Basílica de Santo Ambrósio, Milão |
Santo Ambrósio, baixo-relevo
do século XI |
“Ambrósio, famoso entre os
melhores em toda a terra, teu
devoto adorador, cujos discursos
naquele tempo distribuíam
ao teu povo zelosamente a flor
do trigo, e a alegria do azeite, e a
sóbria ebriedade do vinho.”
(Santo Agostinho, Confissões,
Livro V, XIII, 23)
Ambrósio
Conta a lenda que terá
sido uma criança a
gritar: “Ambrósio
bispo!” Milão vive
tempos conturbados, no Outono
de 374 (ou de 373), após
a morte do bispo Auxêncio. O
então cônsul Ambrósio preocupa-se com a possibilidade
de conflitos. Contra o uso
da época, em que os bispos
são escolhidos pelos
cristãos de cada cidade,
Auxêncio tinha sido escolhido
e imposto, duas
décadas antes, pelo
imperador. Mas o bispo
aderira ao arianismo, a
corrente que contestava
que Cristo fosse Deus.
Com isso, provocara divisões
entre os cristãos
da cidade.
Estes reúnem-se na
catedral para escolher o
sucessor do bispo ariano.
Por precaução, Ambrósio
intervém entre os
partidários de Auxêncio
e de Dionísio, o anterior
bispo. É então que alguém
grita “Ambrósio
bispo!” Rapidamente os dois
grupos o aclamam, vendo no
cônsul alguém capaz de pacificar
as tensões existentes.
O governador, então na casa
dos 40 anos, tenta resistir ao
voto: nem sequer é baptizado,
embora tenha recebido uma
educação cristã no seio da
família e tenha a irmã mais
velha, Marcelina, consagrada à vida religiosa. Acaba por
ceder, convencido que o povo
falara por Deus. Pede para ser
baptizado e só dias depois é
consagrado bispo.
Ambrósio nasce provavelmente
em Trier (no actual
Oeste da Alemanha, próximo
do Luxemburgo), entre 334 e
340. O pai era um funcionário
importante do império na
Gália. O futuro bispo de Milão
passa por Roma, onde estuda
retórica, latim e grego, além
de direito e música. Após vários
cargos como funcionário
administrativo, é nomeado, em
370, como cônsul da região de
Emilia Liguria.
Quando é escolhido para bispo,
oferece os seus bens à Igreja
e inicia estudos de teologia com
Simpliciano, que mais tarde
lhe sucederá no lugar. Como
gesto de reconciliação, chama
para colaboradores mais próximos
membros do clero que
tinham sido ordenados por
Auxêncio.
Ambrósio irá destacar-se
rapidamente pela proximidade
com que exerce o seu cargo,
pelos muitos textos que dirige
aos cristãos, pelos hinos litúrgicos
que compõe, por propor
uma forma de cantar os salmos
com ritmo alternado – que se
mantém até hoje. Entre os
seus 37 títulos, estão discursos
e homilias, obras sobre a
Bíblia, moral e dogmática, comentários
a escritores gregos
cristãos (Orígenes, Basílio) ou
a autores clássicos (Virgílio,
Cícero, Flávio José). Erasmo
definirá o seu estilo como
inimitável.
Nos seus escritos, Ambrósio
condena as profundas desigualdades
sociais, defendendo a
posse comum dos bens e o seu
usufruto privado; e afirma,
num contexto de polémicas, a
doutrina do pecado original,
depois aprofundada
por Agostinho – que,
quando se convertera,
pedira a Ambrósio para
o catequizar e baptizar, o
que acontece em 387.
O bispo afirma ainda
a autonomia de ambos
os poderes, nas relações
entre Igreja e Estado, e
a colaboração em matérias
de interesse comum,
além da supremacia da
lei moral. Na época,
começa a afirmar-se o
poder do Imperador sobre
a nova religião. Em
390, o bispo fará mesmo
com que o imperador
Teodósio peça perdão
público por uma carnificina
por si ordenada
em Tessalonica.
Ambrósio, cuja festa é hoje
assinalada na liturgia católica,
morre a 4 de Abril de 397.
Num dos seus hinos, escrevera: “Ó Deus, criador de todas
as coisas,/ tu que governas o
firmamento, vestindo/ o dia,
com a luz formosa,/ a noite,
com a graça do sono,// para
que, aos membros em repouso,
o descanso/ os devolva ao
exercício do trabalho,/ e alivie
as almas cansadas,/ e liberte da
mágoa os que estão tristes.”
A FOTO DO DIA
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Todos os dias, neste espaço, é publicada a foto escolhida no âmbito da iniciativa Grande Fotografia de Natal, promovida pelo Millennium BCP. Dia 26, serão publicadas as 3 grandes vencedoras.
O regulamento pode ser consultado aqui ou em www.millenniumbcp.pt.
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Fotografia: Ana Filipa Infante Lacerda Garin Scarpa
Data: 29 de Novembro de 2005 |
POEMA DE NATAL
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Poema escolhido
por Vasco Graça Moura
e incluído no livro Natal... Natais
– Oito Séculos de Poesia
sobre o Natal, por ele compilado,
a editar pelo PÚBLICO
no próximo dia 14 de Dezembro
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O Natal em Londres
QUE Natal este! — Sempre sois herejes,
Meus amigos inglezes.
Bem haja o santo padre e a sua bulla
De fulminante anathema,
Que excommungou estes ilhéos descridos!
Oh! nunca a mão lhe dôa.
Vêr na minha catholica Lisboa
As festas de tal noite!
Sinos a repicar, moças aos bandos
C’a bem-trajada capa,
E o alvo-teto lenço em côca airosa,
D’onde um par de olhos negros
Dão as boas festas ao vivaz desejo
Do tafulo devoto
Que embuçado accudiu no seu capote
A’ pactuada egreja!
Natal da minha terra, que lembranças
Saudosas e devotas
Tenho de tuas festas tam gulosas,
E de teus dias santos
De sarmatas manjares!...
Olhem estas pequenas... são bonitas;
Mas que importa que o sejam
Se das Graças donosas praguejadas,
Rusticas e selvagens,
Nem dança airosa, nem alegre jogo
De divertidas prendas
Arranjar sabem, e passar o tempo
Em honesto folguedo!
Jogar um whist morno e taciturno
Sentar-se em mona roda
Junto ao fogão, fazer um detestável
Chá preto e fedorento,
Sem ár, sem graça... — Oh madre natureza,
Quanto mal empregaste
A formosura, o mimo, as lindas cores
Que a taes estátuas déste!
Londres — Dezembro, 1823
ALMEIDA GARRETT
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