ÍNDICE
  Guia de leitura
 
  PARTE I
 
  Ética e deontologia
  Estatuto editorial
  Princípios e normas de
  conduta profissional
  Informar sem manipular,
  difamar ou intoxicar
  Privacidade
  e responsabilidade
  Seriedade e credibilidade
  O jornalista não é
  um mensageiro
 
  Critérios, géneros
  e técnicas
  Os factos e a opinião
  Regras de construção
  O rigor da escrita
  A fotografia
  A publicidade
 
  PARTE II
  Alfabeto do PÚBLICO
  Palavras, expressões e   conceitos
  A B C D E F G H I J K L M N
  O P Q R S T U V W X Y Z
 
  Normas e nomenclaturas
  Acentuação
  Verbos
  Maiúsculas & minúsculas
  Topónimos estrangeiros
  Siglas
  Factores de conversão
  Hierarquias (militares e   policiais)
  Religiões
 
  ANEXOS
  Fichas da lei
  Projecto PÚBLICO
  na Escola
  Regulamento do Conselho de
  Redacção do PÚBLICO
  Estatuto do Provedor
  do Leitor do PÚBLICO
  Código Deontológico
  do Jornalista
 
  


Regras de construção

A construção de um texto jornalístico não dispensa a criatividade de quem o redige — mas assenta numa técnica própria. No PÚBLICO, o título e o antetítulo, a entrada, o "lead", os subtítulos e a fotografia constituem momentos privilegiados dessa construção, que deverá ter unidade, coerência e eficácia informativa.

1. "Lead", abertura e arquitectura do texto

a. Nas notícias e nos textos de abertura, no 1º e 2º cadernos, o "lead" deverá respeitar formalmente as regras clássicas:

— o quê (o que aconteceu, está ou vai acontecer)
— quem (os agentes da acção)
— quando (dia da semana e do mês, horas)
— onde (o local do acontecimento)
— como (as circunstâncias)
— porquê (os motivos e as razões)

O "como" e o "porquê" — por vezes, com o sentido de "para quê" — são normalmente difíceis de resumir em poucas palavras, justificando-se o seu desenvolvimento no corpo do texto. O "quando" e o "onde" devem ser omitidos nos casos óbvios: em Portugal, agora, actualmente. No "onde", se o local for pouco conhecido, deve ser acrescentada uma precisão: "A população de Barbacena, a 17 quilómetros de Elvas" ou "Um DC-10, da companhia francesa UTA, caiu ontem à noite no deserto sariano de Tenerée (Chade), com 171 pessoas a bordo".

Mas respeitar as regras não significa que o jornalista adopte uma visão burocrática ou oficiosa dos acontecimentos. Pelo contrário, o "lead" deve conter sempre um elemento de novidade e frescura noticiosa.

O "lead" puro é aquele que introduz uma novidade absoluta, uma notícia em primeira mão. Frequentemente, porém, um facto cujos antecedentes são já conhecidos contém potencialidades informativas inexploradas e que ultrapassam em importância a própria revelação inicial do facto. Por isso, e ao contrário de uma funesta e ridícula tradição portuguesa, o jornalista nunca se permitirá ignorar um tema de indiscutível interesse público só porque o seu tratamento coube a outro órgão de informação. O "lead", porém, não deverá reproduzir apenas aquilo que já é conhecido a partir de notícias anteriores, devendo incorporar sempre um elemento novo, susceptível de introduzir uma outra lógica na sequência dos factos.

O "lead" determina sempre a construção do texto e o título da peça. Por isso, a sua escolha nunca pode ser obra do acaso ou de um capricho formal. Seja qual for o ângulo que o jornalista privilegie no arranque de um texto, é a partir daí que o leitor deve captar o sentido global da narrativa. O encadeamento dos factos tem de respeitar uma sequência lógica, em que os elementos informativos vão decrescendo de importância até ao fim.

