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            O rigor da escrita 
             
            
            Clareza, simplicidade, exactidão e variedade 
              caracterizam o estilo jornalístico de qualidade. O bom uso 
              do português e o cumprimento das regras gramaticais, o rigor 
              e a competência indispensáveis na informação 
              que se leva ao leitor aconselham, por outro lado, uma permanente 
              atenção a certos vícios e incorrecções 
              de linguagem.  
              
            1. Uma ideia, uma informação, uma 
              frase 
            a. Informar é comunicar e fazer compreender 
               isto é, redigir de forma simples, concisa, clara e 
              precisa, quaisquer que sejam a complexidade do assunto ou o género 
              da mensagem jornalística.  
             
              Leitura fácil e compreensão 
                rápida é o binómio em que assenta a escrita 
                jornalística, independentemente do nível cultural 
                do leitor ou do seu grau de conhecimentos. Estudos adaptados à 
                estrutura da língua portuguesa demonstram que a capacidade 
                de memorização imediata de uma pessoa média 
                é limitada a um máximo de 40 palavras por frase; 
                por outro lado, temas abstractos ou com vocabulário rebuscado 
                dificultam a leitura e a compreensão.  
              Na imprensa, em geral, escreve-se de mais e diz-se 
                de menos. Só uma minoria de leitores consegue manter a 
                atenção ao longo de um texto com mais de 450 palavras 
                (cerca de 2500 caracteres). Qualquer peça com mais de 5000 
                caracteres perde parte da sua eficácia. Por isso, quando 
                um texto ultrapassar os 7000 caracteres, é aconselhável 
                "partir" o assunto por outro(s) texto(s) mais curto(s), 
                tipo "caixa(s)" (cf. Extensão, em Alfabeto 
                do PÚBLICO). 
              Um texto que, em parte ou no todo, necessite 
                de uma segunda leitura para ser assimilado é um convite 
                à desistência  em suma, é uma peça 
                jornalística falhada. Mas a concisão não 
                é, aqui, um valor absoluto: períodos demasiado curtos 
                e um vocabulário limitado favorecem a monotonia e desmobilizam 
                o leitor. 
             
            b. A adjectivação excessiva ou inadequada 
              enfraquece a qualidade e o impacte informativo do texto jornalístico. 
              Ao empregar um adjectivo, lembre-se Celso Cunha: "Encontrar 
              o adjectivo preciso e colocá-lo junto ao substantivo que 
              qualifica é uma operação artística." 
              Ou Vincente Huidobro: "O adjectivo, quando não dá 
              vida, mata."  
            Se cada palavra ou expressão contiverem o máximo 
              de carga significante, a qualificação  que quebra 
              o ritmo da leitura  torna-se dispensável. Substantivos 
              fortes e verbos na voz activa reforçam a densidade indispensável 
              na escrita jornalística: raramente necessitam de qualificação 
              e permitem reduzir consideravelmente o recurso aos adjectivos.  
             
              A sequência lógica de uma frase 
                em português (sujeito-predicado-complemento) facilitará 
                sempre a fluência e compreensão da mensagem jornalística. 
                É aconselhável em particular para os temas e assuntos 
                de maior complexidade informativa. Verbos de preferência 
                no modo indicativo, na voz activa e nas formas simples e afirmativas; 
                as formas condicionais, compostas, passivas e perifrásticas 
                ou negativas prejudicam e desvalorizam o estilo directo do PÚBLICO. 
                  
             
            c. Repetições, preciosismos, redundâncias, 
              cacofonias, períodos longos e o abuso de intercalares obscurecem 
              a comunicação, reduzem-lhe a eficácia e contrariam 
              a fluência da leitura. Um texto não deverá ter 
              parágrafos longos; e, nos mais extensos, os subtítulos 
              servem para tornar a leitura mais fácil e aliciante.  
            d. Preferir a frase afirmativa e o estilo directo, 
              recusar a imprecisão e a ambiguidade, devem ser preocupações 
              sempre presentes na redacção de um texto jornalístico. 
             
              O abuso da voz passiva e dos tempos compostos 
                desmerece a linguagem jornalística. Por exemplo, "Foram 
                tomadas resoluções a fim de ser posto fim à 
                greve" quer simplesmente dizer "resolveu-se acabar com 
                a greve". Cf. Linguagem, em Alfabeto 
                do PÚBLICO. 
             
            e. As frases feitas e os lugares-comuns, os chavões 
              e as palavras de ordem devem ser igualmente evitados: artificializam 
              ou estereotipam a prosa e tornam-na menos incisiva na apresentação 
              dos factos e das ideias.  
             
