ÍNDICE
  Prefácio
  Apresentação
  Guia de leitura
 
  PARTE I
  Introdução
 
  Ética e deontologia
  Estatuto editorial
  Princípios e normas de   conduta profissional
  Informar sem manipular,
  difamar ou intoxicar
  Privacidade
  e responsabilidade
  Seriedade e credibilidade
  O jornalista não é
  um mensageiro
 
  Critérios, géneros
  e técnicas
  Os factos e a opinião
  Regras de construção
  O rigor da escrita
  A fotografia
  A publicidade
 
  PARTE II
  Alfabeto do PÚBLICO
  Palavras, expressões e   conceitos
  A B C D E F G H I J K L M N
  O P Q R S T U V W X Y Z
 
  Normas e nomenclaturas
  Acentuação
  Verbos
  Maiúsculas & minúsculas
  Topónimos estrangeiros
  Siglas
  Factores de conversão
  Hierarquias (militares e   policiais)
  Religiões
 
  ANEXOS
  Fichas da lei
  Projecto PÚBLICO
  na Escola
  Regulamento do Conselho de
  Redacção do PÚBLICO
  Estatuto do Provedor
  do Leitor do PÚBLICO
  Código Deontológico
  do Jornalista
 
  


O rigor da escrita

Clareza, simplicidade, exactidão e variedade caracterizam o estilo jornalístico de qualidade. O bom uso do português e o cumprimento das regras gramaticais, o rigor e a competência indispensáveis na informação que se leva ao leitor aconselham, por outro lado, uma permanente atenção a certos vícios e incorrecções de linguagem.

1. Uma ideia, uma informação, uma frase

a. Informar é comunicar e fazer compreender — isto é, redigir de forma simples, concisa, clara e precisa, quaisquer que sejam a complexidade do assunto ou o género da mensagem jornalística.

Leitura fácil e compreensão rápida é o binómio em que assenta a escrita jornalística, independentemente do nível cultural do leitor ou do seu grau de conhecimentos. Estudos adaptados à estrutura da língua portuguesa demonstram que a capacidade de memorização imediata de uma pessoa média é limitada a um máximo de 40 palavras por frase; por outro lado, temas abstractos ou com vocabulário rebuscado dificultam a leitura e a compreensão.

Na imprensa, em geral, escreve-se de mais e diz-se de menos. Só uma minoria de leitores consegue manter a atenção ao longo de um texto com mais de 450 palavras (cerca de 2500 caracteres). Qualquer peça com mais de 5000 caracteres perde parte da sua eficácia. Por isso, quando um texto ultrapassar os 7000 caracteres, é aconselhável "partir" o assunto por outro(s) texto(s) mais curto(s), tipo "caixa(s)" (cf. Extensão, em Alfabeto do PÚBLICO).

Um texto que, em parte ou no todo, necessite de uma segunda leitura para ser assimilado é um convite à desistência — em suma, é uma peça jornalística falhada. Mas a concisão não é, aqui, um valor absoluto: períodos demasiado curtos e um vocabulário limitado favorecem a monotonia e desmobilizam o leitor.

b. A adjectivação excessiva ou inadequada enfraquece a qualidade e o impacte informativo do texto jornalístico. Ao empregar um adjectivo, lembre-se Celso Cunha: "Encontrar o adjectivo preciso e colocá-lo junto ao substantivo que qualifica é uma operação artística." Ou Vincente Huidobro: "O adjectivo, quando não dá vida, mata."

Se cada palavra ou expressão contiverem o máximo de carga significante, a qualificação — que quebra o ritmo da leitura — torna-se dispensável. Substantivos fortes e verbos na voz activa reforçam a densidade indispensável na escrita jornalística: raramente necessitam de qualificação e permitem reduzir consideravelmente o recurso aos adjectivos.

