ÍNDICE
  Guia de leitura
 
  PARTE I
 
  Ética e deontologia
  Estatuto editorial
  Princípios e normas de
  conduta profissional
  Informar sem manipular,
  difamar ou intoxicar
  Privacidade
  e responsabilidade
  Seriedade e credibilidade
  O jornalista não é
  um mensageiro
 
  Critérios, géneros
  e técnicas
  Os factos e a opinião
  Regras de construção
  O rigor da escrita
  A fotografia
  A publicidade
 
  PARTE II
  Alfabeto do PÚBLICO
  Palavras, expressões e   conceitos
  A B C D E F G H I J K L M N
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  Normas e nomenclaturas
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  na Escola
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Religiões

O Islão de A a Z
por Margarida Santos Lopes

"De modo a preservar, na Ciência Política, a liberdade de espírito a que nos habituámos na Matemática, tenho sido cuidadoso em não ridicularizar o comportamento humano, nem a deplorar ou condenar, mas a compreender"
Baruch de Espinosa
Membro da comunidade hebraica portuguesa de Amsterdão, e figura maior da história intelectual do Ocidente, a ética e a metafísica constituíram a essência dos seus ensinamentos. Foi excomungado como herege por criticar a religião e os textos sagrados. O seu Deus era o Universo.

"Os habitantes da Terra dividem-se ao meio,
os que têm um cérebro, mas nenhuma religião,
e os que têm uma religião, mas nenhum cérebro".
Abdul-Ala al-Maari
Poeta e um dos maiores vultos da literatura árabe, escreveu estas linhas antes de morrer em 1057, quando os cruzados cristãos devastaram a sua cidade de Maara, na Síria.

 

Assassiyun os que são fiéis ao "Assass" ou "fundamento" da fé, terão sido, provavelmente, os primeiros suicidas do Islão. O grão-mestre e pregador supremo desta seita medieval que existiu durante 166 anos (séc. XII e XIII) foi Hassan Sabbah. A sua base era o castelo de Alamut, a Sul do Mar Cáspio, uma fortaleza sobre um rochedo, a dois mil metros de altitude. "Não basta matar os nossos inimigos", dizia Hassan aos seus fiéis. "Não somos homicidas mas executores. Devemos agir em público, para servir de exemplo. Matamos um homem, aterrorizamos outros cem mil. Todavia, não basta executar e aterrorizar, é igualmente indispensável saber morrer. Morrer é mais importante do que matar. Matamos para nos defendermos, morremos para converter, para conquistar. Conquistar é o nosso objectivo; defendermo-nos é apenas um meio". Os assassínios levados a cabo pelos homens de Sabbah pareciam tão irreais que, no Ocidente, lhes chamavam "haschichiyun" (fumadores de haxixe), sobretudo para os insultar. Alguns orientalistas julgaram ver naquele termo a origem da palavra "assassino", mas outros garantem que as únicas drogas dos discípulos de Hassan eram uma fé inabalável e a vontade de sacrifício. Como explicar a capacidade que eles tinham de se infiltrar num meio hostil, aí se fundir durante meses, estudar com precisão e travar relações com a sua presa até chegar o momento de a executar?

"Burqa" é uma expressão persa que designa a longa túnica que cobre as mulheres muçulmanas, excepto os olhos. O "chador", palavra igualmente persa, inclui o manto e o lenço que tapam todo o corpo feminino. O "hijab" é apenas o véu/lenço. O rígido código de vestuário no Islão destina-se supostamente a preservar a "modéstia" e a respeitar os rituais religiosos ("salat"). Há no entanto maior flexibilidade em relação aos homens, que também deveriam respeitar as regras de "esconder as partes que vão do umbigo ao joelho".

Caaba ou Casa de Deus, é um dos principais locais de peregrinação dos muçulmanos. Fica em Meca, na Arábia Saudita. Antes de Maomé se tornar no "Mensageiro de Alá", já a Caaba era lugar de culto a mais de 360 divindades. Era prática corrente dar sete voltas ao santuário e atirar pedras aos "djinns", pequenos e maliciosos génios que se encontravam em toda a parte. Diz a tradição que a Caaba foi edificada por Adão após a sua expulsão do Paraíso. Levada pelo Dilúvio, teria sido reconstruída por Abraão e seu filho Ismael, que aqui embutiram, na esquina sueste, a "Pedra Negra" (possivelmente um meteorito) trazida pelo anjo Gabriel. A palavra significa "cubo" e designa com bastante fidelidade a forma do edifício, que tem 15 metros de altura e dez de largura, e está inteiramente coberto por uma tinta negra, a "kiswa".

