ÍNDICE
  Prefácio
  Apresentação
  Guia de leitura
 
  PARTE I
  Introdução
 
  Ética e deontologia
  Estatuto editorial
  Princípios e normas de   conduta profissional
  Informar sem manipular,
  difamar ou intoxicar
  Privacidade
  e responsabilidade
  Seriedade e credibilidade
  O jornalista não é
  um mensageiro
 
  Critérios, géneros
  e técnicas
  Os factos e a opinião
  Regras de construção
  O rigor da escrita
  A fotografia
  A publicidade
 
  PARTE II
  Alfabeto do PÚBLICO
  Palavras, expressões e   conceitos
  A B C D E F G H I J K L M N
  O P Q R S T U V W X Y Z
 
  Normas e nomenclaturas
  Acentuação
  Verbos
  Maiúsculas & minúsculas
  Topónimos estrangeiros
  Siglas
  Factores de conversão
  Hierarquias (militares e   policiais)
  Religiões
 
  ANEXOS
  Fichas da lei
  Projecto PÚBLICO
  na Escola
  Regulamento do Conselho de
  Redacção do PÚBLICO
  Estatuto do Provedor
  do Leitor do PÚBLICO
  Código Deontológico
  do Jornalista
 
  


Verbos

Em linguagem jornalística deve dar-se preferência a verbos no modo indicativo, na voz activa e nas formas simples e afirmativas, para um estilo claro e preciso — as formas condicionais, os tempos compostos, as passivas e as conjugações perifrásticas ou negativas dificultam a compreensão rápida por parte do leitor.

Dadas as muitas particularidades da flexão dos verbos em português, é aconselhável a consulta de um dicionário de verbos conjugados sempre que se levantem dúvidas. Não obstante, em vista das dúvidas ou erros que mais vezes ocorrem, seguem-se algumas notas sobre questões de acentuação, concordâncias, particípios passados duplos e uma série de apontamentos avulsos.


Acentuação

As regras de acentuação aplicam-se às formas verbais como a todos os outros vocábulos do português. Há que não esquecer que se dividem na mesma em agudas, graves ou esdrúxulas. Por exemplo, sempre que constituam palavras esdrúxulas, cuja regra não tem excepção, têm de levar o devido acento. Com os verbos, entre formas de tempos diferentes ou em relação a vocábulos de outras categorias, serve a acentuação para distinguir homógrafas. Assim como não raro se coloca o acento para desfazer o ditongo. Como as regras gerais estão explicadas em Acentuação, pág. 275, aqui chama-se simplesmente a atenção para formas a acentuar (ou não) que servirão de exemplo das milhentas ocorrências.

Comprá-lo — Dif. de compra-lo. Como dizê-las, repô-lo, fá-lo-emos, percebê-lo-ás, noticiá-lo-ia.

Quisésseis, comêsseis, tínheis, faríeis — São palavras graves terminadas em -eis.

Tem, tens; vem, vens — Não acentuadas.

Contém, conténs; retém, reténs ; convém, convéns — Porque -em é tónico e têm mais de uma sílaba, ao passo que em trazem, conhecem, vissem, dissessem, puserem, a terminação -em é átona.

Têm, contêm, retêm.

Vêm, convêm.

Crer: crê, crêem. Dar: dê, dêem. Ler: lê, lêem. Ver: vê, vêem.

Põe, pões, põem; dispõe, repões, supõem.

Caí, doía, esvaía, fluíste, ajuízara, ruíram, distraí-te, atribuí-o — Para desfazer o ditongo. Mas: retraia, saia; contribuirdes, remoinharam (não faz ditongo).

Saiu, atraiu, afluiu, contribuiu, redarguiu.

Averigúe(s), mas abrigue(s); argúi(s), mas redargui(s); obliqúe(s), mas verifique(s); delinqúi(s), mas retorqui(s).

Falamos-falámos, cantamos-cantámos.

Demos [ê] e démos.

Pode e pôde.

Anui-anuí; influi, influí; contribui-contribuí.

Outros casos: para mim, pára aí; péla as amêndoas, vai pela sombra; vem pôr o chapéu, por favor.