A sequência lógica de uma frase em português (sujeito-predicado-complemento) facilitará sempre a fluência e compreensão da mensagem jornalística. É aconselhável em particular para os temas e assuntos de maior complexidade informativa. Verbos de preferência no modo indicativo, na voz activa e nas formas simples e afirmativas; as formas condicionais, compostas, passivas e perifrásticas ou negativas prejudicam e desvalorizam o estilo directo do PÚBLICO.

c. Repetições, preciosismos, redundâncias, cacofonias, períodos longos e o abuso de intercalares obscurecem a comunicação, reduzem-lhe a eficácia e contrariam a fluência da leitura. Um texto não deverá ter parágrafos longos; e, nos mais extensos, os subtítulos servem para tornar a leitura mais fácil e aliciante.

d. Preferir a frase afirmativa e o estilo directo, recusar a imprecisão e a ambiguidade, devem ser preocupações sempre presentes na redacção de um texto jornalístico.

O abuso da voz passiva e dos tempos compostos desmerece a linguagem jornalística. Por exemplo, "Foram tomadas resoluções a fim de ser posto fim à greve" quer simplesmente dizer "resolveu-se acabar com a greve". Cf. Linguagem, em Alfabeto do PÚBLICO.

e. As frases feitas e os lugares-comuns, os chavões e as palavras de ordem devem ser igualmente evitados: artificializam ou estereotipam a prosa e tornam-na menos incisiva na apresentação dos factos e das ideias.

O contrário da escrita jornalística é complicar o que dever ser simples, claro e directo. Por exemplo: "Emílio Peixe e Iuran andaram todo o encontro a protagonizar um desaguisado." Ou: "Tal como o azeite que com a água se mistura, também as confirmações de uns não se compadecem com as hesitações de outros. Um risco assumido, mas que merecia ser minimizado, especialmente à vista de um auditório por de mais exigente, imediatista e cuja filosofia de constatação visual supera a concepção escrita, mesmo que esta se cinja aos factos, uma ou outra vez intercalados com comentários opinativos e como tal subjectivos ou de dupla leitura."

f. A clareza da mensagem obriga a seleccionar, hierarquizar e sacrificar o acessório a favor do essencial. O tratamento de qualquer informação passa sempre pela escolha de um ângulo específico de abordagem: a novidade, o mais importante, característico ou original — aquilo que mais cative o interesse do leitor (a história curta, os pormenores desconhecidos de bastidores, por exemplo). O factor humano deverá estar sempre presente e a identificação rigorosa dos protagonistas ser uma preocupação central. Se um assunto comporta várias mensagens, é preferível tratá-las separadamente ao longo do texto e com recurso a subtítulos, ou, melhor ainda, repartidas por peças individualizadas.

g. Nunca se pode escrever tudo. Na escolha do ângulo de abordagem prevalecerá sempre a precisão da informação: dados, números e casos concretos, ideias claras, imagens, exemplos e citações em vez de generalizações vagas e abstractas.

Por exemplo, no caso das distâncias, o critério deve ser o mesmo que para tudo o que se relacione com os números: facilitar a sua rápida compreensão. Assim, o que foge às nossas referências mais imediatas (não é automática, por exemplo, a noção de que uma milha marítima são 1852 metros ou uma légua corresponde a cinco quilómetros, ou o valor de câmbio de moedas estrangeiras) deve ser acompanhado da conversão para o sistema métrico, para a nossa moeda, etc. Melhor ainda se se der logo um termo de comparação ou um ponto de referência, de preferência com suporte visual — um mapa, um gráfico ou um "croquis" permitem uma "leitura" muito mais fácil, mais rápida e mais apetecível: "ardem 40 hectares de floresta por minuto — o equivalente a 60 campos de futebol..."; "Sofala, província central de Moçambique".

1. O local exacto do acontecimento deve ser sempre mencionado: em Lisboa, em Saigão, no Rio de Janeiro. O leitor do PÚBLICO não é necessariamente um lisboeta que sabe que a sede nacional do PS é no Largo do Rato ou que o Snob é um bar lisboeta frequentado por colunáveis; ou do Porto, para identificar facilmente a frase feita "nos estúdios do Monte da Virgem".

