Regras de construção
A construção de um texto jornalístico
não dispensa a criatividade de quem o redige mas assenta
numa técnica própria. No PÚBLICO, o título
e o antetítulo, a entrada, o "lead", os subtítulos
e a fotografia constituem momentos privilegiados dessa construção,
que deverá ter unidade, coerência e eficácia
informativa.
1. "Lead", abertura e arquitectura do
texto
a. Nas notícias e nos textos de abertura, no
1º e 2º cadernos, o "lead" deverá respeitar
formalmente as regras clássicas:
o quê (o que aconteceu, está
ou vai acontecer)
quem (os agentes da acção)
quando (dia da semana e do mês, horas)
onde (o local do acontecimento)
como (as circunstâncias)
porquê (os motivos e as razões)
O "como" e o "porquê"
por vezes, com o sentido de "para quê"
são normalmente difíceis de resumir em poucas
palavras, justificando-se o seu desenvolvimento no corpo do texto.
O "quando" e o "onde" devem ser omitidos nos
casos óbvios: em Portugal, agora, actualmente. No "onde",
se o local for pouco conhecido, deve ser acrescentada uma precisão:
"A população de Barbacena, a 17 quilómetros
de Elvas" ou "Um DC-10, da companhia francesa UTA, caiu
ontem à noite no deserto sariano de Tenerée (Chade),
com 171 pessoas a bordo".
Mas respeitar as regras não significa que o
jornalista adopte uma visão burocrática ou oficiosa
dos acontecimentos. Pelo contrário, o "lead" deve
conter sempre um elemento de novidade e frescura noticiosa.
O "lead" puro é aquele que introduz
uma novidade absoluta, uma notícia em primeira mão.
Frequentemente, porém, um facto cujos antecedentes são
já conhecidos contém potencialidades informativas
inexploradas e que ultrapassam em importância a própria
revelação inicial do facto. Por isso, e ao contrário
de uma funesta e ridícula tradição portuguesa,
o jornalista nunca se permitirá ignorar um tema de indiscutível
interesse público só porque o seu tratamento coube
a outro órgão de informação. O "lead",
porém, não deverá reproduzir apenas aquilo
que já é conhecido a partir de notícias anteriores,
devendo incorporar sempre um elemento novo, susceptível de
introduzir uma outra lógica na sequência dos factos.
O "lead" determina sempre a construção
do texto e o título da peça. Por isso, a sua escolha
nunca pode ser obra do acaso ou de um capricho formal. Seja qual
for o ângulo que o jornalista privilegie no arranque de um
texto, é a partir daí que o leitor deve captar o sentido
global da narrativa. O encadeamento dos factos tem de respeitar
uma sequência lógica, em que os elementos informativos
vão decrescendo de importância até ao fim.
Só que há uma diferença fundamental
entre um relatório e um texto jornalístico. A vivacidade
de um texto jornalístico depende da exploração
dos efeitos de descontinuidade, de suspensão, dos cortes
rápidos na narrativa. A introdução de elementos
contraditórios, o pinguepongue das declarações
curtas, a descrição dos ambientes e a evocação
do "background" devem processar-se a uma cadência
em que os tempos mortos não existam. Um texto jornalístico
não deve ter frases que ultrapassem a leitura de uma ideia,
um conceito, uma sugestão, uma informação singulares.
E um parágrafo não deve acumular informações
que excedam o contraponto entre dois ou três desses elementos
(até ao máximo de 500 caracteres).
b. A abertura de uma reportagem não é
um "lead" noticioso. Mas a lógica de construção
do texto não deixa, por isso, de ser idêntica. Tem
apenas um tempo e um espaço diferentes. Daí que uma
reportagem possa ter como abertura um apontamento impressivo muito
forte, emblemático do sentido do texto, independentemente
da sua carga noticiosa imediata. Enquanto são os factos que
estruturam a arquitectura do "lead" noticioso, são
os ambientes, as emoções, o inesperado ou o insólito,
significativos de uma determinada situação, que criam
o clima propício para mergulhar o leitor na viagem
curta ou longa que toda a reportagem deve ser. Nessa medida,
a retenção da atenção do leitor depende
sempre da capacidade de o surpreender, de avançar com um
novo ângulo de abordagem do tema, uma mudança de registo
que quebre a atracção fatal da monotonia.