Drusos são uma das muitas sub-seitas dos Ismailitas Assassinos, tal como os Alauitas. Uns e outros concentram-se agora sobretudo na Síria e no Líbano. A crença dos drusos já tem muito pouco a ver com o Islão, embora eles ainda sejam catalogados como "muçulmanos". Esta seita foi criada em 1021 no Cairo quando um grupo de ismailitas declarou o "imã" fatimida al-Hakim como sendo a reincarnação de Ali, o primeiro "imã" xiita. Foram expulsos do Cairo para a Síria pela maioria dos Ismailitas que os consideraram hereges. O primeiro líder druso, al-Dazari, foi um turco. No início do século XIII, os drusos passaram a aceitar apenas os descendentes directos dos fiéis originais, tornando-se assim uma tribo e um grupo religioso secretos. Aceitam uma parte do Corão, adoptaram a crença judaica de que o seu Deus é exclusivo deles e aceitam a doutrina da reincarnação de Jesus. Os Alauitas, por seu turno, apareceram no século XIII como um grupo dissidente da ala síria dos Assassinos (os Ismailitas Nizariyah). Constituem hoje 10 por cento da Síria mas são a classe política dominante. As suas origens estão envoltas em lenda e mistério. É uma seita que se identifica abertamente com alguns aspectos da teologia cristã, ao ponto de celebrarem a Páscoa, mas seguem igualmente as tradições dos xiitas iranianos.

Ertogruhl era líder de uma tribo de turcos nómadas islamizados que, em 1921, ajudou um sultão seljúcida a vencer uma batalha contra um exército de tribos mongóis provenientes da Pérsia. Como recompensa, Ertogruhl recebeu o Centro-Norte da Anatólia. A Ertogruhl sucedeu Osman, um dos seus filhos, que conquistou o resto da Anatólia bizantina e chegou até Constantinopla. Na segunda metade do século XIV, os "osmanlitas" eram donos de Bizâncio e dominavam toda a Ásia Menor, a Grécia e os Balcãs. No século seguinte, dedicaram-se a conquistar o mundo árabe. Devido a uma deturpação do nome de Osman (os ingleses chamavam-lhe Othman), o seu gigantesco império tornou-se conhecido, no Ocidente, como Império Otomano. Os turcos preferiam chamar-lhe "Domínios Bem Guardados".

Fatiha é o primeiro dos 114 "suras" (capítulos) do Corão. Também se chama "Abertura do Livro" ou "Liminar". Breve, em forma de oração, foi assim traduzida para português: "Louvado seja Deus, Senhor do Universo/o Clemente, o Misericordioso,/o Soberano no Dia do Juízo,/ Servimos-Te e invocamos-Te em nosso auxílio; /Guia-nos pelo caminho direito,/ Pelo caminho dos que auxiliaste; / Não pelo dos que incorreram na Tua cólera, nem pelo dos que se perderam".

Gama'at Islamiya ou Grupo Islâmico é um dos mais violentos grupos integristas. Nasceu em 1973 nas universidades egícpcias e foi das suas fileiras que saiu Khalid al-Istambouli, o jovem de 24 anos que assassinou o Presidente Anwar Sadat quando este assistia a um desfile militar em 6 de Outubro de 1981. Renascido após várias campanhas de repressão, o Gama'at Islamiya chegou a constituir, de 1992 a 1997 uma verdadeira ameaça ao Governo de Hosni Mubarak, o sucessor de Sadat que também tentou matar. Lançou uma violenta campanha para impor um Estado baseado na "sharia", a lei islâmica, massacrando mais de 1200 pessoas, desde soldados até cristãos coptas e turistas estrangeiros. O regime lançou então uma ofensiva que neutralizou e decapitou a organização. Os chefes estão no exílio ou na cadeia. Sem recursos financeiros, eles propuseram tréguas às autoridades, em Março de 1998, embora alguns militantes tenham sido entretanto recrutados por Osama Bin Laden. Outras organizações extremistas são a também egípcia Al-Jihad, cujo antigo líder, Ayman Zwahri, se tornou no "braço direito" do "hóspede" dos taliban no Afeganistão; e ainda os Grupo(s) Islâmico(s) Armado(s) na Argélia, onde uma guerra quase civil já causou mais de 100 mil mortos desde que os militares anularam eleições legislativas de 1991 ganhas pela Frente Islâmica de Salvação (FIS).