2. Para os lugares menos conhecidos aponte-se uma referência mais comum: em Porto Aboim, a 100 quilómetros de Luanda; Pureza, município do estado do Rio de Janeiro, Brasil; Barbacena, a 15 quilómetros de Elvas; incluindo para as capitais mais distantes: Bogotá, capital da Colômbia. Dêem-se pormenores suplementares sempre que for caso disso: Menongue, ex-Serpa Pinto, a capital da província angolana de Cuando Cubango; as Terras do Fim do Mundo, como lhe chamavam os portugueses, no tempo colonial. Facilite-se a orientação do leitor, situando-lhe num mapa da região a localização concreta do que se está a referir.

3. Procede-se do mesmo modo sempre que se fizer uma referência de âmbito local ou regional: na Fundação Gulbenkian, em Lisboa; o Largo da Boavista, no Porto; no Teatro Luísa Todi, em Setúbal.

h. Bem empregues, as imagens e as metáforas podem dar cor e sonoridade à narrativa — uma das regras para uma comunicação fácil e atractiva. Mal utilizadas, criam, porém, uma penosa sensação de pedantismo e mau gosto.

Exemplo de mau gosto: "No partido X, mais parecem sete cães a um osso." Pelo contrário, são imagens felizes esta descrição de um lance decisivo da selecção do Brasil, no último Mundial de futebol: "Romário corre para a bola e leva consigo a angústia de milhões de brasileiros." E a de um artigo de opinião: "O projecto que mobilizou biliões de contos para nos ajudar a subir o pau de sebo que é a prometida e cada vez mais distante ascensão aos níveis de vida europeus."

2. Convenções e códigos de escrita

Para que o PÚBLICO surja aos olhos dos seus leitores com uma coerência formal à altura do cuidado posto na sua edição, importa não deixar ao acaso ou ao arbítrio de cada um o uso dessas convenções e desses códigos. Cf. Convenções, em Alfabeto do PÚBLICO.

Normas práticas:

— Os números até dez deverão ser grafados por extenso e só a partir de 11 se usarão algarismos.

O bilião equivale a um milhão de milhões, e não a mil milhões. A expressão "centenas de milhar", por exemplo, é errada, são "centenas de milhares".

Convém evitar as expressões "cerca de" e "à volta de": por norma, fornecem-se números precisos ao leitor; quando não for possível, aponta-se um valor mínimo (ou máximo), menos vago como informação — "mais de 980 contos" em vez de "cerca de mil contos", por exemplo. O arredondamento dos números leva, na maior parte dos casos, a um empobrecimento escusado da informação. Se o repórter verificou que, num dia de greve no Metro, circularam 18 composições, nada se ganha em escrever "cerca de 20".

— As referências temporais seguirão a seguinte norma:

Horas: 12h30, e não 12.30h ou 12.30 ou 12h30m. Sempre que se trate de horas noutros países, deve complementar-se com a hora portuguesa correspondente.

Datas: 2 de Janeiro de 1990, e não 2.1.90 (admitindo-se o uso de 2/1/90, preferencialmente entre parênteses)

Os anos devem ser grafados integralmente (1990 e não 90) e os pares de anos com hífen (1989-90, e não 1989/90).

— Os cargos políticos ou administrativos são grafados com iniciais em caixa baixa, com excepção do do Presidente da República. "Governo" leva inicial maiúscula, mas já "primeiro-ministro" se escreve com minúsculas, bem como "ministro", "secretário de Estado", "presidente da Câmara", etc. Esta regra aplica-se igualmente às demais formas de tratamento.

— As siglas — cujo uso deve ser moderado e que devem ser "decifradas" ou explicadas na primeira vez que aparecem no texto (excepto se já forem de conhecimento e uso generalizado) — não contêm pontos.

— As citações de declarações ou de documentos são grafadas entre aspas. As aspas também se aplicam-se às palavras estrangeiras e às portuguesas de duplo sentido.

