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Natividade, ícone da escola de Pskov, séc. XVI |
Teofania
Para os ortodoxos, o Natal não é uma festa com a importância que ganhou no mundo católico. A Páscoa tem, entre os cristãos da ortodoxia, a primazia. Depois desta, aparece a Teofania, ou manifestação de Deus. Há notícias de que esta era teria tido origem em Roma, celebrando diversos acontecimentos relatados nos evangelhos: a adoração dos magos, o baptismo de Jesus por João Baptista e as bodas de Caná, onde Cristo teria realizado o que seria considerado o seu primeiro milagre (nos textos bíblicos, o significado da palavra remete para a noção de sinal da sua divindade).
Em 380, já há referências de que as festas da Teofania teriam chegado a Constantinopla, por acção de S. Gregório o Teólogo. Agora, o Advento é, no mundo ortodoxo, um tempo de purificação, um pouco à semelhança da Quaresma, o período de 40 dias que antecede a Páscoa. Por isso, as quatro semanas que antecedem o Natal são também um tempo de jejum à carne e ao peixe. A festa do nascimento de Jesus é encarada principalmente como uma antecipação da Páscoa.
Hoje, no entanto, dia de S. Nicolau no calendário juliano (ainda usado na Europa Oriental, sobretudo pela Igreja Ortodoxa), haverá como que uma pequena pausa no jejum. Os crentes podem beber vinho e comer aves, e fazem uma refeição comunitária mais festiva.
Em Portugal, a festa, tendo em conta que hoje é dia de trabalho, foi assinalada ontem por muitos ortodoxos – sobretudo os mais de 70 mil ucranianos, russos, arménios, georgianos, arménios, romenos, búlgaros e de outras nacionalidades, que imigraram dos países do Leste europeu. Em regiões como Lisboa, Porto, Aveiro, Portimão, juntaramse comunidades de cristãos ortodoxos a festejar S. Nicolau, uma das figuras importantes do seu calendário, cuja história foi aqui contada no passado dia 6.
Mas porquê tal diferença? Foi o Papa Gregório XIII que, em Outubro de 1582, decidiu acertar o passo dos dias com o sol: a contagem do tempo do calendário juliano [designação tomada do imperador romano Júlio César] deixava de fora alguns segundos por ano. A soma desses segundos totalizava então, em relação à rotação do sol, dias completos. Com a ajuda dos estudos de um astrónomo jesuíta, Gregório XIII decidiu anular 14 dias perdidos, saltandoos no calendário.
No Natal, que os ortodoxos festejam daqui a quase três semanas, a liturgia será solene, mas a festa não assume a proporção que adquiriu no Ocidente. Uma das orações da Igreja Ortodoxa para este dia diz: “A Virgem hoje dá à luz Aquele que está acima de toda a essência e a terra oferece uma gruta Àquele que é inacessível. Os anjos e os pastores glorificam-no. Os magos caminham seguindo a estrela. Por nós nasceu o Menino Deus que existe antes de todos os séculos.”
O Natal traduz, assim, o amor que Deus Pai tem pela humanidade e se manifesta através de Jesus, por meio do Espírito Santo. Depois do Natal, a Teofania ou Epifania serão as grandes festas litúrgicas para os ortodoxos, assinalando a manifestação de Jesus aos magos – que simbolizam toda a humanidade.
No seu Prado Espiritual (designação da literatura ascética para uma colecção de ditos e narrações edificantes), Aleksej Remizov (1877- 1957) escreve: “Os que dormiam despertaram do sonho e a luz encheu as suas almas./ Aguardavam algo, esperavam./ Acreditavam e não ousavam crer./ Mas o coração cantava./ O espírito fervia./ Reuniam- se nas praças e olhavam para o longínquo…/ E os olhos voltavam a colher vida, voltavam a florescer como flores regadas.”
A FOTO DO DIA
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Todos os dias, neste espaço, é publicada a foto escolhida no âmbito da iniciativa Grande Fotografia de Natal, promovida pelo Millennium BCP. Dia 26, serão publicadas as 3 grandes vencedoras.
O regulamento pode ser consultado aqui ou em www.millenniumbcp.pt. |
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Fotografia: Rui Manuel Silva Flórido Gonçalves
Data: 11 de Dezembro de 2005 |
POEMA DE NATAL
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Poema escolhido
por Vasco Graça Moura
e incluído no livro Natal... Natais
– Oito Séculos de Poesia
sobre o Natal, por ele compilado,
a editar pelo PÚBLICO
no próximo dia 14 de Dezembro
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Natal
Inverno lactescente, adormecido
Querer, noite encantada.
Já não sinto, porém, aquele amor,
Nem a vida sonhada.
Tudo se foi, pouco nos resta,
Ilhas não há. Montanhas só no espírito
Se elevam, distantes e coroadas
Pela solidão.
No muro da minha alma há uma fresta.
Por ela entra o vento e a multidão
Das vozes e dos signos.
Quando a certeza chega, o coração
Lança de si os trajes mais indignos
E entra, sorrindo, na festa.
RUI CINATTI |
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