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Leonardo da vinci, santa ana, a virgem, o menino e são joão, c. 1498 (museu do louvre) |
“Uma voz clama no deserto: Preparai
o caminho do Senhor, endireitai as
suas veredas.”
(Profecia de Isaías 40, 3)
João Baptista
O cenário: um rio, deserto à volta. Um homem austero, muito austero. Multidões procuram-no, para o ouvir. Mas a mensagem deste profeta judeu não é meiga: João Baptista fala da necessidade de arrependimento, diz que quem tem uma túnica deve repartir com quem não tem nenhuma, pede aos soldados que não exerçam violência sobre ninguém, e aos colectores de impostos que não cometam injustiças. Veste-se mal, alimenta-se pior e acusa o rei de trair o irmão, tirando-lhe a mulher deste para casar.
Um homem que viveu há dois mil anos mas que “desconcerta o nosso tempo”, diz o padre João Resina Rodrigues (A Palavra no Tempo, ed. Multinova). “Vivemos no supérfluo, na diplomacia, no compromisso. [João Baptista] era o homem do essencial, da verdade, dos caminhos rectilíneos. Não terá percebido toda a riqueza da alegria (nenhum dos santos é total), mas é, sem dúvida, um homem de Deus.”
João é um dos vários profetas que, no tempo de Jesus, agitam Israel. O seu estilo de vida e de pregação insere-o nos movimentos baptistas, que exortam as pessoas a mudar de vida, num tempo em que a fé judaica está em crise.
A ocupação romana, a espera messiânica que não se concretiza, a divisão em grupos e seitas (fariseus, saduceus, zelotas, essénios, levitas) espartilham o judaísmo. E a falta de líderes políticos ou religiosos reconhecidos – excepção para dois rabinos que se destacam, Hillel e Shamai – cria o ambiente propício para o aparecimento de todo o tipo de visionários.
O Baptista destaca-se dos restantes, até pelas consequências do que diz. Mas os seus discípulos percebem que ainda não é ele o Messias que aguardam: “Ele não era a luz, mas vinha para dar testemunho da luz”, escreverá outro João, o evangelista, cerca de sete décadas depois.
Nos evangelhos, João é apresentado como primo de Jesus. E é ele que lhe prepara o caminho. “Não confere o perdão dos pecados, mas o conhecimento da salvação que será dada no perdão dos pecados”, escreve o biblista francês Augustin George (Para Ler o Evangelho Segundo S. Lucas, ed. Difusora Bíblica). Mas, nota frei Lopes Morgado (Em minha memória, ed. Difusora Bíblica), quando vê Jesus, apesar de conhecer a sua “honestidade”, João “tem a liberdade e a lucidez de mandar interpelá-lo: ‘És tu aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?’”.
“É o homem de Deus”, observa João Resina na obra citada. “Totalmente consagrado à sua tarefa, acima dos prazeres e das vaidades, das glórias e das quezílias. Vive no deserto, na austeridade total. Em todo o caso, em nada se assemelha àqueles ascetas que renunciaram a tudo porque em tudo viram pecado ou ocasião de pecado (…). João comporta-se como um homem livre, alheado das satisfações vulgares (…). Embora retirado do mundo, mostra uma grande experiência da vida. (…) Diz aos letrados que não se pode viver na mentira, pede aos soldados que não se sirvam da força para fazer exigências, manda a todos os que possuem que repartam com quem não tem.”
A FOTO DO DIA
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Todos os dias, neste espaço, é publicada a foto escolhida no âmbito da iniciativa Grande Fotografia de Natal, promovida pelo Millennium BCP. Dia 26, serão publicadas as 3 grandes vencedoras.
O regulamento pode ser consultado aqui ou em www.millenniumbcp.pt. |
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Fotografia: José Manuel Lopes
Data: 2 de Dezembro de 2005 |
POEMA DE NATAL
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Poema escolhido
por Vasco Graça Moura
e incluído no livro Natal... Natais
– Oito Séculos de Poesia
sobre o Natal, por ele compilado,
a editar pelo PÚBLICO
no próximo dia 14 de Dezembro
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A copa de Baltasar
(A Júlio Dantas)
Os três Reis Magos tinham-se ido embora
Em dromedários calmos, ao luar...
Seus presentes de brilho singular,
Dispunha-os São José na manjedoura.
Um pastor cobiçoso nessa hora
Não se cansava ali de cobiçar
A áurea copa em que o negro Baltasar
Trouxera o claro incenso e a mirra loura.
Em Jesus, qu’rendo mostrar que o ouro
Nada mais vale que o mesquinho pó,
E que riquezas de esplendor imenso
Só se encontram das almas no tesouro,
Ao pegureiro atónito brandou:
–
“Leva a copa, mas deixa a mirra e o incenso!”
EUGÉNIO DE CASTRO |
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