ÍNDICE
  Guia de leitura
 
  PARTE I
 
  Ética e deontologia
  Estatuto editorial
  Princípios e normas de
  conduta profissional
  Informar sem manipular,
  difamar ou intoxicar
  Privacidade
  e responsabilidade
  Seriedade e credibilidade
  O jornalista não é
  um mensageiro
 
  Critérios, géneros
  e técnicas
  Os factos e a opinião
  Regras de construção
  O rigor da escrita
  A fotografia
  A publicidade
 
  PARTE II
  Alfabeto do PÚBLICO
  Palavras, expressões e   conceitos
  A B C D E F G H I J K L M N
  O P Q R S T U V W X Y Z
 
  Normas e nomenclaturas
  Acentuação
  Verbos
  Maiúsculas & minúsculas
  Topónimos estrangeiros
  Siglas
  Factores de conversão
  Hierarquias (militares e   policiais)
  Religiões
 
  ANEXOS
  Fichas da lei
  Projecto PÚBLICO
  na Escola
  Regulamento do Conselho de
  Redacção do PÚBLICO
  Estatuto do Provedor
  do Leitor do PÚBLICO
  Código Deontológico
  do Jornalista
 
  


Religiões

Cristãs (católica, ortodoxa, protestantes, anglicana),judaísmo, muçulmana, hinduísmo, budismo

Só no âmbito do cristianismo se fala de "Igrejas"; nos outros casos, diz-se "religiões". As três religiões moNOteístas — judaísmo, cristianismo, islamismo — são também referidas como as religiões do Livro.


Cristianismo

Para os cristãos, Jesus Cristo é o messias que os judeus esperavam e não reconheceram, e que, segundo os seus primeiros seguidores, foi crucificado, morreu e ressuscitou, tornando-se a ressurreição o centro do cristianismo. Esta religião baseia-se, assim, na fé numa pessoa — JC — e não numa entidade transcendente (ao contrário dos outros dois monoteísmos). JC é também chamado filho de Deus, uma das três pessoas da Santíssima Trindade — as outras são designa-das por Deus Pai e Espírito Santo; mas para os cristãos Deus é um só revelado em três pessoas distintas.

Pelo baptismo, as pessoas tornam-se cristãos, membros da Igreja.

A Igreja (só no âmbito do cristianismo se fala de igrejas; nos outros casos, há religiões com diferentes formas de estruturação) é a assembleia dos que seguem Jesus Cristo. Por razões históricas, teológicas, culturais, a Igreja de Cristo dividiu-se. Apresentam-se a seguir os casos principais.

Igreja Católica Romana

1. Na Igreja Católica, além do essencial da fé cristã, aceita-se o culto da Virgem Maria (ou Nossa Senhora), a mãe de Jesus, e o culto dos santos. A hierarquia é basicamente constituída por diáconos, padres, bispos e Papa.

Diácono: clérigo (ordenado como o padre), mas que não tem a faculdade de celebrar missa.

Padre, presbítero ou sacerdote. Deve-se evitar referir os padres por títulos honoríficos, como monsenhor ou cónego.

Bispo: bispo residencial ou titular e bispo auxiliar; depois dos 75 anos, e uma vez aceite a resignação, passa a resignatário ou emérito; pode utilizar-se a palavra "prelado" para designar um bispo, nunca para referir um padre. Alguns bispos podem ser chamados arcebispos, quando a diocese a que presidem é a arquidiocese, ou seja, a sede de uma província eclesiástica (em Portugal: Braga, Lisboa e Évora). Outros poderão ser cardeais, título de nomeação papal. Só alguns bispos em todo o mundo são patriarcas (título de distinção), como é o caso do de Lisboa.

Papa: eleito pelo colégio cardinalício, é considerado o chefe da Igreja ou o seu centro visível da unidade. Fumo branco é o sinal, dado para o exterior da Basílica de São Pedro do Vaticano, de que o novo Papa já foi eleito; esse anúncio público é feito com a fórmula: "Habemus Papa!"

Há órgãos institucionais, como os concílios (reunião de todos os bispos do mundo), conferências episcopais (todos os bispos de um país), os sínodos dos bispos (que reúnem em Roma, ordinariamente de três em três anos, representantes de todas as conferências episcopais do mundo, para debater um tema concreto e propor ao Papa linhas de orientação a esse nível) ou a Cúria Romana.

É de evitar o uso do termo laicos para referir os crentes. Embora o significado das palavras seja dado como sinónimo em português, tem vindo a fixar-se a designação de leigos para os que não são clérigos, os fiéis, ao mesmo tempo que "laicos" aparece mais no sentido de não religioso, como em "Estado laico".

Também é imprópria a expressão "dizer missa". A missa (ou eucaristia) é rezada ou celebrada. "Missa" designa a principal liturgia católica; nas outras igrejas ou religiões, deve falar-se de liturgia, culto, oração ou outra expressão mais específica.


Outras igrejas ou confissões cristãs

Ortodoxos

Não reconhecem a autoridade do Papa (desde o cisma de 1054, quando se deu a ruptura entre os bispos de Roma e de Constantinopla), mas têm uma estrutura doutrinal e hierárquica semelhante à católica: culto dos santos, devoção à Virgem Maria, eucaristia; as imagens em pedra não existem na Igreja Ortodoxa, sendo "substituídas" pelos ícones.

Os diáconos e os padres podem casar-se antes da ordenação, os bispos têm que ser celibatários (são escolhidos entre os monges).

Os patriarcas chefiam os diversos patriarcados autocéfalos; o patriarca de Constantinopla é o líder espiritual, mas não tem qualquer autoridade sobre os restantes.

As mais importantes assembleias são os sínodos.

Em Portugal há dois pequenos grupos que reivindicam serem representantes da ortodoxia.


Protestantes

Nascem da cisão provocada pela excomunhão de Lutero, depois de este monge alemão ter afixado, em 1517, as suas 95 teses contra as indulgências. Lutero foi depois seguido por outros nomes que hoje também são referência do protestantismo: Calvino, Wycliff, Zwingli, Wesley, Knox.

Recusam a autoridade do Papa, o culto dos santos e da Virgem Maria, e vêem os sacramentos de um modo mais desvalorizado do que os católicos (dependendo essa valorização de cada uma das confissões).