Pôr — É acentuado, mas nenhum dos seus compostos o é: antepor, compor, depor, dispor, repor, supor.

A 1ª pessoa do plural (nós), nos pret. imp. e mais-que-perf. do ind., no pret. imperf. do conj. e no condicional, é invariavelmente esdrúxula — e, portanto, acentuada: éramos, estivéramos, tivéssemos, haveríamos; falávamos, comêramos, dormíssemos, poríamos.

Enjoo, doo (de doar), roo (de roer).

Fora [ô], tanto do verbo ser como do ir, e fora [ò] só se distinguem no contexto da frase: Saiu porta fora; Não fora ele andar por perto, ninguém lhe teria valido.

For não é acentuada, ao contrário de pôr, que tem de se distinguir de da prep. "por".

Subst./adject. esdrúxulos — formas verbais: anúncio-anuncio; cópia-copia; débito-debito; dívida-divida; estímulo-estimulo; fórmula-formula; hábito-habito; injúria-injuria; lástima-lastima; ludíbrio-ludibrio; mágoa-magoa; notícia-noticia; número-numero; página-pagina; prática-pratica; récita-recita; renúncia-renuncia; trânsito-transito; último-ultimo; vício-vicio.

= existe; muito dif. de à (prep.+art.)

Poder e puder

Soube, mas pôde.


Concordâncias

O verbo concorda em princípio com o sujeito, mas também com o predicativo do sujeito, com verbos como ser, estar e parecer. Seguem-se alguns casos que suscitam mais dúvidas ou originam mais erros.

A concordância dos verbos com o sujeito é determinada em muitos casos, numa aparente irregularidade, ou pela dominância do elemento mais próximo ou por se dar mais ênfase a um dos elementos da frase.

Assim, por exemplo, numa frase com um sujeito composto, se há inversão de sujeito e predicado, a concordância faz-se espontaneamente com o mais próximo. Ex.: Chegou tarde o professor e o aluno.

Em frases com alternativas — ou… ou…; nem… nem… —, usa-se o singular se a acção de um dos sujeitos exclui o outro e o plural se abarca ambos. Ex.: Ou o pai ou o filho será nomeado para o cargo, mas nem um nem o outro parecem interessados nisso.

Quem e que a introduzir uma frase determinam concordâncias diferentes. Ex.: Fui eu quem chegou primeiro, não foste tu que chegaste primeiro; ou: Fui eu que cheguei primeiro, não foste tu quem chegou primeiroquem + 3ª pess. sing.; que + verbo a concordar com o antecedente do que.

A expressão (um) dos que é seguida de plural. Ex.: Foi um investigador incansável e um dos que mais contribuíram para o avanço da ciência; Ele é dos que gostam da vida bucólica. A influência da ênfase na determinação até de uma irregularidade é muito clara em frases deste tipo com ser na 1ª pess. sing., eu sou, e conforme se trate de afirmativa ou negativa. Ex.: Eu sou dos que mais trabalho (a mensagem essencial é "eu trabalho"); Não sou dos que protestam por tudo e por nada (se não protesto, não uso o verbo na 1ª pessoa).

Com expressões como o grosso de, o resto de, (a maior) parte de, a maioria de (seguido de subst. pl.), o verbo irá no singular, mas também pode ir no plural, recaindo a ênfase mais no conjunto ou mais nos elementos que o compõem. Ex.: Um grupo de ciclistas fugiu/fugiram do pelotão; O resto das pessoas perderam-se quando escureceu. O mesmo se dá com os subst. colectivos quando se especifica de quê. Ex.: Um bando de gaivotas sobrevoava os barcos de pesca; Uma matilha de cães vadios viraram os caixotes em busca de alimento.

A seguir às expressões cerca de, mais de/que, menos de/que, o verbo vai no plural. Ex.: Cerca de/mais de/menos de uma vintena quiseram continuar. Curioso é que com mais de um se usa quase sempre o singular. Ex.: Mais de um desistiu a meio. E com menos de dois (que não é bem um…) se mantém o plural. Ex.: Procurei em todos os jornais desde há um mês e faltam-me menos de dois.