— Os títulos de jornais, revistas, publicações periódicas, livros, filmes, etc., escrevem-se entre aspas, com iniciais em caixa alta nas palavras variáveis (excepto nos artigos definidos) e minúsculas nas palavras invariáveis. Única excepção: PÚBLICO grafa-se sempre em caixa alta, sem aspas.

— A pontuação deve estar ao serviço da clareza e economia da leitura.

3. Precisão e propriedade vocabular

a. Um vocabulário acessível ao leitor não significa um léxico pobre e limitado, nem escrever bem é escrever caro. Por isso, a variedade de uma linguagem rigorosa aconselha palavras simples e eficazes, evitando-se os vocábulos polissémicos, a banalização dos estrangeirismos e dos neologismos, o uso indiscriminado dos regionalismos, dos arcaísmos e dos termos especializados de qualquer área do conhecimento, profissão ou sector de actividade (como o "futebolês" ou outras gírias mais marcadas). Um termo técnico, no entanto, se devidamente explicado, poderá poupar o recurso a perífrases e referências vagas e imprecisas ou redundantes.

A utilização dos neologismos e dos estrangeirismos em geral deve também subordinar-se ao bom gosto e ao bom senso. Rodrigues Lapa definiu algumas regras ainda hoje pertinentes a propósito da eterna querela que opõe os puristas aos laxistas da língua: "A adopção dos estrangeirismos é uma lei humana e particularmente portuguesa: constitui como que uma fatalidade, devida aos intercâmbios das civilizações. A língua, especialmente o vocabulário, só tem a lucrar com isso. O ponto está em que essa imitação não exceda os limites do razoável e não afecte a própria essência do idioma nacional. (...) Contido nestes limites, o estrangeirismo tem vantagens: aumenta o poder expressivo das línguas, esbate a diferença dos idiomas, tornando-os mais compreensivos, e facilita, por isso mesmo, a comunicação (...). Uma coisa é necessária, quando o estrangeirismo assentou já raízes na língua nacional: vesti-lo à portuguesa." (In "Estilística da Língua Portuguesa", M. Rodrigues Lapa, Coimbra Ed., 1984.)

E "vesti-lo à portuguesa" é, por exemplo, escrever avioneta e não "avionete", marioneta e não "marionette", bicicleta e não "biciclete", bidão e não "bidon", bobina e não "bobine", cabina e não "cabine", controlo e não "controle", défice e não "deficit", equipa e não "equipe". Excepção à regra: cassete e não "casseta".

b. "A diferença entre o termo exacto e o termo aproximado é a diferença entre o relâmpago e o pirilampo." (Mark Twain, in "American Humorist".) A precisão dos vocábulos terá que ser uma preocupação constante na escrita do PÚBLICO, pois imprimir-lhe-á uma maior eficácia informativa. O leitor compreenderá melhor o que está a acontecer sempre que se empregar palavras adequadas e com carga semântica, que fixem a leitura e alimentem o interesse. Pelo contrário, um termo desconhecido ou deslocado é um obstáculo à imediata compreensão — e, se os obstáculos se sucederem, o leitor desistirá.

c. Evitem-se as palavras substitutas (tal, coisa, isso, este, aquele, diversas formas do verbo ter). As expressões-muleta — como se sabe, de registar que, recorde-se, registe-se, saliente-se, em última análise — constituem estereótipos a rejeitar, sobretudo na abertura de um período. Também não se deve iniciar um período com uma conjunção adversativa (porém, contudo, entretanto, não obstante), exceptuando-se o "mas", ou conclusivas (portanto, pois), nem repetir a mesma palavra a abrir dois períodos seguidos ou muito próximos do mesmo texto. O uso repetido do pronome, quase sempre dispensável, é inestético.

d. A repetição de palavras denota pobreza lexical, mas o recurso a uma variante vocabular pode cair no preciosismo e no rebuscamento desnecessários. É também deselegante utilizar repetidamente a mesma construção ou estrutura de frase.

e. Convém usar com parcimónia e bom senso as siglas, abreviaturas e outros sinais convencionais, de modo a não transformar a peça jornalística num texto críptico ou charadístico. Cf. Siglas, em Alfabeto do PÚBLICO.

f. Sempre que surjam novos termos traduzidos (ou que se queira traduzir) é indispensável confirmar a correcção do termo ou expressão empregues, recorrendo a dicionários ou vocabulários específicos ou a especialistas na matéria. Este cuidado é particularmente importante em domínios em que não está ainda fixada uma terminologia portuguesa e quando se tratar de títulos de obras literárias, cinematográficas, científicas, etc.