Um critério básico deve ser seguido
na atitude do jornalista perante o material informativo: sempre
que possível, ele deve trabalhar por antecipação
e preparar o leitor para aquilo que, nesse dia ou nos dias seguintes,
vai acontecer. O jornalismo é informação sobre
o que acontece e, nesse sentido, sobre o passado imediato. Mas pode
e deve ser também, e cada vez mais, informação
sobre o futuro imediato, sempre que se trate de situações
previstas e agendadas (como, por exemplo, as conferências
de imprensa). O tempo do jornalista não tem de estar condicionado
aos calendários oficiais. Ele tem de fornecer os dados necessários
ao leitor para este ter a informação mais actualizada
sobre os factos no momento em que estes acontecem.
Esta atitude perante a actualidade mais futuro,
menos passado reflecte-se obviamente na arquitectura dos
textos, estimulando a sua agressividade informativa.
c. Uma crítica ou um comentário não
dispensam igualmente um "lead" informativo e esclarecedor
para o leitor "que não sabe e quer saber".
Normas práticas:
O "lead" de uma notícia
não deve ultrapassar, em princípio, os 300 caracteres,
podendo comportar mais do que um período. No caso do texto
de abertura do destaque, o "lead" poderá ser
mais extenso. Já o arranque dos textos de outros géneros
jornalísticos pode ser maior. Parágrafos ou períodos
demasiado compridos provocam dispersão e cansaço
no leitor.
Um "lead" deve ser sempre claro,
preciso e correcto: não deve começar com uma negativa
nem de forma dubitativa, interrogativa ou condicional. Tão-pouco
por um gerúndio, uma conjunção ou expressões
gastas do tipo "como se sabe", "registe-se",
"recorde-se", "de acordo", etc. (cf. Alfabeto
do PÚBLICO).
Tanto quanto possível deve acentuar
a acção: "Forças rebeldes ocuparam ontem
de surpresa a capital X, pondo fim a um cerco de vários
dias."
Nos "leads" devem evitar-se
as interrogações e as citações, salvo
quando derivam de fontes de autoridade indiscutível. A
notícia é mais importante do que quem a fornece.
Numa entrevista, pelo contrário, uma citação
pode ser uma boa escolha para "dar a conhecer" o entrevistado.
Uma imagem forte servirá para "dar a ver" uma
reportagem. Uma crónica ou um comentário poderão
também obedecer a outras variações.
Quem escreve para informar deve sempre
começar uma notícia com mais informação
do que aquela de que o leitor dispõe no dia em que compra
o jornal.
Os textos de abertura (1º e 2º
cadernos, suplementos e magazine) começam sempre com capitular.
Todos os restantes textos no PÚBLICO abrem com caixa alta:
as duas primeiras palavras, sempre que sintetizem uma unidade
informativa; uma só no caso contrário ou quando
a colunagem assim o justificar. Exemplos: "O CANDIDATO"
ou "JORGE SAMPAIO"; "SETÚBAL pode".
2. Regras para os antetítulos, títulos,
subtítulos, entradas, fotos, legendas...
a. Os títulos e os antetítulos dos textos
informativos devem ser sempre inspirados no "lead", o
que implica o rigor deste. A liberdade "poética"
de escolher o título noutra zona do texto, que não
no "lead", não é admissível. Se o
"lead" não está devidamente construído
e não justifica o título, corrija-se o "lead".
Mas, se o "lead" respeita as regras, não há
razão alguma para que o antetítulo e o título
fujam ao seu conteúdo.
Os títulos e antetítulos (bem como a
entrada) devem constituir unidades de sentido por si só,
não devem ser repetitivos em relação ao "lead",
nem "matar" a informação contida nele. É,
no entanto, admissível que o antetítulo e o título
sejam complementares entre si, deixando, neste caso, cada um de
constituir uma unidade de sentido por si só. Por outro lado,
a obrigação destes se inspirarem no "lead"
não significa que repitam as mesmas expressões. Inspiração
não é sinónimo de repetição.