Só que há uma diferença fundamental entre um relatório e um texto jornalístico. A vivacidade de um texto jornalístico depende da exploração dos efeitos de descontinuidade, de suspensão, dos cortes rápidos na narrativa. A introdução de elementos contraditórios, o pinguepongue das declarações curtas, a descrição dos ambientes e a evocação do "background" devem processar-se a uma cadência em que os tempos mortos não existam. Um texto jornalístico não deve ter frases que ultrapassem a leitura de uma ideia, um conceito, uma sugestão, uma informação singulares. E um parágrafo não deve acumular informações que excedam o contraponto entre dois ou três desses elementos (até ao máximo de 500 caracteres).

b. A abertura de uma reportagem não é um "lead" noticioso. Mas a lógica de construção do texto não deixa, por isso, de ser idêntica. Tem apenas um tempo e um espaço diferentes. Daí que uma reportagem possa ter como abertura um apontamento impressivo muito forte, emblemático do sentido do texto, independentemente da sua carga noticiosa imediata. Enquanto são os factos que estruturam a arquitectura do "lead" noticioso, são os ambientes, as emoções, o inesperado ou o insólito, significativos de uma determinada situação, que criam o clima propício para mergulhar o leitor na viagem — curta ou longa — que toda a reportagem deve ser. Nessa medida, a retenção da atenção do leitor depende sempre da capacidade de o surpreender, de avançar com um novo ângulo de abordagem do tema, uma mudança de registo que quebre a atracção fatal da monotonia.

Um critério básico deve ser seguido na atitude do jornalista perante o material informativo: sempre que possível, ele deve trabalhar por antecipação e preparar o leitor para aquilo que, nesse dia ou nos dias seguintes, vai acontecer. O jornalismo é informação sobre o que acontece e, nesse sentido, sobre o passado imediato. Mas pode e deve ser também, e cada vez mais, informação sobre o futuro imediato, sempre que se trate de situações previstas e agendadas (como, por exemplo, as conferências de imprensa). O tempo do jornalista não tem de estar condicionado aos calendários oficiais. Ele tem de fornecer os dados necessários ao leitor para este ter a informação mais actualizada sobre os factos no momento em que estes acontecem.

Esta atitude perante a actualidade — mais futuro, menos passado — reflecte-se obviamente na arquitectura dos textos, estimulando a sua agressividade informativa.

c. Uma crítica ou um comentário não dispensam igualmente um "lead" informativo e esclarecedor para o leitor "que não sabe e quer saber".

Normas práticas:

— O "lead" de uma notícia não deve ultrapassar, em princípio, os 300 caracteres, podendo comportar mais do que um período. No caso do texto de abertura do destaque, o "lead" poderá ser mais extenso. Já o arranque dos textos de outros géneros jornalísticos pode ser maior. Parágrafos ou períodos demasiado compridos provocam dispersão e cansaço no leitor.

— Um "lead" deve ser sempre claro, preciso e correcto: não deve começar com uma negativa nem de forma dubitativa, interrogativa ou condicional. Tão-pouco por um gerúndio, uma conjunção ou expressões gastas do tipo "como se sabe", "registe-se", "recorde-se", "de acordo", etc. (cf. Alfabeto do PÚBLICO).

— Tanto quanto possível deve acentuar a acção: "Forças rebeldes ocuparam ontem de surpresa a capital X, pondo fim a um cerco de vários dias."

— Nos "leads" devem evitar-se as interrogações e as citações, salvo quando derivam de fontes de autoridade indiscutível. A notícia é mais importante do que quem a fornece. Numa entrevista, pelo contrário, uma citação pode ser uma boa escolha para "dar a conhecer" o entrevistado. Uma imagem forte servirá para "dar a ver" uma reportagem. Uma crónica ou um comentário poderão também obedecer a outras variações.

— Quem escreve para informar deve sempre começar uma notícia com mais informação do que aquela de que o leitor dispõe no dia em que compra o jornal.

— Os textos de abertura (1º e 2º cadernos, suplementos e magazine) começam sempre com capitular. Todos os restantes textos no PÚBLICO abrem com caixa alta: as duas primeiras palavras, sempre que sintetizem uma unidade informativa; uma só no caso contrário ou quando a colunagem assim o justificar. Exemplos: "O CANDIDATO" ou "JORGE SAMPAIO"; "SETÚBAL pode".

2. Regras para os antetítulos, títulos, subtítulos, entradas, fotos, legendas...

a. Os títulos e os antetítulos dos textos informativos devem ser sempre inspirados no "lead", o que implica o rigor deste. A liberdade "poética" de escolher o título noutra zona do texto, que não no "lead", não é admissível. Se o "lead" não está devidamente construído e não justifica o título, corrija-se o "lead". Mas, se o "lead" respeita as regras, não há razão alguma para que o antetítulo e o título fujam ao seu conteúdo.