4. Correcção e elegância narrativa

a. O jornalismo assenta numa técnica apurada de comunicação que não se confunde com a literatura, mas que não prescinde do talento e da criatividade de quem o exerce. O PÚBLICO estimula a afirmação e o desenvolvimento do estilo próprio de cada um dos seus jornalistas e colaboradores, no quadro dos preceitos gerais e das preocupações aqui consagrados.

b. Originalidade, variedade e naturalidade são atributos da escrita que se pretende ver nas páginas do PÚBLICO, enriquecendo e diversificando a concretização do seu estilo.

O estilo do PÚBLICO deve também marcar a diferença pela inovação da escrita jornalística: linguagem fácil, mas moderna, viva e coloquial, em que a inventiva e a criatividade dos seus redactores assumem papel decisivo. Pode-se e deve-se inovar, criar novas palavras e novas expressões, em sintonia com a linguagem comum e o pulsar da língua na sua constante renovação.

Mas a inobservância das regras ortográficas e gramaticais, por um lado, e a disparidade de convenções e códigos de escrita, por outro, prejudicam sempre a qualidade de um estilo rigoroso e plural. E desacreditam um jornal e quem nele escreve.

"Buzinão", a palavra inventada nos acontecimentos à volta da portagem da Ponte 25 de Abril, é um bom exemplo; como "pontemónio", que tão bem expressava o pandemónio desses dias, causado pelo protesto dos automobilistas. Ou o recurso a imagens fortes que dêem mais colorido à ideia pretendida: "Pôs a boca no trombone e..." "Artur Jorge esgotou a paciência e virou a mesa..."

c. O bom gosto e um estilo apurado são incompatíveis com erros gramaticais ou com o recurso a barbarismos, estereótipos, expressões desadequadas ou de todo erradas. Em caso de dúvida, consulte-se sempre o Alfabeto do PÚBLICO, um prontuário ou os bons dicionários. Finda a redacção de um texto, o seu autor deve lê-lo atentamente: a tarefa final na elaboração de um texto inclui a sua revisão, tendo como preocupações a pontuação, a acentuação, as concordâncias e outras eventuais imprecisões ortográficas — cuidado que não pode ser transferido para o editor nem para o "copydesk".

5. Erros e vícios de linguagem mais frequentes

— Erros sintácticos, de concordância, de regência ou de colocação:

Certo Errado
   
Faz muitos anos Fazem muitos anos
Poderá haver, houve festas Poderão haver, houveram festas
   
Os ministros do Trabalho e da Saúde Os ministros do Trabalho e Saúde
   
O Conselho de Ministros reuniu-se O Conselho de Ministros reuniu
   
Os preços aumentaram 50 por cento Os preços aumentaram em 50 por cento
   
Recusa de, tentativa de Recusa em, tentativa em
   
Preferir a Preferir (mais) do que
   

— Erros de expressão ou de grafia:

Certo Errado
   
acerca àcerca
   
alfinete de ama alfinete de dama
   
açoriano, cabo-verdiano açoreano, caboverdeano
   
bege beige, beje
   
com certeza concerteza
   
caem, roem, saem, traem caiem, roiem, saiem, traiem
   
definir, desequilíbrio defenir, desiquelíbrio
   
despender, dispêndio dispender, despêndio
   
(des)pretensioso (des)pretencioso
   
dignitário dignatário
   
emirados emiratos
   
infra-estrutura infraestrutura
   
maciço massivo, massiço
   
meteorologia metereologia
   
obcecado, obsessão obsecado, obcessão
   
organograma organigrama
   
a sida a SIDA
   
o síndrome, a síndroma o sindroma
   
paralisar paralizar
   
propor, compor, antepor propôr, compôr, antepôr
   
última hora última da hora
   

— Exemplos de erros comuns na formação do feminino: governante/governanta; gigante/giganta.