A ruptura de Lutero — baseada na ideia da "sola fide, sola scriptura" (só a fé e só a Escritura é que salvam) — cria uma multiplicidade de grupos: reformados, evangélicos, calvinistas, presbiterianos, etc. A estrutura destas Igrejas quase não tem hierarquia: esta resume-se pouco mais que ao pastor ou presbítero (equivalente ao padre, mas que pode casar) e, às vezes, ao bispo (também pode casar).

Em Portugal, há dois grandes grupos: metodistas, presbiterianos e anglicanos/lusitanos (ver a seguir) reúnem-se no Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic), inserindo-se numa corrente que radica directamente na Reforma e admite actualmente o diálogo ecuménico (institucional e teológico) com a Igreja Católica; os evangélicos (Assembleia de Deus, Baptistas, Adventistas do Sétimo Dia, Pentecostalistas, Irmãos, etc.) correspondem fundamentalmente a igrejas nascidas nos últimos 100-150 anos, e agrupam-se na Aliança Evangélica Portuguesa, que aceita o diálogo institucional, mas não teológico, com a Igreja Católica.


Anglicanos

Nascem da cisão provocada, em 1534, por Henrique VIII entre a Igreja de Inglaterra e o Papa. Têm uma doutrina e uma hierarquia semelhantes à católica, mas admitem actualmente o casamento dos padres e a ordenação de mulheres, e recusam a jurisdição do Papa.

A Comunhão Anglicana é a "federação" de todas as igrejas anglicanas do mundo. A Igreja Lusitana, de Portugal, integra a Comunhão Anglicana.

Ortodoxos, protestantes e anglicanos estão reunidos no Conselho Mundial de Igrejas ou Conselho Ecuménico de Igrejas, com cerca de 320 denominações ou Igrejas representadas (dados de 1997). Os evangélicos estão federados na Aliança Evangélica Mundial.


Novos movimentos religiosos ("seitas")

Fenómeno recente na sua expressão sociológica, vulgarmente denominados como "seitas", os novos movimentos religiosos (pelo menos os cristãos, como Igreja Maná ou Igreja Universal do Reino de Deus) herdam muito das denominações evangélicas de origem americana, mas insistem em outras práticas secundarizadas por aqueles, como sejam as curas e a colecta de dízimo ("ofertas"). Tem sido prática do PÚBLICO referir-se a estes grupos como "novos movimentos religiosos", evitando chamar-lhes "seitas", que passou a ter uma conotação pejorativa.


Judaísmo

Fruto da experiência histórica de um povo surgido da tribo de Abraão (cuja herança é também reivindicada por muçulmanos e cristãos), o judaísmo é a primeira experiência de fé num único Deus. Para os judeus, Deus é o criador, revelado sucessivamente pelos patriarcas Abraão, Isaac e Jacob, por Moisés (que libertou os judeus da escravatura do Egipto) e pelos profetas. Os judeus esperam ainda a vinda de um Messias que os salvará.

Alguns termos mais importantes:

"arvit" — Oração da noite.

Asquenaze — Nome medieval da Alemanha; por extensão chama-se "asquenazes" aos judeus originários da área cultural europeia.

"bar mitzva" — Cerimónia de iniciação religiosa que marca a entrada do adolescente de treze anos na comunidade dos adultos.

Cabala — "Tradição recebida", em hebraico: o conjunto das doutrinas e dos preceitos do misticismo judaico.

"casher" — Ritualmente puro, referindo-se aos alimentos.

Eretz-Israel — Literalmente, "país de Israel" ou "Terra de Israel".

gueto — Designava em Veneza o bairro reservado aos judeus. Por extensão, o bairro judaico, imposto ou voluntário, em numerosas cidades europeias. Também se continua a escrever "ghetto", não aportuguesado.

"hazan" — Oficiante cantor da sinagoga.

holocausto — Sacrifício no Templo de Jerusalém. Na acepção corrente (em caixa alta), a palavra designa também a Shoah (impropriamente, segundo os judeus).

judaísmo ortodoxo — Corrente que professa um tradicionalismo de estrita obediência rabínica.

judaísmo reformado — Corrente nascida na Alemanha no século XIX, que modifica largamente a ortodoxia religiosa a fim de adaptá-la às exigências morais, intelectuais e práticas da modernidade.

"kibutz" — "Reagrupamento"; comuna agrícola.

kipá (ou "kipah") — Solidéu (para cobrir a cabeça).

Kotel Maaravi — O Muro Ocidental do Templo, conhecido como Muro das Lamentações.

ladino — Língua dos judeus da Península Ibérica que incorpora palavras espanholas, portuguesas e hebraicas.

marrano — Termo pejorativo que designava os cristãos-novos judaizantes de Espanha e de Portugal, assim como os seus descendentes da diáspora sefardita.

menorá (ou "menorah") — Candelabro de sete braços utilizado no Templo (hoje, emblema do Estado de Israel).

midrash (pl.: "midrashim") — Método de comentário e de interpretação da Bíblia; recolha de comentários rabínicos.

parnas — O que dirige a sinagoga.

Pessá (ou Pessah) — Páscoa judaica; palavra que significa "passagem".

rabi — "Meu mestre": título dos sábios; líder espiritual da comunidade.

Rosh-ha-Shana — Literalmente "cabeça do ano"; o Ano Novo judaico, celebrado no princípio do mês de Tishré (Setembro-Outubro).

Sabat (do hebraico Shabath) — O sétimo dia da semana; é o dia sagrado (de descanso) semanal para os judeus.

sefarditas — "Espanhóis", em hebraico: descendentes dos judeus de Espanha e Portugal; por extensão, judeus dos países mediterrânicos, por oposição aos asquenazes.

"Shemah Israel" — "Escuta, Israel": primeira expressão da profissão de fé do judeu, proclamando a unidade de Deus.

sinagoga — Casa do encontro; lugar de encontro e estudo.

Shoah — "Catástrofe"; designa o genocídio nazi durante a II Guerra Mundial.

Tábuas da Lei (ou da Aliança) — O texto do Decálogo, gravado em pedra, entregue por Deus a Moisés no monte Sinai.

