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Federico Zuccari, A Imaculada Conceição (séc.
XVI), Santuário Madonna delle Grazie, Pesaro |
“Os primeiros cristãos devem ter
sentido o que há de espantoso nesta
afirmação: Deus, o absoluto e o eterno,
escolheu uma criatura e ama-a
como sua mãe. Por isso chamaram
a Maria Mãe de Deus.”
(Padre João Resina Rodrigues,
A Palavra no Tempo, ed. Multinova)
Imaculada
Imaculada Conceição? Dita
assim, a expressão
aparecerá estranha
a muita gente.
O dogma católico, formulado
há 151 anos (em
1854), sob o pontificado do
Papa Pio IX, afirma que
Maria, mãe de Jesus, não
conheceu o mal.
A definição dogmática
remete para a noção de
pecado original. De acordo
com este enunciado
(aprofundado por Santo
Agostinho no meio de
polémicas teológicas do
século IV), desde a criação
do mundo que cada
pessoa, quando nasce,
está em pecado.
Com a formulação do
dogma da Imaculada, a
Igreja atribui à mãe de
Jesus uma espécie de “imunidade absoluta”
em relação ao mal, como
se escreve na enciclopédia
católica Théo. Mas
esta proposição doutrinal mais não faz que
formalizar uma tradição
que, no mundo católico
e ortodoxo, existia já
desde há muitos séculos.
Ao contrário do que
acontece entre as Igrejas
protestantes, que não veneram
a figura da mãe de Jesus
da mesma maneira que católicos
e ortodoxos.
“Durante muito tempo, as Igrejas
protestantes minimizaram ou
ignoraram a figura de Maria”,
escreve João Resina Rodrigues
na obra acima citada. “A ideia
era concentrar toda a atenção em
Cristo e também contrariar alguns
exageros da devoção católica. Hoje,
temos todos uma teologia mais
serena, Não ignoramos (de resto,
nunca ignorámos) que só Jesus
Cristo é salvador.”
No mundo ortodoxo, a mãe
de Jesus é designada muitas
vezes como “plenamente santa”
e como “Theotokos”, ou mãe de
Deus — embora nenhuma destas
designações tenha sido elevada à
categoria dogmática. Ambas se
fundam, entretanto, na saudação
que, segundo o relato bíblico, o
anjo lhe fez, ao anunciar-lhe o
nascimento de Jesus: “Salvé, ó
cheia de graça!”
A doutrina tradicional colocava,
mesmo antes de ser adoptada como
dogma, problemas teológicos:
como é que o salvador pode nascer
de alguém que já está salvo? Para
tentar resolver o problema, o teólogo
católico escocês John Duns
Scott, do século XVIII, formulou
então o que ele chamou “redenção
antecipada”.
Foi esse argumento que levou
o Papa Pio IX, depois de
ter consultado os bispos
de todo o mundo, a
declarar o dogma. Mas
esta decisão também
tinha outros objectivos,
mesmo se implícitos: era
uma forma de o papado
afirmar a sua autoridade
contra o liberalismo
e anticlericalismo do
século XIX. Ao mesmo
tempo, antecipava o
terreno para a proclamação
de outro dogma que
protestantes e ortodoxos
também não partilham:
o da infalibilidade pontifícia,
declarado em 1870,
no Concílio Vaticano I.
Apenas quatro anos
depois da proclamação
de Pio IX, o dogma como
que foi confirmado. Em
Lourdes, a 25 de Março
de 1858, a jovem Bernadette
Soubirous contou
ter visto uma figura de
mulher a aparecer-lhe
numa gruta. Em resposta à pergunta sobre a identidade
da aparição, esta
respondeu, no dialecto
local dos Pirenéus: “Que
soy era Immaculada Councepciou!”
O mesmo padre João
Resina escreve: “O dogma da
Imaculada (…) convida-nos
a aceitar que a santidade é o
encontro do dom de Deus com
o dom da criatura. Ninguém é
santo sem o dom de Deus, o dom
de Deus não prescinde da liberdade
humana.” ■
A FOTO DO DIA
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Todos os dias, neste espaço, é publicada a foto escolhida no âmbito da iniciativa Grande Fotografia de Natal, promovida pelo Millennium BCP. Dia 26, serão publicadas as 3 grandes vencedoras.
O regulamento pode ser consultado aqui ou em www.millenniumbcp.pt.
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Fotografia: Wilson Ferreira Antunes Infante Lacerda Garin Scarpa
Data: 30 de Novembro de 2005 |
POEMA DE NATAL
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Poema escolhido
por Vasco Graça Moura
e incluído no livro Natal... Natais
– Oito Séculos de Poesia
sobre o Natal, por ele compilado,
a editar pelo PÚBLICO
no próximo dia 14 de Dezembro
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O meu Natal (excerto)
A noite de Natal. Em meu paiz, agora,
O que não vae até romper o dia, a aurora!
As mezas de jantar na cidade e na aldeia,
A’ luz das velas, ou á luz d’uma candeia,
Entre rizadas de creanças e crystaes
(De que me chegam até mim só ais, só ais),
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
Pondo de parte odios, torturas, afflicções,
Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
São todas em redor duma toalha de linho!
ANTÓNIO NOBRE |
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