Hanafita é uma das quatro escolas clássicas da lei islâmica que devem o seu nome aos juristas escolhidos pelos primeiros imperadores abássidas para clarificar e aplicar essa legislação. Assim, a escola Malikita, a mais velha, foi fundada em Medina por Maliki ibn Anas, que alterou o direito alegado pelos califas omêiadas de fazer leis sem referências ao Corão, reforçando a importâncias da "hadith" (tradição oral). A escola Shafita, a maior e mais importante durante o período dos abássidas, foi fundada por Idris al-Shafi em Bagdad. Ele ensinou, por exemplo, que o conhecimento perfeito da "sharia" só podia ser conseguido através da revelação divina do Corão ou em precedentes de inspiração divina ("sunna") do profeta Maomé, através de relatos autênticos ("hadith"). A razão humana seria apenas usada nos casos em que não se aplicasse a revelação divina. A escola Hanifita também nasceu em Bagdad, criada por Abu al-Hanafah. Este foi o que menos aceitou basear regimes legais inteiramente no Livro Sagrado ou nos "hadith", aconselhando, por exemplo, a que os duros castigos corânicos ("Hadd") fossem aplicados muito raramente e apenas para servirem de exemplo. Finalmente, a escola Hanbalita — de longe a mais fundamentalista das quatro — foi fundada por Ahmad ibn Hanbal, um jurista para quem a "sharia" se deveria basear exclusivamente no Corão.

Ithna-Ashariyah ou os "Duodecimanes" é o maior e mais ortodoxo dos grupos xiitas (ver letra X), ao qual pertence mais de 90 por cento da população do Irão e metade da do Iraque. Também predomina na antiga república soviética do Azerbaijão e tem minorias nas monarquias árabes do Golfo Pérsico. Este grupo acredita que os descendentes directos do profeta Maomé — a sua filha Fátima e o seu genro Ali — são os legítimos governantes do mundo islâmico, porque estão "limpos de pecado e do erro" e têm a mesma autoridade do Mensageiro de Alá. Os "Duodecimanes" devem o seu nome a Muhammad ibn al-Askari, o décimo segundo "imã" (guia espiritual) desde Ali. Após a morte do seu pai, Hasan, em 873, al-Askari tornou-se "imã" aos quatro anos, mas desapareceu misteriosamente da sua casa em Samara, actual Iraque, e nunca foi encontrado. Como não tinha irmãos, a sua dinastia extinguiu-se. Os xiitas recusam-se, porém, a acreditar que ele tenha morrido e confiam que regressará como "al-Mahdi" ou "O Escolhido" que, segundo o Corão, voltará pouco depois do fim do mundo.

Jihad "deriva da raíz trilítera J-H-D (de onde provém também a palavra muJaHiDin) que indica acções relativas a esforço", explicou ao PÚBLICO Fernando Branco Correia, do Gabinete de Estudos Árabes do Departamento de História da Universidade de Évora. Pode significar "esforçar-se por", "batallhar", "aplicar-se", mas também "ir ao limite do possível, não excluindo, porém, a possibilidade de haver luta. A identificação, automática e simplista, do termo com "guerra santa", acrescenta Branco Correia, "é redutora na medida em que se dá, como única, a interpretação mais radical desse conceito".

Karim (O Generoso) é um dos 99 nomes árabes de Deus. Alá é o mais conhecido, mas há outros, que os pais muçulmanos dão aos filhos, como Hakim (O Sábio) ou Aziz (O Poderoso). Com o Islão assiste-se à transformação da escrita numa arte suprema: a caligrafia. A partir daqui, as letras do alfabeto árabe citariam as palavras sagradas do Corão e reproduziriam graficamente o nome de Alá e do seu Profeta. A palavra "islam" significa "submissão" à vontade de Deus. É um substantivo tirado do verbo árabe "aslama", que quer dizer "submeter-se". O particípio activo deste verbo, "muslim", designando aquele que se submete e obedece, conduziu ao termo português "muçulmano".

Lots, Salomão e Job são alguns dos profetas que o Corão cita. O Livro Sagrado dos muçulmanos ignora Oseías, Ezequiel, Isaías e Jeremias, mas faz referência a Jesus e São João Baptista. A grande novidade é que Abraão e Ismael são considerados "patriarcas dos árabes".

Maomé ibn (filho de) Abdallah nasceu na cidade de Meca, na Arábia, por volta de 570 d.C. Não se conhece o ano exacto do seu nascimento e muitos pormenores da sua infância continuam obscuros. Alguns historiadores dizem que o seu pai morreu antes de ele nascer, outros que morreu tinha Maomé dois meses de vida. Até aos seis anos, ficou com a mãe e depois desta falecer foi entregue aos cuidados do avô, Abdel Muttalib, e mais tarde à tutela do tio Abu Talib, chefe do clã Hashim. Ser órfão na Meca do século VII era um terrível defeito, mesmo para os homens mais talentosos. Provavelmente por ser pobre, Maomé ficou solteiro até aos 25 anos. A sua primeira mulher — e primeira crente — foi a sua prima Kadhija bin Khuwaylid, uma próspera viúva de 40 anos. Este casamento, por volta de 595 d.C., teve grande importância porque Khadija abriu a Maomé as portas da vida comercial de Meca e os seus negócios floresceram permitindo-lhe tempo livre para a meditação. Foi num desses momentos de isolamento que Alá (Deus, em árabe) se teria revelado por intermédio do arcanjo Gabriel (Djibril). Foi então que ele se assumiu como "mensageiro" divino, escolhido para convidar outros a abandonar o mal antes do Juízo Final.