N.B. — Há ou havia, no sentido de existir, e os compostos, como teria havido ou podia haver, bem como trata-se de ou tratava-se de são sempre usados no singular.


Particípios passados duplos

Em geral, um é regular, formado sobre o verbo em português e o outro é irregular, ou melhor, formou-se directamente do latim ou é uma forma contraída do primeiro — prendido, preso; expulsado, expulso. Também por regra se considera que a forma regular se utiliza com os auxiliares ter e haver e a irregular com ser e estar, bem como com ficar, andar, ir, vir — aceitado, aceite. Nada disto, porém, será muito taxativo, porque as excepções são mais que muitas. Acresce que grande parte dos ditos irregulares são antes adjectivos, pois nem se utilizam na passiva, com o aux. ser, mas apenas nas frases com estar, ficar, etc. — absorvido, absorto; convencido, convicto —, ou nem isso e são meros adjectivos formados de facto de um remoto particípio do verbo — abstracto, nato, surto. Eis uma listagem distinguindo o seu uso mais corrente:

 

ter, haver ser estar/ficar adj./subst.
abrir aberto
abstrair abstraído abstracto
aceitar aceitado aceite
acender acendido aceso
afligir afligido aflito
assentar assentado assente
atender atendido atento
cativar cativado cativo
cobrir cobrido coberto
completar completado completo
confundir confundido confuso
convencer convencido convicto
corrigir corrigido correcto
corromper corrompido corrupto
descalçar descalçado descalço
dispersar dispersado disperso
eleger elegido eleito
empregar empregado (empregue)
encarregar encarregado (encarregue)
entregar entregado entregue
enxugar enxugado enxuto
envolver envolvido envolto
escrever escrito
expressar expressado expresso
exprimir exprimido expresso
expulsar expulsado expulso
extinguir extinguido extinto
fartar fartado farto
findar findado findo
fixar fixado fixo
ganhar ganhado ganho
gastar gastado gasto
imprimir imprimido impresso
incluir incluído incluso
infectar infectado infecto
inquietar inquietado inquieto
isentar isentado isento
inserir inserido inserto
juntar juntado junto
libertar libertado (livre) liberto
limpar limpado limpo
manifestar manifestado manifesto
matar matado morto
morrer morrido morto
murchar murchado murcho
nascer nascido nato
ocultar ocultado oculto
omitir omitido omisso
oprimir oprimido opresso
pagar pago
perverter pervertido perverso
prender prendido preso
pretender pretendido pretenso
repelir repelido repulso
restringir restringido restrito
revolver revolvido revolto
romper rompido roto
salvar salvado salvo
secar secado seco
segurar segurado seguro
situar situado sito
soltar soltado solto
submeter submetido submisso
submergir submergido submerso
sujeitar sujeitado sujeito
surgir surgido surto
surpreender surpreendido surpreso
suspeitar suspeitado suspeito
suspender suspendido suspenso
tingir tingido tinto
torcer torcido torto
vagar vagado vago

 

Notas diversas

Caem — do verbo cair; como saem, de sair; doem, de doer, ou roem, de roer. O som i que muitos pronunciam, como em "vou à(i) água", é um desvio na fala, que apenas se regista na escrita se for para salientar a característica da pronúncia.

Compostos — Recomenda-se atenção aos compostos a partir de verbos irregulares, que têm algumas formas "traiçoeiras" — intervir faz interveio, porque vem de vir e não de ver, ambos irregulares, de resto. Já requerer derivou de querer, mas conjuga-se de forma regular, por exemplo, requeri, requereste, requereu. Também se tropeça nos compostos de ter: ater, conter, deter, entreter, obter, suster.

Condicional — É um tempo verbal a usar com parcimónia, pois foge à precisão desejável num texto jornalístico. Eis um mau exemplo: De acordo com uma informação divulgada na Rádio Macau, teria sido o Governo de Lisboa que teria montado uma manobra de informação para divulgar as acusações de que Carlos Melancia teria recebido 50 mil contos. (...) [Carlos Melancia] negou a autenticidade da carta, cuja assinatura seria falsa, e também que ela tivesse dado entrada (...).

