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Primeiro aluno, agora professor

25.06.2010 - 11:45 Por José Ricardo Costa

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Entrei para a escola aos 6 e ainda de lá não saí. Estou lá, portanto, há 43 anos, apenas interrompidos pelos que passei na universidade. Trata-se, por isso, de um território que conheço bem. E embora esteja quase a comemorar as minhas bodas de prata enquanto professor, não posso esquecer que foi como aluno que vivi grande parte da minha vida dentro da escola.

Algumas das mais vívidas memórias enquanto aluno estão directamente relacionadas com exames. Passei a minha vida de estudante a fazê-los. Que, por isso, eram tão naturalmente encarados como fazendo parte da vida de estudante. Ser estudante era também fazer exames.

Lembro-me bem da véspera do meu exame da 4ªclasse. De mim a vomitar. Da minha mãe, à noite, fazendo-me um chá de tília para acalmar uma pilha de nervos que era eu. Prova escrita e prova oral, esta última sendo feita por uma professora exterior à escola e que eu nunca tinha visto na vida. Depois, no 2ºano do ciclo preparatório. E no 5ºano dos liceus. E no 11ºano. E no 12ºano, antes de entrar para a universidade.

Seria hipócrita da minha parte e uma cínica manipulação da memória vir agora dizer que gostava de fazer exames. Não, detestava fazê-los. Significava sempre um período de grande ansiedade, noites mal dormidas, dias inteiros sem sair de casa, de volta dos livros, cadernos, folhas espalhadas pelo chão. Mas também me lembro bem da sensação de vitória e conquista por conseguir superar esses obstáculos. Do prazer que sentia, depois, pelo esforço compensado. Parecia que valia a pena fazer os exames só para depois ter a satisfação de os ter feito.

Muitos anos depois, tenho uma certeza, e continuo a falar enquanto antigo aluno, se bem que a posteriori. Os exames obrigavam a uma valorização da escola enquanto espaço formal de aprendizagens. E estudar para os exames representava uma valorização das aprendizagens, ainda que pudesse detestar o que estudava. Tal como um toureiro que estuda a fera antes de a enfrentar na arena, também o estudante aprendia não apenas a temer as matérias mas igualmente a respeitá-las. E quanto mais as temia mais as respeitava. Ainda que detestasse algumas matérias (sabe Deus quanto) eu era obrigado a enfrentá-las e a vencê-las.

Claro que se tratava de um modelo que excluía a ideia de escola como espaço lúdico, de prazer, de uma escola que é atravessada pelo aluno sem que alguma vez se aperceba do verdadeiro esforço que será necessário para superar obstáculos. Era, sem dúvida, uma escola agónica, uma escola de luta e sacrifício mas também uma escola de méritos e com um sentido de justiça.

E foi por ter entendido isso demasiado tarde que reprovei dois anos até chegar ao 5ºano dos liceus. Mas também foi graças a esses dois anos perdidos que acabei por ser obrigado a crescer e a sentir o peso da responsabilidade e da luta e do esforço que são necessários para poder vencer. Hoje, tenho uma certeza: se eu fosse aluno no actual sistema de ensino nunca teria chegado a ser o bom aluno que acabei por conseguir vir a ser. E, nesse sentido, os exames tiveram um peso fundamental. Porque exigiam e se exigiam eu fui obrigado a responder à exigência.

Se eu fosse aluno no actual sistema de ensino teria sido levado ao colo até ao 12ºano. Teria sentido o colo protector dos meus professores, assobiando para o lado perante as minhas irresponsabilidades e fragilidades. Se eu fosse aluno no actual sistema de ensino estaria agora a ser protegido pelo sinistro eduquês, por psicólogos, cientistas da educação e outros sábios afins, sempre com novas teorias a respeito das deficiências metodológicas dos professores, motivando nestes insuperáveis sentimentos de culpa por nunca conseguirem chegar ao malfadado e tresloucado Excelente, sobre o que é possível ainda fazer para poder motivar os alunos, inventando novas estratégias de ensino-aprendizagem cada vez mais criativas, olhando para as novas tecnologias como o novo bezerro de ouro que se deve adorar para alcançarmos os nossos objectivos e com a pestilenta retórica da comunidade educativa.

Se eu fosse aluno no actual sistema de ensino iria encontrar os professores a trabalharem mais do que eu. Iria ver os professores a fazerem powerpoints para não ser eu a ter que fazer esquemas e resumos das aulas. Iria ver os professores a darem-me objectivos antes dos testes para que eu não me maçasse tanto a tentar percebê-los por mim mesmo. Iria encontrar manuais escolares com resumos, sínteses e os conceitos e frases mais importantes sublinhados, poupando-me assim a realização de tarefa tão maçadora.

Se eu fosse aluno no actual sistema de ensino, sem exames ou com exames feitos a feijões, jamais iria entender se haveria correspondência entre as minhas notas e as minhas aprendizagens.

Sei que, se eu fosse agora aluno, iria estar protegido por pessoas que ganham a sua vida a vender as suas teorias revolucionárias e engraçadas. Há pessoas que gostam de inovar só porque é preciso inovar, ainda que a sensatez construída a partir da experiência acumulada ao longo de gerações, nos mostre precisamente o contrário.

Talvez pelo facto de nas ciências físicas existir um corte com o senso comum ao nível da percepção do mundo, existem cientistas da educação que, desejando dar à sua ciência um estatuto especial e visionário, rompem com o senso comum, nomeadamente no que diz respeito à importância dos exames e ao efeito terapêutico das reprovações ou das faltas.

Os cemitérios estão cheios de pessoas que disseram coisas muito importantes, defendendo-as com unhas e dentes. Muitos deles, hoje, são desconhecidos que não resistiram à erosão do tempo. Infelizmente, na educação, muitos desses futuros desconhecidos deixarão a sua indelével marca negativa na deformação intelectual e emocional de milhares de jovens.

Professor de Filosofia do ensino secundário

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