Talmude — "Doutrina", "Ensino", "Estudo"; fixa o ensino das grandes academias rabínicas dos séculos I-VI (da era cristã).

Tora — "Ensinamento"; os cinco livros iniciais da Bíblia; por extensão, o conjunto da literatura rabínica.

Yom Kipur — O dia do Grande Perdão (ou da expiação); dia de jejum e de orações.


Islamismo

O islamismo, a terceira religião monoteísta, começa historicamente na Arábia, com Maomé, que iniciou as suas pregações em 613, ainda em Meca. Em 622, o Profeta muda-se para Medina — foi a hégira, facto crucial que inaugura o calendário islâmico, que é lunar (assim, por exemplo, o ano 1417 d.H. começou em 19 de Maio de 1996). Tendo-se expandido continuadamente, sobretudo nas regiões circundantes, ainda no século VII, e pelo Norte de África, Península Ibérica e Índia no século seguinte, o islamismo conta actualmente com cerca de 500 milhões de fiéis por todo o Mundo. Mais do que uma fé, caracteriza-se por uma maneira de viver, ou "din". "Não há outro deus senão Deus, e Maomé é o seu profeta" — esta a profissão de fé, ou "shahada", que constitui o primeiro dos cinco pilares do islamismo, ou obrigações cultuais do muçulmano. A segunda é a oração ("çalat"), que se faz cinco vezes ao dia, voltado para Meca; a terceira a esmola ("zakat"); o jejum do mês do Ramadão ("çawm"), durante as horas diurnas, é o quarto; e o quinto a "hajj", a peregrinação a Meca que todo o crente deve fazer pelo menos uma vez na vida, se para tal tiver meios.

Dicionário islâmico

[Dados extraídos e adaptados de "A Popular Dictionary of Islam", de Ian Richardson Netton, Ed. Curzon Press, Londres, 1992]

"abd" (plural "ibad" ou "abid") — Palavra que significa escravo, servo (de Deus). No plural, "abid", é frequentemente usado para designar "escravos", enquanto "ibad" é usado para servos (de Deus). "Al-Ibad" significa "humanidade", embora o Corão use o plural "ibad" para escravos. "Abd" é também usado nos nomes próprios. Exemplo: Abd al-Rahman (Servo de Deus Misericordioso).

Aga Khan — A palavra "Agha" foi usada em turco para designar "chefe"; mas também era usada para indicar eunucos ao serviço do governo. A palavra era ainda utilizada em persa com significado semelhante, mas frequentemente soletrada como "Aqa". "Khan" era uma palavra turca e persa que significava "chefe" ou "senhor". A combinação das duas num único título foi adoptada pelos imãs dos nizaris, uma seita dos ismailitas. O título foi instaurado pelo Xá da Pérsia em 1818.

Ahmadiyya — Um movimento religioso (com representação em Portugal) fundado em 1889 por Mirza Ghulam Ahmad Qadiyan (1835-1908). O Ahmadiyya tem sido frequentemente perseguido por outros muçulmanos desde que Ghulam Ahmad alegou ser o Mahdi, ou o Prometido Messias. Os ahmadis acreditam que Jesus ressuscitou da morte na cruz e foi para Srinagar (Índia) onde morreu e foi enterrado. O Ahmadiyya dividiu-se em dois grupos: os qadiyanis, que acreditavam em Ghulam Ahmad como um Nabi (Profeta), e os lahoris, que acreditavam ser o seu fundador um Mujadid (Renovador). A sede do Ahmadiyya funciona em Rabwah (Paquistão).

Alá — Esta palavra é formada do árabe "al-Ilah" que significa, literalmente, "Deus".

alauitas e alevitas — Membros de um grupo também designado nusayris, ou aqueles que seguem Ali Abu Talib. O nome nusayris deriva de um dos seus primeiros líderes, Muhammad Nusayr (século XIX). As suas crenças têm muito em comum com as dos ismailitas. Há nusayris na Síria, na Turquia e no Líbano. Na Turquia são também conhecidos como alevitas.

Al-Azhar — Literalmente "O Brilhante" ou "O Radiante". O nome completo é al-Jami al-Azhar (A Mesquita Radiante). É o título da mais famosa universidade e mesquita, fundada pela dinastia xiita dos fatimidas no Cairo depois de conquistar o Egipto em 969. Foi criada inicialmente como um bastião da doutrina ismailita, mas tornou-se um reduto da ortodoxia sunita com os ayúbidas (dinastia que precedeu os mamelucos e cujo nome deriva do curdo Ayyub, pai do famoso Saladino).

"Allahu Akbar" — Deus é grande (declaração ou expressão de elogio e glorificação).

Al-Quds — Nome árabe de Jerusalém, que significa "A Sagrada". É venerada como a terceira cidade santa do islão, depois de Meca e Medina (na Arábia Saudita), porque o profeta Maomé, acreditam os muçulmanos, ascendeu daqui aos Sete Céus.

Amal — Significa Esperança e é também o nome adoptado por um grupo xiita no Líbano, fundado em 1974 pelo imã Musa al-Sadr, que desapareceu em 1978, na Líbia.

Ashura — O décimo dia do mês muçulmano de al-Muharram. O profeta Maomé costumava jejuar neste dia e por isso ainda hoje é considerado um dia santo e de jejum pelos muçulmanos sunitas. Para os xiitas é particularmente sagrado por ser o aniversário do martírio de al-Hussein Ali na Batalha de Kerbala.

Assassinos — Seita medieval extremista dos nizaris, um ramo dos ismailitas, que aprovava os assassínios políticos. Fundada por Hasan-i-Sabbah, tinha o seu quartel-general na fortaleza de Alamut. O nome árabe de onde derivou a palavra Assassino é "hashishiyyin" (literalmente, os "consumidores de haxixe"), talvez um insulto dirigido ao grupo, mais do que uma reflexão dos seus verdadeiros hábitos.