De que — Tal como aponta a construção, agora tão conhecida, "Penso eu de que", abusa-se desta regência. Pensar, dizer, afirmar e todos os outros verbos que explicitam formas de dizer não são regidos pela preposição de. É certo que se "tem provas de…", mas é porque se "pode provar que…".

Discurso indirecto — Há regras muito precisas para a passagem do discurso directo ao indirecto e os verbos, em princípio são sempre alterados, porque mesmo nos casos em que se mantenha o presente, mudam as pessoas do sujeito. Ex.: Não vou. — Diz que não vai. Se o discurso indirecto for introduzido com um tempo passado, então entra em jogo uma série de correspondências entre os tempos do disc. directo e os do indirecto. Ex.: Não sei se estará bom tempo. Se hoje não chover, mais logo vou fazer umas compras perto de tua casa. — Disse que não sabia se estaria bom tempo e que, se, ontem/naquele dia, não chovesse, mais tarde ia/vinha fazer umas compras perto de minha casa. N.B. — No discurso indirecto, em princípio, não se usa a primeira pessoa como sujeito.

Ensimesmar-se — Este verbo tem a particularidade de uma dupla flexão pronominal reflexa, conjugando-se mesmar-se antecedido da flexão de em+pron. pess. complem.: emmimmesmo-me, entimesmas-te, ensimesma-se, ennosmesmamo-nos, envosmesmais-vos, ensimesmam-se. O particípio passado varia segundo a mesma regra: fiquei emmimmesmado, ficaste entimesmado, ficou ensimesmado

For — Forma do verbo ser e do verbo ir. Nem num caso nem no outro é acentuada.

Fora — A forma dos verbos ser e ir não é acentuada e só no contexto da frase se distingue do advérbio fora, relativo a exterior.

Haver — No sentido de existir é impessoal e sempre no singular. Ex.: que tempos não te via! Havia muitos livros para arrumar. Mesmo nos tempos compostos. Ex.: Tem havido vários mal-entendidos; Pode ter havido factos que desconheces.

Informar — Informa-se alguém de alguma coisa ou de que… Ex.: Informou os passageiros de que o avião estava atrasado — informou-os do atraso. Mas, quando não está presente o compl. ind., pode-se suprimir o de. Ex.: Já informaram que o avião está atrasado.

Intervir — Composto do verbo vir, conjuga-se da mesma maneira: intervenho, intervinha, intervim, intervieste, interveio, intervindo (ou intervido) são alguns casos de formas que, às vezes, "saem" mal.

Pôr — Os compostos antepor, apor, compor, contrapor, depor, dispor, expor, impor, pospor, prepor, propor, repor, supor, transpor não levam "chapelinho".

Quis — Mas diz e fiz: quando um verbo não tem z no infinito, não o tem em nenhum outro tempo.

Reaver — Composto de haver, só se conjuga nas formas em que haver tem v, por isso, no pres. do ind., só tem reavemos e reaveis e não tem presente do conjuntivo.

Regências — Os verbos em português têm inúmeras mudanças de sentido através da simples alteração das preposições que os regem. Encontram-se listas bastante desenvolvidas nos dicionários de verbos conjugados ou mesmo dedicados apenas às regências.

Verbos defectivos — São os que não se conjugam em todas as formas verbais, em geral devido à pronúncia que assumiriam. As formas inexistentes costumam ser substituídas por outro verbo — acautelar-se, em vez de precaver-se, p. ex. — ou por uma construção perifrástica em que o auxiliar é que é conjugado. Alguns exemplos: abolir, aturdir, banir, brandir, colorir, demolir, entre outros, agrupam-se pelas mesmas limitações; comedir-se, falir, foragir-se, punir, remir e outros pertencem a outro grupo; e há uns quantos com maior especificidade: adequar e antiquar; transir, de que só existe a forma transido; reaver; precaver-se; concernir e outros.

 

   
   
 
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