Nadhir era o nome de uma das duas tribos judaicas (a outra era a dos Qorayza) de Medina que declararam abertamente a sua hostilidade ao profeta do Islão. Maomé declarou-lhes guerra e, a partir do mês de Fevereiro de 624, exortou os seus discípulos a rezar, já não em direcção a Jerusalém mas sim na de Meca. Em Agosto ou Setembro de 625, ele ordena aos Nadhir que abandonem Medina. Os judeus, que eram abastados proprietários de terras ou comerciantes, decidem resistir. Os muçulmanos bloqueiam-nos, os sitiados rendem-se. Muitos são mortos e outros vêem os seus bens confiscados. As tribos judaicas constituíam, para Maomé, um "inimigo interno".

Omar Khayyâm (439-1048) nasceu em Nishapur, no Irão. Foi astrónomo, matemático, físico e discípulo do seu compatriota Avicena ou Ibn Sina, médico e filósofo, cuja obra, influenciada por Aristóteles e Platão, constituiu uma referência que chegou até à Europa. Foi no entanto como poeta, possivelmente um sufita (místico islâmico) que Omar Khayyâm alcançou a sua maior fama. Sobretudo no Ocidente, graças às suas quadras ("Robâiyât"), desconhecidas durante quase cinco séculos. Nos seus versos abundam as referências ao vinho, mas os exegetas tendem a explicar isso como "um símbolo" que representa a êxtase religiosa, a procura de uma união com Deus.

Pahlavi foi a útlima dinastia da Pérsia antes do país se transformar em República Islâmica do Irão. Substituiu a dos Qajar quando um sargento analfabeto chamado Reza Khan (ou Mestre Reza) se tornou um temível chefe militar, pôs fim ao caos no país, se fez nomear sucessivamente ministro da guerra, primeiro-ministro e finalmente xá (rei). Foi em 1926 que ele adoptou o apelido "Pahlavi" e se sentou no Trono do Pavão. Ao seu lado, no dia da coroação, estava Shapour Mohammed Reza, o primeiro princípe herdeiro da dinastia Pahlavi e também o seu último imperador (foi derrubado em 1979 pelo ayatollah Khomeini).

Qutb (Sayyid), o egípcio que aos 10 anos de idade declamava sem ler todos os versículos do Corão, tornou-se o ideólogo da Sociedade dos Irmãos Muçulmanos logo após a morte, em 1949, de Hasan al-Banna, o fundador desta organização. Qutb foi enforcado pelo Presidente Nasser em 1966, mas continua a ser uma das principais fontes de inspiração de grupos integristas (sejam argelinos ou paquistaneses) que procuram destruir as sociedades ímpias ou pagãs ("jahiliyya"). Entre 1951 e o ano da sua execução, o homem que mais tarde se tornou líder da Irmandade Muçulmana escreveu oito obras doutrinais, cinco delas na prisão, traduzidas em várias línguas. A mais importante, "Sinais", é um manifesto em que denuncia os imperialistas ocidentais, os comunistas russos e chineses e os muçulmanos laicos. O seu objectivo é "a instauração da lei corânica, em todos os aspectos da vida e da política, como solução para os problemas da Humanidade".

Rashid (Harum al-), o quinto califa abássida, é a figura mais representativa do período da civilização islâmica conhecido como o das "Mil e Uma Noites". Com capital em Bagdad, esta dinastia transformou a cidade num gigantesco centro cultural. Um dos filhos de al-Rashid fundou a "Casa da Sabedoria" onde foram traduzidas, pela primeira vez, para a língua árabe obras como as de Ptolomeu, Arquimedes, Aristóteles e Platão. Foi neste reinado que foram publicados trabalhos sobre óptica, música, alquimia, astrologia e filosofia, Também foram divulgadas as primeiras descrições clínicas que se conhecem sobre a varíola e o sarampo. Mas os abássidas nunca foram militarmente poderosos e um dos erros que cometeram foi confiar mais nos turcos do que nos árabes. A partir do século IX, os califas entraram em declínio e, em 1055, os seljúcidas apoderaram-se da actual capital do Iraque.

   
   
 
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