              O contrário da escrita jornalística 
                é complicar o que dever ser simples, claro e directo. Por 
                exemplo: "Emílio Peixe e Iuran andaram todo o encontro 
                a protagonizar um desaguisado." Ou: "Tal como o azeite 
                que com a água se mistura, também as confirmações 
                de uns não se compadecem com as hesitações 
                de outros. Um risco assumido, mas que merecia ser minimizado, 
                especialmente à vista de um auditório por de mais 
                exigente, imediatista e cuja filosofia de constatação 
                visual supera a concepção escrita, mesmo que esta 
                se cinja aos factos, uma ou outra vez intercalados com comentários 
                opinativos e como tal subjectivos ou de dupla leitura." 
               
             
            f. A clareza da mensagem obriga a seleccionar, hierarquizar 
              e sacrificar o acessório a favor do essencial. O tratamento 
              de qualquer informação passa sempre pela escolha de 
              um ângulo específico de abordagem: a novidade, o mais 
              importante, característico ou original  aquilo que 
              mais cative o interesse do leitor (a história curta, os pormenores 
              desconhecidos de bastidores, por exemplo). O factor humano deverá 
              estar sempre presente e a identificação rigorosa dos 
              protagonistas ser uma preocupação central. Se um assunto 
              comporta várias mensagens, é preferível tratá-las 
              separadamente ao longo do texto e com recurso a subtítulos, 
              ou, melhor ainda, repartidas por peças individualizadas. 
             
            g. Nunca se pode escrever tudo. Na escolha do ângulo 
              de abordagem prevalecerá sempre a precisão da informação: 
              dados, números e casos concretos, ideias claras, imagens, 
              exemplos e citações em vez de generalizações 
              vagas e abstractas. 
             
              Por exemplo, no caso das distâncias, o 
                critério deve ser o mesmo que para tudo o que se relacione 
                com os números: facilitar a sua rápida compreensão. 
                Assim, o que foge às nossas referências mais imediatas 
                (não é automática, por exemplo, a noção 
                de que uma milha marítima são 1852 metros ou uma 
                légua corresponde a cinco quilómetros, ou o valor 
                de câmbio de moedas estrangeiras) deve ser acompanhado da 
                conversão para o sistema métrico, para a nossa moeda, 
                etc. Melhor ainda se se der logo um termo de comparação 
                ou um ponto de referência, de preferência com suporte 
                visual  um mapa, um gráfico ou um "croquis" 
                permitem uma "leitura" muito mais fácil, mais 
                rápida e mais apetecível: "ardem 40 hectares 
                de floresta por minuto  o equivalente a 60 campos de futebol..."; 
                "Sofala, província central de Moçambique". 
                  
             
            1. O local exacto do acontecimento deve ser sempre 
              mencionado: em Lisboa, em Saigão, no Rio de Janeiro. O leitor 
              do PÚBLICO não é necessariamente um lisboeta 
              que sabe que a sede nacional do PS é no Largo do Rato ou 
              que o Snob é um bar lisboeta frequentado por colunáveis; 
              ou do Porto, para identificar facilmente a frase feita "nos 
              estúdios do Monte da Virgem".  
            2. Para os lugares menos conhecidos aponte-se uma 
              referência mais comum: em Porto Aboim, a 100 quilómetros 
              de Luanda; Pureza, município do estado do Rio de Janeiro, 
              Brasil; Barbacena, a 15 quilómetros de Elvas; incluindo para 
              as capitais mais distantes: Bogotá, capital da Colômbia. 
              Dêem-se pormenores suplementares sempre que for caso disso: 
              Menongue, ex-Serpa Pinto, a capital da província angolana 
              de Cuando Cubango; as Terras do Fim do Mundo, como lhe chamavam 
              os portugueses, no tempo colonial. Facilite-se a orientação 
              do leitor, situando-lhe num mapa da região a localização 
              concreta do que se está a referir. 
            3. Procede-se do mesmo modo sempre que se fizer uma 
              referência de âmbito local ou regional: na Fundação 
              Gulbenkian, em Lisboa; o Largo da Boavista, no Porto; no Teatro 
              Luísa Todi, em Setúbal. 
            h. Bem empregues, as imagens e as metáforas 
              podem dar cor e sonoridade à narrativa  uma das regras 
              para uma comunicação fácil e atractiva. Mal 
              utilizadas, criam, porém, uma penosa sensação 
              de pedantismo e mau gosto. 
            Exemplo de mau gosto: "No partido X, mais parecem 
              sete cães a um osso." Pelo contrário, são 
              imagens felizes esta descrição de um lance decisivo 
              da selecção do Brasil, no último Mundial de 
              futebol: "Romário corre para a bola e leva consigo a 
              angústia de milhões de brasileiros." E a de um 
              artigo de opinião: "O projecto que mobilizou biliões 
              de contos para nos ajudar a subir o pau de sebo que é a prometida 
              e cada vez mais distante ascensão aos níveis de vida 
              europeus." 
              