— Regências dos verbos, como "avisar" (de, para, contra, sobre), "convencer" (de, de que), "prevenir" (de, de que, contra).

— Falta da acentuação em formas verbais cujo pretérito perfeito do indicativo é obrigatoriamente acentuado, para o distinguir do presente (compramos/comprámos; falamos/falámos).

— Escorregadelas em alguns verbos compostos e irregulares: "intervir" formou-se a partir de "vir" (e não de "ver"), por isso faz "intervim", "intervieste" e "interveio", ou "intervi(n)do", para nomear algumas das formas em que mais se tropeça.

Para "negociar" vale igualmente "negoceio" e "negocio".

— Abuso do verbo "dizer", que pode ser substituído por: afirmar, aludir, afiançar, assinalar, aventar, comunicar, confiar, confidenciar, considerar, declarar, desabafar, elucidar, enfatizar, informar, manifestar, notar, observar, pormenorizar, sublinhar. Têm, no entanto, sentidos diferentes que convém respeitar. O mesmo acontece com "existir", "haver", "ser", "ter" e "possuir".

— Contracção errada em orações infinitivas antecedidas de locuções como "a circunstância de", "o facto de", "antes de", "apesar de", "depois de": a preposição "de" não se contrai com o artigo que se lhe segue ("apesar de o contrato exigir..."). As duas primeiras são de evitar, pois reduzem a clareza e complicam a frase.

— Ambiguidade vocabular ou sintáctica: por exemplo, palavras e frases de duplo sentido, acentuação incorrecta, inversões forçadas, regências incorrectas, intercaladas muito extensas, pontuação defeituosa. "Aquele membro do Governo", "daquele país" ou "este acusou aquele" são expressões confusas e esteticamente empobrecedoras.

— Confusão entre palavras com sentidos diferentes e grafias semelhantes: a fim/afim; demais/de mais; demarcação/desmarcação; descriminar/discriminar; descrição/discrição; estrato/extracto; mandado/mandato; percursor/precursor; pode/pôde; porque/por que; retratar/retractar; senão/se não; etc.

— Repetição desagradável de fonemas no fim das palavras: "Neste momento tive um aumento de vencimento."

— Repetição de sílabas com o mesmo som: "corpo poroso", "barco coberto de lona".

— Expressões latinas deturpadas:

Certo Errado
   
"a posteriori"/"a priori" à posteriori/à priori
   
inclusive/vide inclusivé/vidé
   
"lato sensu"/"strictu sensu" "latu senso"/"stricto senso"
   
"statu"/"statu quo" "status"/"status quo"
   
   
   

— Palavras e expressões impróprias, gastas ou desajustadas. Alguns exemplos agrupados por "categorias de erro":

Interferência de línguas estrangeiras: desde Londres/Paris (correcto: de Londres/Paris); debutar (estrear-se); detalhe (pormenor); implementar (aplicar, concretizar, adoptar, executar); ter lugar (realizar-se); deixar cair (abandonar, desistir de); vir de (acabar de); sponzorização (patrocínio).

Redundâncias: ambos os dois; consenso geral; testemunha presencial; todos são unânimes.

Expressões feitas ou palavras a evitar: doença incurável/prolongada; escuro como breu; infausto acontecimento; mar de gente; precioso líquido; primar pela ausência; rigoroso inquérito; tenra idade; fazer espírito (gracejar); entrementes, no entretanto (entretanto); agentes da ordem; altas personalidades; amplexo (abraço); assaz; basto; quiçá.

Em desuso: mui; quasi.

Errado: implausível; asseguradamente; destabilizar (desestabilizar).

   
   
 
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