"ayatollah" — Literalmente, "O Sinal de Deus". É um título atribuído no século XX por aclamação popular e pelos seus pares aos académicos xiitas que alcançaram eminência, geralmente no campo da jurisprudência ou da teologia islâmica. Depois da revolução iraniana de 1979 aumentou o número dos que se consideram "ayatollahs". No entanto, um pequeno número — talvez menos do que dez — também ostenta o título de Ayatollah al-Uzma (O Maior Sinal de Deus). Destes, o mais conhecido era o "ayatollah "Khomeini, que também detinha o título de Maraji al-Taqlid (Fonte de Imitação). O grau abaixo de um vulgar "ayatollah" é Hujjat I-Islam.

babismo — Movimento que deriva de "Bab" (literalmente "Porta" para o Imã Oculto), título assumido em 1844 por Mirza Alu Muhammad (1819-1850), de Shiraz (Irão), que acabou executado pelos seus fiéis. Da seita babi nasceram posteriormente os "baha’is".

"baha’is" — Membros de uma nova religião que deriva do babismo, fundado por Baha’ullah (nascido de uma família aristocrática de Teerão) e propagada pelo seu filho Abd al-Baha. Acreditam num deus transcendente que se manifestou através de uma cadeia de profetas, alguns dos quais familiares ao judaísmo, cristianismo e islamismo, e com poderes de verdade intrínseca. São um ramo de um ramo de um ramo dos Ithna ’Asharis (xiitas), e por isso têm sido considerados hereges pelos muçulmanos, sujeitos a perseguições e execuções.

"burqu’", em árabe (plural "baraqi"); "burqa’" (em persa) — O longo véu que cobre a maior parte do corpo das mulheres muçulmanas, excepto os olhos.

califa (em árabe "khalifa"; plural "khulufa") — Chefe da comunidade dos crentes. A palavra árabe nos primórdios da história islâmica significa, literalmente, "sucessor" ou "adjunto" (do profeta Maomé). Este cargo (do islão sunita) combinava, teoricamente, uma função espiritual e secular, embora, na prática, sob dinastias como a dos Omíadas, a função secular suplantasse a espiritual.

"chador" — Vocábulo persa que designa a longa túnica e o véu negros que cobrem todo o corpo feminino. É usado no Irão e em vários países árabes.

Corão (em árabe Qur’an) — Significa literalmente "Recitação". É o livro mais sagrado do islão, considerado pelos muçulmanos a palavra de Deus revelada pelo anjo Gabriel ao profeta Maomé. O texto consiste em 114 capítulos, cada um designado "sura" (em árabe). Cada "sura" é classificado segundo a proveniência — Meca ou de Medina, as cidades onde Maomé recebeu as revelações divinas — e cada uma está dividida em versículos.

Dar al-Harb — Significa, literalmente, a Casa da Guerra. É uma expressão usada na lei islâmica para designar regiões ou países não muçulmanos.

Dar al-Islam — Literalmente, a Casa do Islão. É um termo usado na jurisprudência islâmica para indicar a totalidade das regiões ou países sujeitos às leis muçulmanas. Contrasta com Dar al-Harb, mas há uma terceira área chamada Dar al-Aman (Casa da Segurança).

druso (em árabe "durzi" — plural "duruz") — Seguidor de uma seita religiosa dissidente dos ismailitas, que apareceu no século XI, no Egipto. A palavra druso deriva do último elemento do nome próprio de Muhammad Ismail a-Darazi. Este, considerado um dos fundadores dos drusos, pregava que o sexto califa fatimida, al-Hakim Bi-Amr Allah, era divino. Al-Hakim desapareceu em circunstâncias misteriosas em 1021 e os drusos acreditam que não morreu. A sua doutrina é muito complexa e secreta. É também elitista na organização, dividindo os crentes em "’uqqal", ou inteligentes, e "juhhal", ou ignorantes. Os drusos estão concentrados no Líbano, Síria e Israel.

"fatwa" (plural "fatawa") — Termo técnico usado na lei islâmica para indicar um julgamento ou uma deliberação legal formal.

"fiqh" — No seu sentido técnico, a palavra significa "jurisprudência islâmica". Originalmente, era sinónimo de "compreensão" ou "conhecimento". A jurisprudência islâmica baseia-se ou divide-se em quatro principais escolas: hanafita, hanbalita, maliquita e shafita. Os kharijitas e os xiitas têm os seus próprios sistemas de jurisprudência.

fundamentalismo (islâmico) — Na sua essência, esta expressão parece indicar o desejo de regresso a um islão "ideal", talvez o da era de Rashidun (epíteto aplicado aos quatro "Califas Correctamente Guiados" — al-Khulufa al-Rashidun, que governaram a comunidade dos crentes após a morte do profeta Maomé, ou seja, Abu Bakr, Umar al-Khattan, Uthman Affan e Ali Abi Talib. Muitos fundamentalistas islâmicos acreditam que o islão da era moderna e os chamados "Estados islâmicos" foram corrompidos. Desejam regressar ao "verdadeiro" islão, sem qualquer compromissos com o secularismo, o que frequentemente gera hostilidade em relação ao Ocidente.

"hajj" (plural "hajjat") — Peregrinação. Este é um dos cinco "arkan" (pilares) do islão. Todos os muçulmanos, desde que satisfeitas as condições de boa saúde e capacidade financeira, são obrigados a fazer a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida. O "hajj" deve ser efectuado no Mês da Peregrinação (Dhu ’lHijja), ou seja, no último mês do calendário lunar muçulmano, entre o oitavo e o 12º ou 13º dia.

"hijab" — Véu usado por muitas mulheres muçulmanas. Nem sempre é símbolo de adesão ao fundamentalismo islâmico, mas apenas sinal de respeito por uma tradição de modéstia feminina.

Hezbollah (em árabe Hizb Allah) — Nome que tem origem em duas "suras" do Corão e significa Partido de Deus. Foi adoptado por um movimento xiita fundado em 1982, no Líbano, pelos Guardas Revolucionários iranianos.