            2. Convenções e códigos de 
              escrita 
            Para que o PÚBLICO surja aos olhos dos seus 
              leitores com uma coerência formal à altura do cuidado 
              posto na sua edição, importa não deixar ao 
              acaso ou ao arbítrio de cada um o uso dessas convenções 
              e desses códigos. Cf. Convenções, em Alfabeto 
              do PÚBLICO. 
            Normas práticas: 
             Os números até dez deverão 
              ser grafados por extenso e só a partir de 11 se usarão 
              algarismos. 
            O bilião equivale a um milhão de milhões, 
              e não a mil milhões. A expressão "centenas 
              de milhar", por exemplo, é errada, são "centenas 
              de milhares". 
            Convém evitar as expressões "cerca 
              de" e "à volta de": por norma, fornecem-se 
              números precisos ao leitor; quando não for possível, 
              aponta-se um valor mínimo (ou máximo), menos vago 
              como informação  "mais de 980 contos" 
              em vez de "cerca de mil contos", por exemplo. O arredondamento 
              dos números leva, na maior parte dos casos, a um empobrecimento 
              escusado da informação. Se o repórter verificou 
              que, num dia de greve no Metro, circularam 18 composições, 
              nada se ganha em escrever "cerca de 20".  
             As referências temporais seguirão 
              a seguinte norma:  
             
              Horas: 12h30, e não 12.30h ou 12.30 ou 12h30m. 
                Sempre que se trate de horas noutros países, deve complementar-se 
                com a hora portuguesa correspondente. 
              Datas: 2 de Janeiro de 1990, e não 2.1.90 
                (admitindo-se o uso de 2/1/90, preferencialmente entre parênteses) 
               
              Os anos devem ser grafados integralmente (1990 e 
                não 90) e os pares de anos com hífen (1989-90, e 
                não 1989/90). 
             
             Os cargos políticos ou administrativos 
              são grafados com iniciais em caixa baixa, com excepção 
              do do Presidente da República. "Governo" leva inicial 
              maiúscula, mas já "primeiro-ministro" se 
              escreve com minúsculas, bem como "ministro", "secretário 
              de Estado", "presidente da Câmara", etc. Esta 
              regra aplica-se igualmente às demais formas de tratamento. 
             As siglas  cujo uso deve ser moderado 
              e que devem ser "decifradas" ou explicadas na primeira 
              vez que aparecem no texto (excepto se já forem de conhecimento 
              e uso generalizado)  não contêm pontos. 
             As citações de declarações 
              ou de documentos são grafadas entre aspas. As aspas também 
              se aplicam-se às palavras estrangeiras e às portuguesas 
              de duplo sentido. 
             Os títulos de jornais, revistas, publicações 
              periódicas, livros, filmes, etc., escrevem-se entre aspas, 
              com iniciais em caixa alta nas palavras variáveis (excepto 
              nos artigos definidos) e minúsculas nas palavras invariáveis. 
              Única excepção: PÚBLICO grafa-se sempre 
              em caixa alta, sem aspas. 
             A pontuação deve estar ao serviço 
              da clareza e economia da leitura. 
              
            3. Precisão e propriedade vocabular 
            a. Um vocabulário acessível ao leitor 
              não significa um léxico pobre e limitado, nem escrever 
              bem é escrever caro. Por isso, a variedade de uma linguagem 
              rigorosa aconselha palavras simples e eficazes, evitando-se os vocábulos 
              polissémicos, a banalização dos estrangeirismos 
              e dos neologismos, o uso indiscriminado dos regionalismos, dos arcaísmos 
              e dos termos especializados de qualquer área do conhecimento, 
              profissão ou sector de actividade (como o "futebolês" 
              ou outras gírias mais marcadas). Um termo técnico, 
              no entanto, se devidamente explicado, poderá poupar o recurso 
              a perífrases e referências vagas e imprecisas ou redundantes. 
             