Um mau exemplo: "Secretário de Estado revelou ontem"
(antetítulo); "Estado deve 500 milhões à
Segurança Social" (título); "O Estado deve
500 milhões de contos à Segurança Social, revelou
ontem o secretário de Estado" ("lead").
b. Títulos imaginativos e vigorosos são
uma característica do PÚBLICO. Mas isso não
deve confundir-se com a facilidade dos trocadilhos ou das "private
jokes" cifradas. Entre um título descritivo e sóbrio,
mas rigoroso, e outro que se reduz a um mero jogo de palavras, o
primeiro deve ser a opção correcta. A utilização
do humor pode ser desejável, mas o traço grosso da
caricatura não tem lugar.
c. Os títulos descritivos não devem
exceder as seis palavras, e os títulos-síntese as
quatro.
d. Os subtítulos não devem exceder as
três palavras e as duas linhas a uma coluna, intervalados
entre si por 2000 caracteres. Devem ser sugestivos, captando o essencial
do trecho do texto que introduzem, sem anular o "suspense"
da leitura nem repetir palavras ou ideias sintetizadas noutros subtítulos,
no título e nas legendas da peça. Não devem
vir muito antes nem depois do ponto a que se referem e, nas entrevistas,
não devem ser inseridos entre uma pergunta e uma resposta.
e. As entradas dos textos, as fotografias e as legendas,
desde que estas se encontrem associadas ao bloco do título,
devem ser lidas de forma complementar com o título e antetítulo,
como se fossem peças de um mesmo "puzzle". Numa
situação limite, em que o leitor apenas tivesse tempo
para ler esse conjunto de sinais, eles deveriam ser suficientes
para lhe fornecer uma informação mínima. Ou
seja, esse conjunto terá que conter os elementos informativos
essenciais do texto, numa interacção conjugada.
f. As fotografias, independentemente do seu valor
dramático e informativo específico, não podem
estar desfasadas do sentido do texto. A autonomia da fotografia
é total nas fotonotícias, porque é nelas que
se concentra a informação, mas não é
admissível, por maior que seja a qualidade de uma fotografia,
paginá-la junto a um texto cujo conteúdo não
tem nada a ver com a expressão da imagem.
g. As legendas contêm sempre um elemento identificador
de pessoas ou situações. Nas fotos maiores, essa identificação
é completada com uma frase curta, de preferência retirada
do texto. Nos grandes planos de rostos, a uma coluna (ou no caso
da foto do Protagonista), a legenda limita-se à identificação.
Nos pequenos selos inseridos nos destaques de primeira página
ou nas breves, não há legenda.
h. As entradas, quer na manchete e nos textos de abertura
das secções, quer nos textos dos suplementos ou do
magazine dominical, quer ainda nas notícias de segundo plano,
constituem uma zona intermédia entre o antetítulo
e o título, por um lado, e o "lead", por outro.
Não devem, por isso, ser repetitivas relativamente ao "lead",
mas criar um clima interrogativo e de expectativa de introdução
ao "lead".
As entradas não deverão exceder os 300
caracteres, salvo no caso dos destaques e em circunstâncias
em que o arranjo gráfico da página (conjugação
com fotografia, etc.) o justifiquem é o caso das superentradas.
i. Deve sempre evitar-se a repetição
de palavras nos títulos e antetítulos de cada texto
ou no conjunto de textos paginados no mesmo plano.
3. ... e das assinaturas
Princípio geral: todos os textos do PÚBLICO
são assinados, à excepção das últimas
e das breves. É um princípio assente num pressuposto
do jornal: a incorporação própria da sua Redacção,
mesmo quando se trata de informação baseada em agências.
A prática aconselha, no entanto, a adopção
rigorosa dos seguintes critérios, sob pena de procedimentos
profissionalmente reprováveis:
1 A assinatura de um texto deve reflectir de
forma rigorosa a sua autoria. Se há mais de uma participação
para um dado texto, a ordem de assinatura deve reflectir a contribuição
de cada um dos autores. Em textos escritos de parceria, a ordem
das assinaturas deve ser alfabética, pelo apelido, sempre
ao mesmo nível de relevância e nunca com o artifício
da assinatura do redactor que organizou a versão final do
texto em cima, com asterisco, e a outra assinatura no fim do texto.
O recurso à assinatura com asterisco é também
recomendável quando o autor usa material de "background"
recolhido por outro jornalista ou introduz informações
pontuais obtidas por outro jornalista. No caso da contribuição
de correspondentes fora da Redacção vigora o mesmo
princípio, embora deva prevalecer a prioridade da assinatura
do jornalista mais próximo do acontecimento.
