Afinal para que servem os exames nacionais no ensino secundário?
15.06.2010 - 10:40 Por Emília Sande Lemos
Apresentação – Sou professora de Geografia numa escola secundária da Área Metropolitana de Lisboa, tendo leccionado desde há mais de sete anos disciplinas com exame nacional (antes IDES e agora Geografia A). Convivo, portanto, na minha prática lectiva diária, com a existência de um exame nacional obrigatório que os meus alunos são obrigados a realizar, normalmente ao fim de dois anos de aprendizagem.
Prática lectiva – Porque os meus alunos têm uma exame nacional obrigatório não planifico situações de aprendizagem conducentes ao desenvolvimento da competência de exposição oral de trabalhos, nem dedico o tempo devido a aulas de debate, simulações, resolução de problemas, trabalho de campo. Sinto que os estou a prejudicar porque serão competências fundamentais para qualquer tipo de profissão que venham a ter. Mas não abdico de aulas mais práticas, de recolha, tratamento e selecção de informação, de realização de trabalhos de grupo. Procuro que, mais do que aprender conceitos, saibam como os mobilizar. Os conteúdos são por isso mesmo não um fim mas apenas um meio para desenvolver o raciocínio e outras destrezas. Contudo não posso falhar na hora de verificar se todos os conceitos enumerados no programa foram abordados.
Ansiedade – Sinto-a sempre que são afixadas as pautas dos exames nacionais. Foram os meus alunos que fizeram exame mas, tal como eles, também eu me sinto avaliada.
Exames. Afinal para que servem? – Permiti-me fazer um pequeno exercício estatístico, essencialmente para levantar questões, pois para enunciar conclusões seria necessário um estudo bem mais aprofundado e dirigido por especialistas. Para além dos rankings que a comunicação social tem feito com os resultados dos exames não parece existir nenhum estudo científico publicado com análise longitudinal dos resultados das provas nacionais do ensino secundário.
Se observarmos o quadro da evolução das classificações de frequência e de exame dos alunos internos às disciplinas com maior número de provas , podemos colocar algumas questões.
- Se um dos objectivos dos exames é introduzir melhorias nas aprendizagens dos alunos porque razão ao fim de vários anos de exames nacionais a classificação interna de frequência praticamente se tem mantido inalterada nas disciplinas em análise?
- Não seria de supor que ao fim de vários anos de exames as classificações nas provas nacionais subissem, ao invés de manifestarem um comportamento mais ou menos “errático”, tal como podemos observar no quadro nº 1 (ver link)?
- Curiosamente a disciplina que parece ter um comportamento menos “anormal” quer no que diz respeito à classificação interna quer à do exame é Português. Será porque é a única disciplina que é comum a todos os alunos? Ou porque não é utilizada como prova de ingresso nos cursos superiores mais concorridos?
Seria interessante fazer um debate nacional sobre o custo versus benefício dos exames nacionais do ensino secundário. Se apenas servem como provas de ingresso no ensino superior não seria bem menos dispendioso para o país que fossem as Universidades a fazê-lo?
Na minha opinião é importante ter, em vez de exames, provas de aferição, nos diferentes ciclos do sistema educativo, que permitam uma avaliação das aprendizagens adquiridas passíveis de serem avaliadas em provas escritas de tempo limitado (embora as restantes aprendizagens sejam também fundamentais e por isso a médio prazo é urgente rever o modelo de provas aferidas), que deveriam contemplar todas as disciplinas, de forma rotativa, com uma determinada periodicidade.
Professora da Escola Secundária da Amadora e presidente da direcção da Associação de professores de Geografia