              A utilização dos neologismos 
                e dos estrangeirismos em geral deve também subordinar-se 
                ao bom gosto e ao bom senso. Rodrigues Lapa definiu algumas regras 
                ainda hoje pertinentes a propósito da eterna querela que 
                opõe os puristas aos laxistas da língua: "A 
                adopção dos estrangeirismos é uma lei humana 
                e particularmente portuguesa: constitui como que uma fatalidade, 
                devida aos intercâmbios das civilizações. 
                A língua, especialmente o vocabulário, só 
                tem a lucrar com isso. O ponto está em que essa imitação 
                não exceda os limites do razoável e não afecte 
                a própria essência do idioma nacional. (...) Contido 
                nestes limites, o estrangeirismo tem vantagens: aumenta o poder 
                expressivo das línguas, esbate a diferença dos idiomas, 
                tornando-os mais compreensivos, e facilita, por isso mesmo, a 
                comunicação (...). Uma coisa é necessária, 
                quando o estrangeirismo assentou já raízes na língua 
                nacional: vesti-lo à portuguesa." (In "Estilística 
                da Língua Portuguesa", M. Rodrigues Lapa, Coimbra 
                Ed., 1984.)  
              E "vesti-lo à portuguesa" é, 
                por exemplo, escrever avioneta e não "avionete", 
                marioneta e não "marionette", bicicleta e não 
                "biciclete", bidão e não "bidon", 
                bobina e não "bobine", cabina e não "cabine", 
                controlo e não "controle", défice e não 
                "deficit", equipa e não "equipe". Excepção 
                à regra: cassete e não "casseta".  
             
            b. "A diferença entre o termo exacto e 
              o termo aproximado é a diferença entre o relâmpago 
              e o pirilampo." (Mark Twain, in "American Humorist".) 
              A precisão dos vocábulos terá que ser uma preocupação 
              constante na escrita do PÚBLICO, pois imprimir-lhe-á 
              uma maior eficácia informativa. O leitor compreenderá 
              melhor o que está a acontecer sempre que se empregar palavras 
              adequadas e com carga semântica, que fixem a leitura e alimentem 
              o interesse. Pelo contrário, um termo desconhecido ou deslocado 
              é um obstáculo à imediata compreensão 
               e, se os obstáculos se sucederem, o leitor desistirá. 
             
            c. Evitem-se as palavras substitutas (tal, coisa, 
              isso, este, aquele, diversas formas do verbo ter). As expressões-muleta 
               como se sabe, de registar que, recorde-se, registe-se, saliente-se, 
              em última análise  constituem estereótipos 
              a rejeitar, sobretudo na abertura de um período. Também 
              não se deve iniciar um período com uma conjunção 
              adversativa (porém, contudo, entretanto, não obstante), 
              exceptuando-se o "mas", ou conclusivas (portanto, pois), 
              nem repetir a mesma palavra a abrir dois períodos seguidos 
              ou muito próximos do mesmo texto. O uso repetido do pronome, 
              quase sempre dispensável, é inestético. 
            d. A repetição de palavras denota pobreza 
              lexical, mas o recurso a uma variante vocabular pode cair no preciosismo 
              e no rebuscamento desnecessários. É também 
              deselegante utilizar repetidamente a mesma construção 
              ou estrutura de frase.  
            e. Convém usar com parcimónia e bom 
              senso as siglas, abreviaturas e outros sinais convencionais, de 
              modo a não transformar a peça jornalística 
              num texto críptico ou charadístico. Cf. Siglas, 
              em Alfabeto do PÚBLICO. 
            f. Sempre que surjam novos termos traduzidos (ou que 
              se queira traduzir) é indispensável confirmar a correcção 
              do termo ou expressão empregues, recorrendo a dicionários 
              ou vocabulários específicos ou a especialistas na 
              matéria. Este cuidado é particularmente importante 
              em domínios em que não está ainda fixada uma 
              terminologia portuguesa e quando se tratar de títulos de 
              obras literárias, cinematográficas, científicas, 
              etc. 
              