Os títulos e antetítulos (bem como a entrada) devem constituir unidades de sentido por si só, não devem ser repetitivos em relação ao "lead", nem "matar" a informação contida nele. É, no entanto, admissível que o antetítulo e o título sejam complementares entre si, deixando, neste caso, cada um de constituir uma unidade de sentido por si só. Por outro lado, a obrigação destes se inspirarem no "lead" não significa que repitam as mesmas expressões. Inspiração não é sinónimo de repetição. Um mau exemplo: "Secretário de Estado revelou ontem" (antetítulo); "Estado deve 500 milhões à Segurança Social" (título); "O Estado deve 500 milhões de contos à Segurança Social, revelou ontem o secretário de Estado" ("lead").

b. Títulos imaginativos e vigorosos são uma característica do PÚBLICO. Mas isso não deve confundir-se com a facilidade dos trocadilhos ou das "private jokes" cifradas. Entre um título descritivo e sóbrio, mas rigoroso, e outro que se reduz a um mero jogo de palavras, o primeiro deve ser a opção correcta. A utilização do humor pode ser desejável, mas o traço grosso da caricatura não tem lugar.

c. Os títulos descritivos não devem exceder as seis palavras, e os títulos-síntese as quatro.

d. Os subtítulos não devem exceder as três palavras e as duas linhas a uma coluna, intervalados entre si por 2000 caracteres. Devem ser sugestivos, captando o essencial do trecho do texto que introduzem, sem anular o "suspense" da leitura nem repetir palavras ou ideias sintetizadas noutros subtítulos, no título e nas legendas da peça. Não devem vir muito antes nem depois do ponto a que se referem e, nas entrevistas, não devem ser inseridos entre uma pergunta e uma resposta.

e. As entradas dos textos, as fotografias e as legendas, desde que estas se encontrem associadas ao bloco do título, devem ser lidas de forma complementar com o título e antetítulo, como se fossem peças de um mesmo "puzzle". Numa situação limite, em que o leitor apenas tivesse tempo para ler esse conjunto de sinais, eles deveriam ser suficientes para lhe fornecer uma informação mínima. Ou seja, esse conjunto terá que conter os elementos informativos essenciais do texto, numa interacção conjugada.

f. As fotografias, independentemente do seu valor dramático e informativo específico, não podem estar desfasadas do sentido do texto. A autonomia da fotografia é total nas fotonotícias, porque é nelas que se concentra a informação, mas não é admissível, por maior que seja a qualidade de uma fotografia, paginá-la junto a um texto cujo conteúdo não tem nada a ver com a expressão da imagem.

g. As legendas contêm sempre um elemento identificador de pessoas ou situações. Nas fotos maiores, essa identificação é completada com uma frase curta, de preferência retirada do texto. Nos grandes planos de rostos, a uma coluna (ou no caso da foto do Protagonista), a legenda limita-se à identificação. Nos pequenos selos inseridos nos destaques de primeira página ou nas breves, não há legenda.

h. As entradas, quer na manchete e nos textos de abertura das secções, quer nos textos dos suplementos ou do magazine dominical, quer ainda nas notícias de segundo plano, constituem uma zona intermédia entre o antetítulo e o título, por um lado, e o "lead", por outro. Não devem, por isso, ser repetitivas relativamente ao "lead", mas criar um clima interrogativo e de expectativa de introdução ao "lead".

As entradas não deverão exceder os 300 caracteres, salvo no caso dos destaques e em circunstâncias em que o arranjo gráfico da página (conjugação com fotografia, etc.) o justifiquem — é o caso das superentradas.

i. Deve sempre evitar-se a repetição de palavras nos títulos e antetítulos de cada texto ou no conjunto de textos paginados no mesmo plano.

3. ... e das assinaturas

Princípio geral: todos os textos do PÚBLICO são assinados, à excepção das últimas e das breves. É um princípio assente num pressuposto do jornal: a incorporação própria da sua Redacção, mesmo quando se trata de informação baseada em agências. A prática aconselha, no entanto, a adopção rigorosa dos seguintes critérios, sob pena de procedimentos profissionalmente reprováveis:

1 — A assinatura de um texto deve reflectir de forma rigorosa a sua autoria. Se há mais de uma participação para um dado texto, a ordem de assinatura deve reflectir a contribuição de cada um dos autores. Em textos escritos de parceria, a ordem das assinaturas deve ser alfabética, pelo apelido, sempre ao mesmo nível de relevância e nunca com o artifício da assinatura do redactor que organizou a versão final do texto em cima, com asterisco, e a outra assinatura no fim do texto. O recurso à assinatura com asterisco é também recomendável quando o autor usa material de "background" recolhido por outro jornalista ou introduz informações pontuais obtidas por outro jornalista. No caso da contribuição de correspondentes fora da Redacção vigora o mesmo princípio, embora deva prevalecer a prioridade da assinatura do jornalista mais próximo do acontecimento.

