Um Ano na Crise

casos de sucesso

“Dinheiro que juntava todos os meses serve para ajudar a família”

Ana Rodrigues, Matosinhos

Mudei muito a minha vida. Sempre tive uma vida folgada, com dinheiro para investir na minha profissão, com dinheiro para viajar, para ir ao cinema, teatro, dança, espectáculos, jantava muitas vezes fora e pagava o jantar das pessoas que iam comigo. As únicas despesas regulares são a prestação da casa, água, luz, telefone, internet e televisão por cabo. Quase não uso o meu carro, por isso gasto muito pouco gasóleo.
Todos os meses juntava quantidades muito razoáveis de dinheiro (que agora estão a servir para ajudar pessoas da família que estão sem dinheiro).

A prestação da casa subiu, a água triplicou, a luz aumentou muito, o gasóleo e as scut (para visitar a família) aumentaram muito. Deixei de jantar fora. A verdade é que poupo imenso e como bem melhor. Quando quero jantar com amigos, convido-os para jantar em casa ou vou eu a casa deles. Ando sempre com lanche comigo. Para evitar lanchar na rua.

Deixei de utilizar as grandes superfícies para compras. Vou apenas ao Lidl e tudo o que posso, compro no mercado tradicional. Assim, tenho evitado imensas compras desnecessárias.

Deixei de ir ao cinema. Tenho cinema em casa com os canais da tvcabo. Mais tarde ou mais cedo vejo os filmes e percebo que não são assim tão especiais para os ir ver ao cinema. Desta forma, evito gastar gasóleo, jantar fora, o preço do bilhete que cada vez é mais caro e já estou em casa. Para além disso, enquanto esperava pela hora do cinema, acabava por passear pelas lojas e comprar sem necessidade.

Quando vem a Portugal uma cantora ou cantor, ou grupo, ou teatro, ou algo que gostava muito de ver, no dia do espetáculo vejo pelo YouTube o que lá está sobre esse tema. Não gasto e tenho aprendido imenso. Faço o mesmo quando tenho vontade de comprar um CD. Como sei que me passa a vontade de ouvir passado algum tempo, ouço na internet, pelo YouTube.

Continuo a ter muito cuidado com a minha roupa, para não a desgastar muito. Quando chego a casa, a primeira coisa que faço é tirar a roupa com que vim, mesmo que seja por meia hora. Tenho comprado muito menos roupa.

Tem sido muito mais difícil juntar dinheiro, mas ainda consigo. A diferença é que agora, tudo o que junto serve para ajudar pessoas da família que precisam. E isso é que verdadeiramente me preocupa. O não ter tanta capacidade para ajudar como tinha.

Deixei de viajar. Aceitei que já viajei muito e que se não puder viajar mais não tem qualquer problema. Viajo através das conversas, dos programas de televisão e dos livros.

Investir na minha profissão está difícil. Quero fazer o doutoramento, mas neste momento só o farei se for com bolsa, porque não tenho capacidade financeira para pagar o preço louco de um doutoramento. Em tempos já gastei uma loucura no meu mestrado, agora não tenho essa capacidade.

Considero-me uma pessoa com um vencimento acima da média, por isso estou apavorada com a ideia de muitas pessoas com muito menos do que eu conseguirem viver de forma saudável.

Mudei muitos hábitos. Tenho menos dinheiro. E agora consigo ajudar mais os outros. Aí está uma boa notícia que me faz feliz e me transformou numa melhor pessoa.