            4. Correcção e elegância narrativa 
            a. O jornalismo assenta numa técnica apurada 
              de comunicação que não se confunde com a literatura, 
              mas que não prescinde do talento e da criatividade de quem 
              o exerce. O PÚBLICO estimula a afirmação e 
              o desenvolvimento do estilo próprio de cada um dos seus jornalistas 
              e colaboradores, no quadro dos preceitos gerais e das preocupações 
              aqui consagrados. 
            b. Originalidade, variedade e naturalidade são 
              atributos da escrita que se pretende ver nas páginas do PÚBLICO, 
              enriquecendo e diversificando a concretização do seu 
              estilo.  
            O estilo do PÚBLICO deve também marcar 
              a diferença pela inovação da escrita jornalística: 
              linguagem fácil, mas moderna, viva e coloquial, em que a 
              inventiva e a criatividade dos seus redactores assumem papel decisivo. 
              Pode-se e deve-se inovar, criar novas palavras e novas expressões, 
              em sintonia com a linguagem comum e o pulsar da língua na 
              sua constante renovação.  
            Mas a inobservância das regras ortográficas 
              e gramaticais, por um lado, e a disparidade de convenções 
              e códigos de escrita, por outro, prejudicam sempre a qualidade 
              de um estilo rigoroso e plural. E desacreditam um jornal e quem 
              nele escreve. 
             
              "Buzinão", a palavra inventada 
                nos acontecimentos à volta da portagem da Ponte 25 de Abril, 
                é um bom exemplo; como "pontemónio", que 
                tão bem expressava o pandemónio desses dias, causado 
                pelo protesto dos automobilistas. Ou o recurso a imagens fortes 
                que dêem mais colorido à ideia pretendida: "Pôs 
                a boca no trombone e..." "Artur Jorge esgotou a paciência 
                e virou a mesa..."  
             
            c. O bom gosto e um estilo apurado são incompatíveis 
              com erros gramaticais ou com o recurso a barbarismos, estereótipos, 
              expressões desadequadas ou de todo erradas. Em caso de dúvida, 
              consulte-se sempre o Alfabeto do PÚBLICO, um prontuário 
              ou os bons dicionários. Finda a redacção de 
              um texto, o seu autor deve lê-lo atentamente: a tarefa final 
              na elaboração de um texto inclui a sua revisão, 
              tendo como preocupações a pontuação, 
              a acentuação, as concordâncias e outras eventuais 
              imprecisões ortográficas  cuidado que não 
              pode ser transferido para o editor nem para o "copydesk". 
             
              
            5. Erros e vícios de linguagem mais frequentes 
             Erros sintácticos, de concordância, 
              de regência ou de colocação: 
            
               
                | Certo | 
                Errado | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | Faz muitos anos | 
                Fazem muitos anos | 
               
               
                 | 
                 | 
               
               
                | Poderá haver, houve festas | 
                Poderão haver, houveram festas | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | Os ministros do Trabalho e da Saúde | 
                Os ministros do Trabalho e Saúde | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | O Conselho de Ministros reuniu-se | 
                O Conselho de Ministros reuniu | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | Os preços aumentaram 50 por 
                  cento | 
                Os preços aumentaram em 50 
                  por cento | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | Recusa de, tentativa de | 
                Recusa em, tentativa em | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | Preferir a | 
                Preferir (mais) do que | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
             
              Erros de expressão ou de grafia: 
            
               
                | Certo | 
                Errado | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | acerca | 
                àcerca | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | alfinete de ama | 
                alfinete de dama | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | açoriano, cabo-verdiano | 
                açoreano, caboverdeano | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | bege | 
                beige, beje | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | com certeza | 
                concerteza | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | caem, roem, saem, traem | 
                caiem, roiem, saiem, traiem | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | definir, desequilíbrio | 
                defenir, desiquelíbrio | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | despender, dispêndio | 
                dispender, despêndio | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | (des)pretensioso | 
                (des)pretencioso | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | dignitário | 
                dignatário | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | emirados | 
                emiratos | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | infra-estrutura | 
                infraestrutura | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | maciço | 
                massivo, massiço | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | meteorologia | 
                metereologia | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | obcecado, obsessão | 
                obsecado, obcessão | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | organograma | 
                organigrama | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | a sida | 
                a SIDA | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | o síndrome, a síndroma | 
                o sindroma | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | paralisar | 
                paralizar | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | propor, compor, antepor | 
                propôr, compôr, antepôr | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | última hora | 
                última da hora | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
             