2 — Os textos baseados em despachos de agências devem ser assinados de acordo com o tipo de contribuição do redactor que elaborou a notícia.

a. Quando a sua contribuição se cingiu a uma mera tradução, adaptação e/ou edição do telex, a notícia deve mencionar no fim apenas o nome da agência Ex.: AFP, Reuter.

b. Quando o resultado é um trabalho de fusão de dois ou mais despachos de agência, sem nenhuma participação do jornalista além do trabalho de tradução, adaptação e/ou edição, a assinatura deve apenas referir as agências noticiosas envolvidas, segundo a ordem em que tenham contribuído para o texto final Ex.: AFP e Reuter, Reuter e AFP.

É, pois, um erro grave, por exemplo, uma peça sobre um surto de cólera na Índia ser assinada com asterisco e, no fim, um "* com Reuter e AFP", quando eram estas agências que tinham jornalistas no local e se citava testemunhos directos e pormenores de reportagem delas. Só coloca mal quem faz tal apropriação indevida e, naturalmente, o jornal.

c. Se houver algum contributo suplementar ao mero trabalho de tradução, adaptação e/ou edição — juntando-se-lhe explicações suplementares ou "background", por exemplo —, o texto deve ser assinado pela agência e pelo jornal, sem referência explícita ao nome do jornalista que o reformulou Ex.: Reuter e PÚBLICO.

d. Um trabalho destes só deve levar o nome do jornalista se o material recebido da agência funcionar apenas como uma fonte como qualquer outra ou de conteúdo residual e o jornalista tiver conhecimentos, experiência ou informações novas que o legitimem. E sempre com a indicação obrigatória da(s) agência(s) utilizada(s) no corpo da notícia redigida.

Esta menção à(s) agência(s) deve ser feita sempre de forma proporcional à respectiva contribuição. É errado, por exemplo, relegar para o fim da peça a menção a uma agência noticiosa quando ela contribuiu para o "lead" do artigo.

Quando a notícia for originária de uma agência, mas com uma contribuição final determinante do jornalista encarregado de a trabalhar que justifique a sua assinatura, ela deve ser devidamente atribuída logo no "lead" Ex.: "O novo director da Agência Espacial Europeia será Jean Dupont..., noticiou a agência Reuter.".

e. Excluem-se das regras acima referidas:

— Casos em que os despachos de agência contenham graves imprecisões ou erros, o que tornaria injusto para o jornal atribuir-lhes a autoria da notícia correcta. Nestas circunstâncias, ainda que se aproveitem elementos dos telexes, a assinatura da peça não deve incluir o nome da agência. (Uma solução possível a adoptar em certos casos poderá ser não assinar a peça.)

— Casos em que os telexes citam outras fontes escritas e em que seria ocioso referir a cadeia de fontes Ex.: "... noticiou o ‘New York Times’, citado pela Reuter". A opção deve, então, ser atribuir a fonte original.

Esta excepção deve apenas aplicar-se a fontes escritas e em caso algum se pode estender a outras fontes citadas por agências, que devem ser sempre referidas a par da agência.

f. Em caso de dúvida quanto à melhor fórmula de assinatura a adoptar, deve ser beneficiada sempre a agência noticiosa. Em caso algum o jornalista se pode colocar numa posição duvidosa do ponto de vista deontológico.

3 — Os textos baseados em notícias de outros órgãos de comunicação devem mencionar sempre, de forma inequívoca, a sua origem. Atribuição clara e precisa Ex.: "A polémica foi levantada por um texto do semanário ‘Expresso’...", em vez de formulações imprecisas e ambíguas Ex.: "... um semanário da capital...".

4 — Adoptam-se os mesmos critérios nos textos de co-autoria:

a. Ordem alfabética.

b. Prioridade aos correspondentes e enviados, quando a origem da notícia ou o facto em causa assim o aconselharem.

5 — Assinaturas dos tradutores: os textos traduzidos de órgãos de imprensa estrangeira são assinalados como tal e assinados no fim pelo respectivo tradutor.

   
   
 
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