"hojatoleslam" (em árabe e persa "hujjat ’l-Islam") — Grau de um futuro "mujtahid" (teólogo), abaixo de "ayatollah", no Irão. A designação significa, literalmente, "A Prova do Islão".

ibaditas — Membros da seita dos kharijitas, devem o seu nome ao seu alegado fundador Abd Allah Ibad, um líder kharijita do século VII. Os ibaditas, que representam uma facção moderada do islão, vivem actualmente no sultanato de Omã (Golfo Pérsico), na África Oriental e do Norte.

imã (em árabe "imam"; plural "a’imma") — Palavra que designa uma variedade de conotações, cada uma delas necessitando de ser cuidadosamente distinguida: 1) Derivando do vocábulo árabe que quer dizer "chefiar" ou "conduzir a oração", imã tem o primeiro significado de líder da prece. O islão não tem padres e, por isso, o imã responsável da mesquita não é ordenado. No entanto, qualquer homem muçulmano pode dirigir a oração na ausência do imã da mesquita; 2) Os primeiros doze líderes dos Ithna ’Asharis, ou Doze Xiitas, são referidos como Doze Imãs; 3) Os ismailitas reconhecem os sete primeiros imãs e o conceito de imã desempenha um papel-chave nas complexas doutrinas do ismailismo; 4) Nos primórdios da história islâmica, o título imã estava associado ao de califa; 5) Tem sido usado simplesmente como título de respeito, por exemplo, pelo falecido Khomeini, que preferia ser tratado por imã e não por "ayatollah". Nesse caso refere-se o Imã Khomeini.

"In Sha’a Allah" — Expressão corrente árabe que significa "Se Deus quiser"; deu origem ao português "oxalá".

Irmandade Muçulmana ou Irmãos Muçulmanos (em árabe al-Ikhwan al-Muslimun) — Organização fundada por Hassan al-Banna, em 1928, no Egipto. Advoga o regresso ao verdadeiro islão, opõe-se veementemente ao "imperialismo ocidental" e tem como objectivo o estabelecimento de um Estado islâmico puro. A Irmandade foi proibida pelo Governo egípcio em 1954, mas tem desde então funcionado na clandestinidade, com ramos espalhados por vários países árabes. O principal ideólogo da Irmandade, defensor da luta armada para derrubar "regimes ímpios", foi Sayyid Qutb, executado pelo Presidente Gamal Abdel Nasser em 1966. A sua obra mais notável, referência para os fundamentalistas, é "Sinais na Estrada", publicada nos anos 50, onde a sociedade é dividida em "ordem ignorante" e "ordem islâmica".

islão — Palavra que significa literalmente "submissão" (à vontade de Deus). É o nome de uma das grandes religiões monoteístas, fundada pelo profeta Maomé no século VII d.C.

ismailitas (Isma’iliyya) — Seguidores de um ramo do islão que deve o seu nome a Ismail, o filho mais velho de Ja’far al-Sadiq. Os membros desta seita também se designam sétimos (porque reconhecem os sete principais imãs depois da morte do profeta Maomé) e "batiniyya" (devido à sua ênfase na exegese de "batin" ou interpretação). A teologia dos ismailitas caracteriza-se por uma teoria cíclica da história centrada no número sete, número que assume um importante significado na crença de Ismail e na cosmologia. Hoje, os ismailitas estão espalhados pelo mundo inteiro (incluindo Portugal), mas concentram-se sobretudo no subcontinente indiano e na África Oriental.

"jihad" — Vulgarmente traduzida como "guerra santa". O vocábulo tem o significado original, em árabe, de "combater". Alguns grupos consideram-na o sexto pilar do islão, por exemplo, os kharijitas e os ibaditas. A explicação mais aceitável é a de que todos os muçulmanos são obrigados a travar uma "jihad" espiritual contra os seus próprios pecados.

kharijitas — Membros de uma primeira seita islâmica, com origens obscuras mas que pode ser reconstruída do seguinte modo: o nome, em árabe "khawarij", significa "os que cindiram" (do grupo de Ali Abu Talib); deriva do verbo árabe "kharaja" (sair ou cindir). A primeira secessão foi a de um grupo de soldados de Ali na Batalha de Siffin, que rejeitavam qualquer forma de arbitragem alegando que o juízo final pertence a Deus. A eles juntaram-se mais tarde outros dissidentes e foram este que deram aos kharijitas o seu nome. O kharijismo, cujas crenças não são uniformes, dividem-se em várias subseitas, algumas fanáticas e exclusivistas. Os descendentes modernos dos kharijitas são os ibaditas.

Khomeini (Aytollah Ruhollah, 1902-1989) — Líder espiritual do Irão depois da revolução de 1978-79 e principal obreiro da doutrina do "governo do jurista" ("vilayat-i faqih", em persa; "velayat-l-faqih", em árabe) ou "líder supremo" — poder temporal e espiritual. É esta doutrina que legitima o poder temporal dos religiosos em Teerão.

"madrasa" (plural "madaris") — Escola ou lugar de ensino, frequentemente ligada ou associada a uma mesquita.

(al-) Mahdi — Literalmente, "aquele que é correctamente guiado". O Mahdi é uma figura de profundo significado escatológico no islão e um título frequentemente reclamado por vários líderes na história islâmica. O seu poder justo é prenúncio da aproximação do fim dos tempos. Sunitas e xiitas aderem à crença no Mahdi, embora o xiismo tenha desenvolvido uma doutrina mais profunda.

"majlis" (plural "majalis") — Lugar de encontro ou assembleia. A palavra sofreu consideráveis desenvolvimentos sócio-históricos e hoje é usada para designar a espécie de "parlamentos" existentes em alguns países árabes e no Irão. Referido ao Irão deve escrever-se em caixa alta, pois faz parte do nome do parlamento.

Maraji al-Taqlid (singular Marji’ al-Taqlid) — Fontes de Imitação. Este é um epíteto que caracteriza os "ayatollahs" com a patente de Ayatollah al-Uzma. Um único ou supremo Marji’ chama-se Marji’ al-Taqlid al-Mutlaq. Este título era usado por Khomeini no Irão, mas o seu sucessor, Ali Khamenei, ainda não conseguiu ser aclamado como tal.

Meca (em árabe Makka) — É a cidade mais sagrada do islão, cuja história está intrinsecamente ligada ao profeta Maomé. Situa-se na Arábia Saudita.

