O PÚBLICO convida os professores a participarem e a enviarem a sua opinião sobre os exames nacionais de 2010 para educacao@publico.pt, com a indicação “opinião professor”.
Há pouco mais de um mês, a Ministra da Educação, Isabel Alçada, afirmou que o Gabinete de Avaliação Educacional do seu ministério (GAVE), responsável pela elaboração de todas as provas do actual sistema nacional de avaliação do ensino, é uma entidade com "autonomia e independência" formada por "profissionais competentes e conceituados". Não duvido que esta afirmação corresponda a algo em que a senhora ministra acredita. Convém no entanto esclarecer que, pelo menos no que toca à Matemática, há questões que devem ser colocadas.
Pela experiência que tenho, tanto como professora de Português que lecciona 12º ano, como de convivência com os restantes colegas, posso afirmar que o trabalho para os Exames Nacionais começou há muito. Em muitos casos, há três anos atrás, logo que os alunos entram no secundário. Os testes são pensados na mesma linha que os exames, as competências mais testadas nos exames são aquelas que são mais trabalhadas nas aulas e nos testes. Nesta fase, intensifica-se o trabalho, com aulas suplementares, com a presença dos alunos em aulas de apoio, quer na escola, quer fora dela.
Aqui há muitos anos atrás, escrevi contra exames como se disso dependesse a salvação da humanidade. Atribuía aos exames a maldade absoluta, um último e derradeiro trunfo da reprodução das desigualdades sociais. E tinha razão. Nas minhas tiradas de ira, não precisava de pensar no que era o exame, só pensava no que pensava serem os seus efeitos em termos de selecção social operada pela escola. Contava meticulosamente os jovens oriundos das classes trabalhadoras que chegavam ao ensino superior e os números provavam o meu ponto de vista. Com razão contra o exame, ainda que os meus amigos de infância nem chegavam ao exame.
É natural e de bom senso entender que os exames se destinam a aferir o que os alunos aprenderam, o que os professores ensinaram e, também, o estado do sistema educativo. É ainda natural e de bom senso compreender que o grau de sucesso do que se avalia deve resultar do esforço, do trabalho, do empenho, e deveria ser altamente dependente do grau de investimento dos que se submetem a essa avaliação.
Qualquer exame é sinónimo de avaliação. E esta é, sem dúvida, um processo de controlo não só dos alunos mas também dos professores e, igualmente, dos responsáveis pela política educativa, podendo contribuir para aperfeiçoar, reformular ou dar consistência ao sistema, justificá-lo.
Em teoria, os exames constituem uma avaliação externa feita pelo sistema aos alunos que finalizam um ciclo de estudos. Todavia, na prática, os exames acabam por abranger diversas entidades como alunos, professores e escolas, envolvendo um sem-número de “avaliações” paralelas, algumas delas de justiça duvidosa.
Entrei para a escola aos 6 e ainda de lá não saí. Estou lá, portanto, há 43 anos, apenas interrompidos pelos que passei na universidade. Trata-se, por isso, de um território que conheço bem. E embora esteja quase a comemorar as minhas bodas de prata enquanto professor, não posso esquecer que foi como aluno que vivi grande parte da minha vida dentro da escola.
Estão aí os Exames Nacionais que, invariavelmente, suscitam acesa polémica quanto à sua eficácia enquanto instrumentos de avaliação das aprendizagens dos alunos e, consequentemente, da qualidade do ensino ministrado em cada escola.
Pela experiência que tenho, tanto como professora de Português que lecciona 12º ano, como de convivência com os restantes colegas, posso afirmar que o trabalho para os Exames Nacionais começou há muito. Em muitos casos, há três anos atrás, logo que os alunos entram no secundário. Os testes são pensados na mesma linha que os exames, as competências mais testadas nos exames são aquelas que são mais trabalhadas nas aulas e nos testes. Nesta fase, intensifica-se o trabalho, com aulas suplementares, com a presença dos alunos em aulas de apoio, quer na escola, quer fora dela.
Nos últimos anos temos assistido a uma quebra significativa do nível de exigência dos Exames Nacionais em geral, e em particular do de Matemática 12º-A. Uma prova equilibrada deve naturalmente conter questões mais fáceis e questões mais difíceis. No entanto, aquilo que se tem verificado é a existência de um número exagerado de questões demasiado elementares, que em muitos casos se resolvem por simples bom senso ou recorrendo a técnicas muito rudimentares para este nível de ensino. Esta situação desautoriza o trabalho dos professores, que nas escolas procuram preparar os seus alunos para os desafios que irão encontrar no Ensino Superior. Por outro lado, induz em erro os alunos quanto aos objectivos que devem ser atingidos no final do Ensino Secundário.