             Exemplos de erros comuns na formação 
              do feminino: governante/governanta; gigante/giganta. 
             Regências dos verbos, como "avisar" 
              (de, para, contra, sobre), "convencer" (de, de que), "prevenir" 
              (de, de que, contra). 
             Falta da acentuação em formas 
              verbais cujo pretérito perfeito do indicativo é obrigatoriamente 
              acentuado, para o distinguir do presente (compramos/comprámos; 
              falamos/falámos). 
             Escorregadelas em alguns verbos compostos e 
              irregulares: "intervir" formou-se a partir de "vir" 
              (e não de "ver"), por isso faz "intervim", 
              "intervieste" e "interveio", ou "intervi(n)do", 
              para nomear algumas das formas em que mais se tropeça. 
            Para "negociar" vale igualmente "negoceio" 
              e "negocio". 
             Abuso do verbo "dizer", que pode 
              ser substituído por: afirmar, aludir, afiançar, assinalar, 
              aventar, comunicar, confiar, confidenciar, considerar, declarar, 
              desabafar, elucidar, enfatizar, informar, manifestar, notar, observar, 
              pormenorizar, sublinhar. Têm, no entanto, sentidos diferentes 
              que convém respeitar. O mesmo acontece com "existir", 
              "haver", "ser", "ter" e "possuir". 
             Contracção errada em orações 
              infinitivas antecedidas de locuções como "a circunstância 
              de", "o facto de", "antes de", "apesar 
              de", "depois de": a preposição "de" 
              não se contrai com o artigo que se lhe segue ("apesar 
              de o contrato exigir..."). As duas primeiras são de 
              evitar, pois reduzem a clareza e complicam a frase. 
             Ambiguidade vocabular ou sintáctica: 
              por exemplo, palavras e frases de duplo sentido, acentuação 
              incorrecta, inversões forçadas, regências incorrectas, 
              intercaladas muito extensas, pontuação defeituosa. 
              "Aquele membro do Governo", "daquele país" 
              ou "este acusou aquele" são expressões confusas 
              e esteticamente empobrecedoras. 
             Confusão entre palavras com sentidos 
              diferentes e grafias semelhantes: a fim/afim; demais/de mais; demarcação/desmarcação; 
              descriminar/discriminar; descrição/discrição; 
              estrato/extracto; mandado/mandato; percursor/precursor; pode/pôde; 
              porque/por que; retratar/retractar; senão/se não; 
              etc. 
             Repetição desagradável 
              de fonemas no fim das palavras: "Neste momento tive um aumento 
              de vencimento." 
             Repetição de sílabas com 
              o mesmo som: "corpo poroso", "barco coberto de lona". 
             Expressões latinas deturpadas: 
            
               
                | Certo | 
                Errado | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | "a posteriori"/"a 
                  priori" | 
                à posteriori/à priori | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | inclusive/vide | 
                inclusivé/vidé | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | "lato sensu"/"strictu 
                  sensu" | 
                "latu senso"/"stricto 
                  senso" | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                | "statu"/"statu quo" | 
                "status"/"status quo" 
                 | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
               
                |   | 
                  | 
               
             
             Palavras e expressões impróprias, 
              gastas ou desajustadas. Alguns exemplos agrupados por "categorias 
              de erro": 
            
              Interferência de línguas estrangeiras: 
                desde Londres/Paris (correcto: de Londres/Paris); debutar (estrear-se); 
                detalhe (pormenor); implementar (aplicar, concretizar, adoptar, 
                executar); ter lugar (realizar-se); deixar cair (abandonar, desistir 
                de); vir de (acabar de); sponzorização (patrocínio). 
              Redundâncias: ambos os dois; consenso geral; 
                testemunha presencial; todos são unânimes. 
              Expressões feitas ou palavras a evitar: 
                doença incurável/prolongada; escuro como breu; infausto 
                acontecimento; mar de gente; precioso líquido; primar pela 
                ausência; rigoroso inquérito; tenra idade; fazer 
                espírito (gracejar); entrementes, no entretanto (entretanto); 
                agentes da ordem; altas personalidades; amplexo (abraço); 
                assaz; basto; quiçá. 
              Em desuso: mui; quasi. 
              Errado: implausível; asseguradamente; 
                destabilizar (desestabilizar). 
             
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