Medina (em árabe al-Madina) — Significa "A Cidade". É também frequentemente caracterizada pelo epíteto al-Munawwara (A Radiante). É o segundo santuário do islão e situa-se, tal como Meca, na Arábia Saudita.

muezim (em árabe "mu’adhdhin") — A pessoa que chama os fiéis para a oração ("adhan") a partir do minarete de uma mesquita. O primeiro "mu’adhdhin" foi Bilal Rabah, nomeado pelo profeta Maomé.

mufti — Aquele que emite ou está qualificado para emitir uma "fatwa". Pode ou não ter o título de "qadi" (juiz). O mufti serve de ponte entre a pura jurisprudência e o islão actual.

"mullah" — Palavra derivada do árabe "mawla", que significa "mestre". É usada como título de respeito por figuras religiosas e juristas, no Irão e noutras partes da Ásia.

nizaris — Membros da seita dos ismailitas, que consideram Nizar, o filho mais velho do califa fatimida al-Mustansir, o seu sucessor.

nusayritas — Membros de um grupo também designado alauitas, que seguem Ali Abu Talib. O nome nusayritas deriva de Muhammad Nusayr, líder muçulmano do século XIX. As suas crenças têm muito em comum com os ismailitas. Há nusayritas na Síria, Turquia e Líbano. Na Turquia são conhecidos como alevitas.

Ramadão — O nono mês do calendário lunar islâmico e também mês de jejum, do nascer ao pôr do sol.

"shura" — Palavra árabe que significa consulta, conselho, órgão consultivo. Em alguns países é o equivalente a um "parlamento" sem poderes. Escreve-se am caixa alta quando faz parte do nome.

"suna"— Literalmente, este termo significa "caminho percorrido", mas de "prática habitual" passou a indicar palavras e actos específicos do profeta Maomé.

sunita — Aquele que adere à "suna" ou às acções do profeta Maomé. A palavra é usada para designar o ramo maioritário do islão.

"sura" (plural "suwar") — Capítulo do Corão, cada um dividido em vários versículos.

"ulema" (singular "‘alim") — Professores religiosos, juristas, sábios, imãs, juízes, "ayatollahs"... São geralmente referidos como um grupo monolítico de intelectuais e académicos, guardiões da "ortodoxia". A palavra nunca deve ser traduzida por clero, porque essa categoria não existe no islão.

"umma" — Comunidade (dos crentes muçulmanos), povo, nação.

wahhabitas (em árabe "wahhabiyya") — Seguidores da doutrina rigidamente puritana de Ibn Abd al-Wahhab, que rege o reino da Arábia Saudita.

xiita (em árabe "shi’a")— Partidário de Ali Abu Talib. Os xiitas escolheram Ali, o genro de Maomé, como sucessor do profeta, enquanto os sunitas preferiram Abu Bakr, um dos seus primeiros companheiros e convertidos. Para os xiitas, o imã é mais poderoso do que o califa sunita. Os dois ramos distinguem-se ainda em questões jurídicas e nos rituais.

Pode consultar aqui um pequeno Dicionário do Islão, da autoria de Margarida Santos Lopes.


Hinduísmo

Como explica L. Kapani, co-autora de "As Grandes Religiões do Mundo" ["Le Fait religieux", dir. de Jean Delumeau (Lib. Arthème Fayard, 1993); trad. port. Presença, 1997], a mentalidade hindu tem mais a ver com uma ortopraxia do que com ortodoxia; o hinduísmo é uma maneira de estar no mundo e engloba toda a vida, no concreto, tudo nele é prática. A um hindu, as filosofias e religiões ocidentais apresentam uma hipertrofia das representações e crenças, em detrimento do comportamento concreto, que no hinduísmo é o mais importante. Por isso, textos de exposição ou explicação teórica pouco lhe dizem, mas Madre Teresa de Calcutá era muito popular e profundamente respeitada.

Outro aspecto a salientar é que, ao contrário do judaísmo, com a Tora, o cristianismo, com a Bíblia, ou o islamismo, com o Corão, o hinduísmo não é uma "religião do Livro". Os Vedas contém a Palavra sagrada, emanada pelo Absoluto no princípio da criação e captada pelo homem, por alguns sábios, tendo sido transmitida oralmente através dos tempos.

 

Religião e livros sagrados

Nomes e termos relacionados com a religião hindu

"achárya" — Professor.

"bhikshu" — Pessoa religiosa vivendo de almas, padroeiros ou padroeiras.

"dharma" — Religião.

"grama-devata" — Padroeiro da aldeia.

guru — Preceptor.

hinduísmo, bramanismo ou Dharma dos Vedas — Nomes da religião dos hindus.

"ishta-devata" — A divindade predilecta.

"kshetra-devata" ou "kshetrapala" — Padroeiro da localidade

"kuladevata" ou "gotra-devata" — padroeiro da linhagem.

"mahamuni" — O melhor entre os "munis".

"maharshi" — O melhor entre os "rishis".

"muni" — Sábio em voto de silêncio.

"murti" — Ídolo.

"preya" — Bem-estar pessoal.

"pujá-vidhi" — Cerimonial.

"rishi" — Sábio vidente.

"sadhú" ou "sânt" — Pessoa religiosa dedicada a levar uma vida pura, santa, em serviço a Deus e à humanidade.

Sanatana Dharma ("Dharma Eterno") — A religião dos hindus, postulado universal e eterno que transcende raça e credo.

"shreya" — Bem-estar global.

"yagna" — Sacrifício com fogo

Os quatro objectivos principais na vida: "dharma" — cumprir as obrigações religiosas, morais e sociais, pela maneira apropriada de agir; "artha" — procurar sustento, seu e da sua família, através do sucesso terreno; "kama" — procriar para continuar a linhagem, através dos prazeres legítimos; "moksha" — procurar a auto-realização, a salvação-libertação final, do renascimento.

Quatro estádios da vida: os "ashramas" — "brahmacharya" — o estado de solteiro, de estudo e compreensão; "grihastha" — o estado de casado, chefe de família; "vanaprastha" — o estado de desapego das coisas mundanas, de reflexão; "sanyasa" — o estado de renúncia total do mundo.

Quatro estados do espírito — "jagrita" — o estado de acordado; "svapna" — o estado de sonho; "sushupta" — o estado de sono profundo; "turiya" — o super-estado.

