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Voz Feminina
Falar sobre as grandes cantoras de jazz é quase como tentar descrever uma grande colecção de borboletas em poucas páginas: a um olhar rápido e desatento, todas são parecidas, de asas desenhadas e coloridas, maiores ou menores em dimensão, mas difíceis de distinguir. Torna-se necessária alguma paciência e poder de observação para as conhecer e descobrir os pormenores que dão beleza a cada uma delas e as características únicas que as distinguem de qualquer uma das outras ou que, por outro lado, as aproximam. Mas uma coisa é certa: falar-se-á sempre das mais raras e das mais bonitas, e muitas outras terão necessariamente de ver a sua fama adiada para outras páginas. E se sempre haverá quem não tenha os requisitos necessários para apreciar devidamente estas características, felizmente encontram-se cada vez mais pessoas interessadas em conhecer melhor o jazz, e, ainda mais, o jazz vocal, que sempre foi mais fácil de ouvir. Interessa, assim, trazer a este público musicófilo um pouco de cada uma, as qualidades que fizeram ou continuam a fazer com que uma cantora de jazz se distinga das outras e se torne mundialmente conhecida e apreciada, arrastando legiões de fãs atrás de si. (...)
A cantora mais “antiga” com direito a figurar neste texto nasceu ainda no séc. XIX, em 1894. Chama-se Bessie Smith e viria a merecer o título de Imperatriz dos Blues. Detentora de uma voz potente e dramática, Bessie foi discípula de Ma Rainey, outra grande cantora da época, que a ensinou e a deixava cantar nos seus concertos. Bessie rapidamente ultrapassa a sua professora, conseguindo arrebatar o público com as suas interpretações cheias de entrega e emoção. As suas primeiras gravações, para a Columbia, remontam a 1923 e, apesar da fraca qualidade técnica das gravações de então, o seu 1º disco, Downhearted Blues, conquista Billie Holiday o público e torna-a famosa, vendendo muitas centenas de milhares de exemplares, quantidade impressionante para a época. O auge da sua carreira situa-se nos anos 20, tendo gravado com músicos como Louis Armstrong e James P. Johnson. Nos anos 30 a sua carreira entra em declínio (os blues começavam a estar fora de moda) e, quando dava sinais de alguma recuperação, morre, em 1937, vítima de acidente de viação. Nos anos 90 a Columbia reeditou todas as suas gravações.
A mais famosa continuadora do estilo de Bessie Smith foi, sem dúvida, Billie Holiday. Nascida em 1915, possuía uma voz de timbre singular, doce, quase infantil, com um ligeiro vibrato, curto e rápido, no final das frases, e na qual se pressente alguma tristeza. Marcada por uma vida difícil, de relações tempestuosas, de dependência de drogas e de períodos de depressão, à sua vida, atribulada desde a infância (em criança foi violada pelo pai), se atribui o sentimento com que cantava, a alma com que personalizava as suas interpretações, tendo imortalizado temas que se tornaram sua imagem de marca, como Strange fruit, Loverman (escrito propositadamente para ela), Don’t explain ou a sua composição God bless the child. A forma como fraseava, articulando as palavras atrás do tempo, a maneira como brincava com o ritmo e com as melodias, cheias de inflexões que eram uma característica sua muito particular, tudo isto impressionava e fascinava muito boa gente (diz-se que Sinatra passava horas a ouvir atentamente as suas versões), tendo sido, e continuando a ser uma enorme referência para todos os cantores de jazz e blues desde então. (...)
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