2 Os textos baseados em despachos de agências
devem ser assinados de acordo com o tipo de contribuição
do redactor que elaborou a notícia.
a. Quando a sua contribuição se cingiu
a uma mera tradução, adaptação e/ou
edição do telex, a notícia deve mencionar no
fim apenas o nome da agência Ex.: AFP, Reuter.
b. Quando o resultado é um trabalho de fusão
de dois ou mais despachos de agência, sem nenhuma participação
do jornalista além do trabalho de tradução,
adaptação e/ou edição, a assinatura
deve apenas referir as agências noticiosas envolvidas, segundo
a ordem em que tenham contribuído para o texto final Ex.:
AFP e Reuter, Reuter e AFP.
É, pois, um erro grave, por exemplo, uma
peça sobre um surto de cólera na Índia ser
assinada com asterisco e, no fim, um "* com Reuter e AFP",
quando eram estas agências que tinham jornalistas no local
e se citava testemunhos directos e pormenores de reportagem delas.
Só coloca mal quem faz tal apropriação indevida
e, naturalmente, o jornal.
c. Se houver algum contributo suplementar ao mero
trabalho de tradução, adaptação e/ou
edição juntando-se-lhe explicações
suplementares ou "background", por exemplo , o texto
deve ser assinado pela agência e pelo jornal, sem referência
explícita ao nome do jornalista que o reformulou Ex.: Reuter
e PÚBLICO.
d. Um trabalho destes só deve levar o nome
do jornalista se o material recebido da agência funcionar
apenas como uma fonte como qualquer outra ou de conteúdo
residual e o jornalista tiver conhecimentos, experiência ou
informações novas que o legitimem. E sempre com a
indicação obrigatória da(s) agência(s)
utilizada(s) no corpo da notícia redigida.
Esta menção à(s) agência(s)
deve ser feita sempre de forma proporcional à respectiva
contribuição. É errado, por exemplo, relegar
para o fim da peça a menção a uma agência
noticiosa quando ela contribuiu para o "lead" do artigo.
Quando a notícia for originária de uma
agência, mas com uma contribuição final determinante
do jornalista encarregado de a trabalhar que justifique a sua assinatura,
ela deve ser devidamente atribuída logo no "lead"
Ex.: "O novo director da Agência Espacial Europeia será
Jean Dupont..., noticiou a agência Reuter.".
e. Excluem-se das regras acima referidas:
Casos em que os despachos de agência
contenham graves imprecisões ou erros, o que tornaria injusto
para o jornal atribuir-lhes a autoria da notícia correcta.
Nestas circunstâncias, ainda que se aproveitem elementos dos
telexes, a assinatura da peça não deve incluir o nome
da agência. (Uma solução possível a adoptar
em certos casos poderá ser não assinar a peça.)
Casos em que os telexes citam outras fontes
escritas e em que seria ocioso referir a cadeia de fontes Ex.: "...
noticiou o New York Times, citado pela Reuter".
A opção deve, então, ser atribuir a fonte original.
Esta excepção deve apenas aplicar-se
a fontes escritas e em caso algum se pode estender a outras fontes
citadas por agências, que devem ser sempre referidas a par
da agência.
f. Em caso de dúvida quanto à melhor
fórmula de assinatura a adoptar, deve ser beneficiada sempre
a agência noticiosa. Em caso algum o jornalista se pode colocar
numa posição duvidosa do ponto de vista deontológico.
3 Os textos baseados em notícias
de outros órgãos de comunicação devem
mencionar sempre, de forma inequívoca, a sua origem. Atribuição
clara e precisa Ex.: "A polémica foi levantada por um
texto do semanário Expresso...", em vez
de formulações imprecisas e ambíguas Ex.: "...
um semanário da capital...".
4 Adoptam-se os mesmos critérios
nos textos de co-autoria:
a. Ordem alfabética.
b. Prioridade aos correspondentes e enviados, quando
a origem da notícia ou o facto em causa assim o aconselharem.
5 Assinaturas dos tradutores: os textos
traduzidos de órgãos de imprensa estrangeira são
assinalados como tal e assinados no fim pelo respectivo tradutor.
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