Os caminhos principais para auto-realização — "gnana" ou "gyana" — o caminho de conhecimento e sabedoria; "karma" — o caminho de acção, trabalho e perfeição; "bhakti" — o caminho de devoção e submissão; "yoga" — o caminho de oito passos: "yama" (o passo de autodomínio), "niyama" (o passo de purificação interna-externa), "asana" (o passo de postura física), "pranayama" (o passo de controlo de respiração, o sopro vital), "pratyahara"(o passo de retirar os sentidos dos seus objectos de gozo), "dharana" (o passo de fixar a mente num objecto), "dhyana" (o passo de manter "dharana" num fluxo constante), "samadhi" (o passo de manter "dhyana" não na forma, mas apenas no significado do objecto).

Obras principais da literatura sagrada — Os Vedas ("Saber", "Revelação"), textos orais, em quatro colectâneas: Rigveda — Veda das estrofes; Yajurveda — Veda das fórmulas sacrificiais; Samaveda — Veda das melodias sacrificiais; Atharvaveda — Veda dos encantamentos e fórmulas mágicas.

Os Upavedas ou Subvedas — Rigveda: Áyurveda — ciência de medicina; Yajurveda: Dhanurveda — ciência de armamentos; Samaveda: Gandharvaveda — música e belas-artes; Atharvaveda: Sthápatyaveda — engenharia e arquitectura.

Tipos da composição dos Vedas — "Chanda", cantos e rituais; mantras, hinos; brâmanes (ou glosas bramânicas), teologia; sutras, aforismos. Vedangas — Composições à maneira de aforismos sobre os Vedas.

Os seis sistemas principais da explicação e ensino dos Vedas — Nyaya, sistema de lógica, fundado por Rishi Gautama; Vaisheshika, sistema de filosofia fundado por Rishi Kanáda; Sankhya, sistema que enumera os princípios principais, fundado por Rishi Kapila; Ioga, sistema que ensina meios para unir "jivatma" (a alma individual) com "paramatma" (a alma universal), fundado por Rishi Patanjali; Purva Mimansa, sistema de interpretação pontual dos rituais dos Vedas, fundado por Rishi Jaimini; Uttar Mimansa ou Vedanta, sistema que explica a natureza do Bramha, o Espírito Supremo, fundado por Rishi Badarayana.

Os Upanishadas, também considerados Vedanta — A sabedoria apreendida por "rishis", sábios-mestres, que a transmitiam oralmente como ensinamentos aos seus pupilos; em número de mais de uma centena, cada um é portador do título do tema ou temas tratados.

Bhagavad Gita, ou Shrimad Bhagavad Gita — É considerado o sumo de todos os Upanishadas, pronunciado pelo deus Krishna, fazendo parte do épico Mahabharata.

Puranas — Os épicos mitológicos principais e mais populares dividem-se em três grupos, cada grupo organizado à volta da vida e feitos de um dos deuses da trilogia principal e realçando uma qualidade inata: de Brahma, o Criador — a paixão, desejo de coisas corporais, mundanas, etc.; de Vixnu, o Sustentador ou Conservador — a pureza, bondade, luminosidade, etc.; de Xiva, o Destruidor, a ignorância, ilusão, apegos, preguiça, indolência etc.

Deus e divindades — Muitas divindades vêm do tempo dos Vedas até aos Upanishadas. Mas a trilogia principal, já do tempo dos Puranas, é constituída por Brahma ou Prajapati ou Prapitamaha, o Criador; Vixnu ou Narayana, o Sustentador ou Conservador; e Mahesh ou Xiva ou Rudra, o Destruidor. Há também Ganesha ou Ganapati ou Ganadhipati, o deus com cara de elefante, adorado em primeiro lugar em qualquer cerimónia religiosa hindu. Os avatares são incarnações ou manifestações de uma divindade, em especial de Vixnu: Rama, Krixna, Buda são considerados incarnações de Vixnu. Shakti, conhecida sob muitos nomes diferentes, é a deusa da força, energia, natureza; Sarasvati (Sharadá) é a deusa de inteligência, conhecimento, sabedoria; Laxmi (Narayani) a deusa de riqueza, opulência, sorte, bem-estar. Há ainda nove durgas: Kumárika, Tri-Murti, Kalyani, Rohini, Káli, Chandiká, Shambhavi, Durgá, Bhadrá.


Budismo

O budismo começou historicamente no século VI ou V a. C.

Buda como personagem histórico é filho do príncipe do clã Shakya, do Noroeste da Índia, actual Nepal. A sua mãe morreu alguns dias após o parto, a data de nascimento poderá ser 563 a. C.

Depois de uma vida sem privações no palácio real resolve sair a conhecer o exterior. É então, perto dos 30 anos, que toma conhecimento de três males que afligem a condição humana: a velhice, o sofrimento e a morte (encontra um homem doente, um velho e um cadáver). Na sua quarta saída do palácio antes do nascimento do seu filho, conhece um asceta e abandona o palácio. O seu primeiro nome era Shiddartha e o nome de família, Gautama.

Depois de ter abandonado dois mestres que lhe ensinaram a filosofia e as técnicas de ioga, leva juntamente com outros cinco discípulos uma vida ascética, em que era conhecido como Shakyamuni (o sábio dos Shakyas). Mas um dia aceita uma oferenda, uma tigela de arroz oferecida por uma rapariga, e os outros abandonam-no. É nessa altura que se senta debaixo de uma figueira (na posição de lótus) e decide não se levantar enquanto não atingir a iluminação. Durante esse processo aparece-lhe Mara (que conjuga a morte e o mal e se disfarçou de várias maneiras para o intimidar), que tenta desviá-lo da sua missão e com quem ele trava uma luta. Mas ao nascer do sol ele vence Mara (ao tocar na terra com a mão direita, para ela servir de testemunha) e torna-se o Buda, possuidor das Quatro Nobres Verdades.

