Coltrane, Africa/ Brass Sessions apresenta o célebre quarteto mais 14 músicos, e transmite a experiência única de sentir o modalismo livre do quarteto, invadido por subtis arranjos orquestrais. Depois desta experiência, Coltrane decide convidar o multi-instrumentista para a gravação de Olé Coltrane, que, em certa medida, segue os passos musicais já experimentados em Africa/Brass Sessions, mas desta feita sem orquestra. Dolphy passa a integrar o grupo liderado por Coltrane, a colaboração entre ambos tem o seu ponto alto nas gravações feitas em 1961 no mítico Village Vanguard em Nova Iorque.
Apesar das frequentes colaborações, Dolphy continuava a gravar como líder. Para a história ficam as gravações feitas no Five Spot, editadas em dois volumes. A banda de Dolphy tinha alguns dos músicos mais criativos da altura, o trompetista Booker Little, o pianista Mal Waldron, o contrabaixista Richard Davis e o baterista Ed Blackwell arquitectaram a transição para o futuro do jazz sem esquecer a tradição. Como exemplo figuram as composições Aggression e Bee Vamp, com Little em verdadeiro estado de graça. (…)
A preocupação melódica, o fraseado e a estrutura interna dos solos são uma constante em Dolphy, isto sem descurar a complexidade criativa das suas composições. É durante este processo criativo que nasce a obraprima Out To Lunch, inteiramente preenchida com composições soberbas e originais, tocadas de forma espontânea e livre pelo trompetista Freddie Hubbard, o vibrafonista Bobby Hutcherson, o contrabaixista Richard Davis e o baterista Tony Williams. Se a perfeição existe, ela está patente em Out To Lunch, obra inquietante, arriscada e demasiado inovadora para a época. (…)
A obra de Eric Dolphy continua a ser fundamental para uma melhor percepção da chamada corrente dominante do jazz com a estética do free. Apesar de o seu estilo ter sido criticado como antijazz, a modernidade da sua obra é ímpar e indiscutível. A inovação que Dolphy introduziu no jazz é tão importante como as de Charlie Parker ou John Coltrane. O lirismo da sua flauta contrastava com o radicalismo do clarinete baixo, o seu discurso no saxofone alto era impetuoso, as suas composições dissonantes e bizarras foram fundamentais para o desenvolvimento do jazz até aos dias de hoje.
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