Como contrabaixista e amante do jazz, é para mim muito interessante analisar o caminho percorrido pelo contrabaixo ao longo da história do jazz no sentido de conhecer a sua evolução, o modo como foi superando barreiras e conquistando territórios numa música em constante e progressiva transformação. Para tal é necessário recuar ao início do séc. XX.
Nos primórdios do jazz a tuba era o instrumento cuja presença regular na secção rítmica (banjo, piano, tuba e bateria) assegurava o baixo da harmonia bem como a pulsação rítmica. Esta função viria em breve a ser tomada pelo contrabaixo de cordas, sendo atribuída a Bill Johnson, da Original Creole Orchestra, a introdução deste instrumento no jazz em 1911.
No entanto só na década de 20- 30 Pops Foster, que tocava com Louis Armstrong, estabeleceu o contrabaixo como instrumento assíduo na secção rítmica nas bandas de swing.
Outro importante contrabaixista deste período foi Walter Page, membro da Orquestra de Count Basie, e precursor do walking bass, técnica através da qual o contrabaixo passava a descrever linhas contínuas que não se limitavam apenas às notas fundamentais dos acordes.
Na década seguinte Duke Ellington descobre o jovem talento Jimmy Blanton. Dotado de um virtuosismo impressionante e de grande invenção melódica, Blanton elevou o contrabaixo a instrumento solista, gravando notáveis duetos com Ellington entre 1939 e 1942. Morreu prematuramente aos 21 anos de tuberculose após uma curta mas extraordinária carreira. Outros baixistas destacaram-se pelo seu estilo pessoal como Slam Stewart e os seus solos de arco e voz em simultâneo.
Os anos 40 viram nascer o bebop. As orquestras deram lugar a pequenos grupos que tocavam uma música complexa, mais rápida, e com grandes solos improvisados.
Uma nova geração de contrabaixistas surgiu seguindo as pisadas de Blanton, como Tommy Potter, Red Callender, Milt “The Judge” Hinton, Oscar Pettiford (também notável no violoncelo) e ainda o extraordinário Ray Brown, possuidor de uma sonoridade ímpar e de um tempo inabalável.
Considerado um dos grandes compositores da história do jazz e um dos mais importantes contrabaixistas de todos os tempos, o genial e tempestuoso Charles Mingus trouxe o contrabaixo para primeiro plano liderando os seus grupos e conduzindo o discurso musical da banda. A sua admiração por Duke Ellington, a forte ligação ao gospell, bem como às novas tendências que viriam a surgir como o third-stream e o free jazz, estão presentes na sua obra. (...)
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