As Quatro Nobres Verdades — A primeira verdade é que tudo é sofrimento ("samsara"): "O nascimento é dor, a velhice é dor e a morte é dor." A segunda verdade é que a origem do sofrimento é o desejo ou o apego. A terceira verdade é que a eliminação do desejo leva à eliminação da dor e isso é o nirvana. A quarta verdade revela que para se alcançar o nirvana é necessário percorrer o Óctuplo Caminho que leva à extinção do sofrimento. Esses passos não têm de ser seguidos por uma ordem e são: visão pura, intenção pura, discurso puro, acção pura, vivência pura, aplicação pura, recolhimento puro e concentração pura.

O ensino do "dharma" — A partir daí Buda passou a ensinar o "dharma" (a doutrina, cujo símbolo é uma roda de oito raios cujos raios representam os diversos passos do Óctuplo Caminho) ao "shanga" (a comunidade de discípulos, monges). Pregou pela primeira vez no parque de veados, em Sarnath, na Índia. Um budista é aquele que toma refúgio na tripla jóia: as três jóias são Buda, os seus ensinamentos ("dharma") e a comunidade ("shanga"). O lótus tornou-se o símbolo da doutrina budista: tem raízes na lama, mas floresce no espaço puro. A cruz suástica é também um dos símbolos utilizados, simboliza a família e, para os indianos, é um símbolo de sorte.

Gautama Buda morreu em 483 a.C. e após a sua morte foram recitadas e escritas todas as sutras, os discursos do mestre, com a indicação do local onde foram pronunciados; foram também recitadas as regras e procedimentos para a conduta da vida monástica e ainda uma lista de termos para constituírem uma sinopse analítica do ensino dos sutras. É o conjunto dos três textos que é o cerne das escrituras budistas e a que se chama o Pequeno Veículo (Hinayana). Depois o "dharma" foi espalhado por várias partes da Índia e começaram a nascer diferenças. Foi no Quarto Concílio após a morte de Buda (por volta do século II) que nasceu o chamado Grande Veículo (Mahayana) e que se espalhou pela China, Japão, Coreia, Tibete e Mongólia. Uma nova onda de sutras apareceu.

A grande diferença entre os dois veículos é que o Mahayana dá importância aos "boddhisattva", que, em vez de escaparem eles próprios ao "samsara" (sofrimento), decidiram ajudar os outros. Para isso permaneciam no samsara para libertarem todos os outros seres. Isto provocou que a vida espiritual fosse alargada para além dos mosteiros. A noção de Buda deixou de se limitar a uma série de personagens históricos, o último dos quais fora Shakyamuni ou Gautama, para se referir a um princípio fundamental da auto-existência de despertar espiritual ou iluminação.

O budismo Mahayana defende ainda que quando os ensinamentos do 24º Buda na fase actual do mundo (o Gautama) declinarem, como inevitavelmente sucederá na época de desordem presente, virá o futuro Buda Maitreia.

As formas de budismo — O budismo tibetano não é um teísmo, é uma "prática de libertação". Integrou as três tendências fundamentais do budismo indiano: Hinayana, Mahayana e Vajrayana que significam respectivamente, Pequeno Veículo, Grande Veículo e Veículo do Diamante. Todas levam à iluminação.

O Hinayana contém a doutrina original de Buda Sakyamuni, conservada na sua forma primitiva da tradição Theravada, do Sri Lanka e da Ásia de sudoeste. O Mahayana corresponde a uma interpretação moral e filosófica desta doutrina, que apareceu na Índia, 500 anos depois da existência do buda histórico. O Vajrayana é considerado como o resultado das outras duas tradições. Apela à imaginação simbólica, aos sons dos mantras (fórmula ritual usada na meditação tântrica) e à energia psíquica.

A primeira via, o Hinayana, é praticada principalmente nas instituições monásticas através de uma disciplina moral estrita, de exercícios rigorosos de meditação e de introspecção. O Mahayana baseia-se nas práticas e doutrinas do hinayana mas para os seus praticantes a verdadeira nobreza espiritual reside essencialmente no amor e na compaixão. O ideal desta segunda via é o "bodhisattva" (ser iluminado), personagem que, despida de egoísmo, aspira a realizar a iluminação para o bem de tudo o que vive. E o Vajrayana, reunião das duas vias anteriores, tem meios próprios para atingir a iluminação. Baseia-se nos ensinamentos dos tantras búdicos, que se diferenciam dos sutras (discursos pronunciados pelo Buda histórico para um largo público), por serem instruções esotéricas dadas a grupos de discípulos escolhidos. Esta via serve-se de técnicas do ioga para canalizar a energia emocional para a iluminação.

No Vajrayana, o mestre espiritual tem uma importância fundamental. O termo lama é a tradução da palavra guru, que em sânscrito significa mestre espiritual. Um lama não é forçosamente um monge e a maior parte dos monges não são lamas. Os maiores lamas tibetanos foram Padmasambhava, Marpa, Milarepa, Kunga Nyingpo e Drum Tönpa — nunca tomaram os votos monásticos e viveram como leigos ou como ioguis. Este termo tem ainda outra particularidade, a de seguir uma linhagem de mestres reencarnados. Estes lamas que são a reencarnação de outros lamas que morreram e escolheram reencarnar outra vez numa criança, também tem o título de "tulku" e de "rinpoche". O Dalai Lama é sem dúvida, o lama reencarnado mais conhecido em todo o mundo.

A reencarnação — Para os budistas, o cosmo não é eterno nem é criado. O "samsara" ou o ciclo de renascimentos continua por muitas vidas. A forma como se renasce nas outras vidas depende do "karma" de cada um (das boas ou más acções durante a vida anterior).

As pessoas voltam a nascer em seis reinos diferentes: o dos deuses, o dos deuses rebeldes, o dos fantasmas famintos, o dos infernos, o dos animais e o dos seres humanos (caracterizado pelo nascimento, velhice, doença e morte).

As primeiras representações figurativas de Buda só apareceram no século II. Mas foi identificado por vários símbolos, como a roda já mencionada, a árvore da iluminação (a árvore Bodhi) e as stupas (antigos monumentos funerários indianos que contêm relíquias), que agora marcam os lugares de peregrinação. No Tibete, as stupas transformaram-se em "chortens", com um domo a três quintos da base que simboliza os cinco elementos do mundo e o extremo é o sol sobre uma lua que simboliza a sabedoria e a compaixão. Na China e no Japão foram transformados em pagodes.

   
   
 
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