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Sonho de S. José, retábulo do início do séc. XV, Catedral Velha de Salamanca |
Senhora do Ó
Iniciam-se hoje, na liturgia católica, as Antífonas do Ó. São pequenas orações que, nos nove dias até ao Natal, invocam Jesus Cristo como sabedoria de Deus, redentor, libertador e salvador da humanidade. As antífonas adensam, aumentam, a expectativa de um Deus que vai nascer. E celebram-no através de metáforas: “Ó sabedoria do altíssimo”, “Ó chefe da casa de Israel”, “Ó chave da casa de David”, “Ó sol nascente e sol da justiça.”
Cada metáfora regista um dos tons do Advento: a expectativa, a esperança, a alegria, a salvação aguardada. Dimensões que marcaram a história judaica (narrada no Antigo Testamento) e que marcam o cristianismo a partir do nascimento de Jesus.
Cristo é, para os cristãos, Deus que se faz homem e a celebração desse mistério — a encarnação divina sob forma humana — é preparada durante o tempo de Advento. “A Bíblia está repassada por um movimento de esperança, no sentido único dum Messias-Salvador, que veio na pessoa de Jesus de Nazaré, chamado o Cristo”, escreve frei Lopes Morgado, franciscano capuchinho (Roteiro de Natal, ed. Difusora Bíblica).
A expectativa é celebrada também sob forma física: tradicionalmente, o dia de amanhã marca, no calendário litúrgico católico, a Expectação de Nossa Senhora. Festa de origem espanhola, ela foi inspirada precisamente nas Antífonas do Ó, o que deu origem à designação popular da Senhora do Ó — que passou também a referir-se à gravidez de Maria de Nazaré.
Foi no século VI, no décimo concílio de Toledo, que se começou a falar desta festa, rapidamente alargada para regiões além-Pirenéus. A gravidez, tempo de esperanças, é também uma marca do Advento.
É na boca dessa Maria, já de esperanças, que o evangelista Lucas coloca um dos mais belos hinos dos textos dos evangelhos, o Magnificat. Maria sabe que sua prima Isabel também engravidara, para ser mãe de João Baptista e vai ter com ela.
Respondendo à saudação de Isabel, Maria adapta outros textos bíblicos do Antigo Testamento, recorda os mais importantes factos da história judaica e faz “também uma meditação lírica” sobre aquilo que lhe acaba de acontecer, escreve Jean-Paul Michaud (Maria nos Evangelhos, ed. Difusora Bíblica).
Surge o Magnificat, hino que celebra a misericórdia de Deus e a opção divina em favor dos mais pobres: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.” (Evangelho de Lucas 1, 46-56)
A FOTO DO DIA
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Todos os dias, neste espaço, é publicada a foto escolhida no âmbito da iniciativa Grande Fotografia de Natal, promovida pelo Millennium BCP. Dia 26, serão publicadas as 3 grandes vencedoras.
O regulamento pode ser consultado aqui ou em www.millenniumbcp.pt. |
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Fotografia: Marco António Palma Calado
Data: 9 Dezembro 2005 |
POEMA DE NATAL
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Poema escolhido
por Vasco Graça Moura
e incluído no livro Natal... Natais
– Oito Séculos de Poesia
sobre o Natal, por ele compilado,
a editar pelo PÚBLICO
no próximo dia 14 de Dezembro
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Noite de Natal
Como esse mar onde mal chega o rio,
Como esse pio onde mal sopra o vento,
Aqui me tens, negando o lume e o frio,
cego e surdo ao próprio pensamento.
Como esse mar onde mal chega o rio,
Como esse poço onde mal sopra o vento.
Não haveria quem sonhe à minha beira
E, ao menos, longe em longe me sorria?
Às vezes cuido que no terra inteira,
Já ninguém sente regressar o dia.
Não haveria quem sonhe à minha beira
E, ao menos, longe em longe me sorria?
Areia. Pó. Um charco e uma parede,
Tudo confundo: a sombra, o medo, a luz.
Nem lágrimas. Porquê? Morro de sede.
É esta a noite,
— E vai nascer Jesus
PEDRO HOMEM DE MELO |
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