Os exames do Ensino Básico e do Ensino Secundário são instrumentos de avaliação externa sobre os ensinos básico e secundário. Cada um dos exames segue o programa da disciplina homologado a que respeita, as instruções e informações públicas publicadas em 2009. Essas informações escolhe temas do programa de ensino, competências adequadas para provas escritas, tipos de perguntas, etc, e a sua valorização relativa. Por exemplo, esta informação para o exame de Matemática A do ensino secundário estabelece que, em detalhe, os conteúdos nele abordados são os temas do 12º ano (Probabilidades e Combinatória, Funções e Complexos), para os quais se constituem em pré-requisitos os restantes temas do programa, leccionados em anos anteriores.
O período que antecede o da realização dos exames nacionais do 9.º, 11.º e 12.º anos é muitas vezes vivido com enorme angústia, como se fosse o mais importante de um ano lectivo. E dada a pressão que se cria em torno destas provas, por parte de direcções das escolas, encarregados de educação, sociedade em geral (que inclui os próprios professores e alunos), pode questionar-se a sua pertinência no efectivo sucesso do processo de ensino-aprendizagem.
No mundo exigente em que vivemos, onde todos somos diariamente chamados a enfrentar e a vencer diversos desafios e obstáculos, parece-nos que a escola deveria ser, contínua e exemplarmente, um local de aprendizagem e de preparação para essa realidade.
O novo exame de Biologia-Geologia (código 702) rompeu completamente com a tradição dos exames nacionais de Biologia (código 102) do antigo 12º ano. Que o digam os alunos (e professores!) que apanharam um valente susto no ano inaugural, apesar da prova modelo ter dado o alerta... Mais do que na estrutura da prova ou nos apertados critérios de correcção, a novidade residiu no objecto de avaliação.
Aproximam-se os exames nacionais. Por esta altura milhares de estudantes do ensino secundário começam a sentir alguma ansiedade. Tal ansiedade, se não for excessiva, pode até nem ser indesejável. Ao logo das suas vidas pessoais e profissionais, os jovens irão provavelmente passar por situações idênticas, em que, num par de horas, muita coisa importante pode estar em jogo. É bom que estejam preparados para enfrentar tais situações e que sejam mesmo capazes de as encarar como oportunidades a aproveitar.
Ser professora de Português é, de facto, a minha grande vocação. No entanto, esta paixão vive assombrada por alguns males. E a semana que se vive, a dos exames nacionais, é o principal factor responsável por esta situação, não por causa dos exames em si, mas por tudo o que está por detrás dos mesmos.
Apresentação – Sou professora de Geografia numa escola secundária da Área Metropolitana de Lisboa, tendo leccionado desde há mais de sete anos disciplinas com exame nacional (antes IDES e agora Geografia A). Convivo, portanto, na minha prática lectiva diária, com a existência de um exame nacional obrigatório que os meus alunos são obrigados a realizar, normalmente ao fim de dois anos de aprendizagem.
Os professores que estão nas escolas querem resultados reais. Sabem que o ensino deve ser organizado, consistente e bem estruturado. Sabem que não se pode mudar de notação ao sabor de modas e desconfiam das recomendações de pedagogos desligados da realidade. Sabem que todos teríamos a lucrar se fosse feita uma avaliação séria.
No caso dos exames, os jornais tiveram o mérito de tornar o tema “exames” objecto de conversas de café desde 2001, mas isso também teve o seu preço no rigor da análise. Utilizando apenas médias aritméticas habitualmente os primeiros lugares dos rankings são ocupados por escolas privadas aos quais estes servem de publicidade. Estas posições dos rankings são interiorizadas por muitos como uma ordenação dos “melhores” para os “piores” quando realmente representam uma confirmação das diferentes competências dos alunos que chegaram ao 12º ano.
Desde os meus tempos de aluno que não padeço de qualquer bloqueio existencial ou trauma primordial em relação à avaliação e aos exames. Pelo contrário, sempre achei monótona a rotina das aulas meramente direccionadas para o chamado ensino/aprendizagem sem momentos claros de avaliação, com a consequente pressão acrescida.