Um Ano na Crise

Família Dimas

A confiança renovada de Adriana

Por Carlos Dias

Quando, em Março, o PÚBLICO começou a acompanhá-la, deparou com uma mulher que dizia não saber o que fazer da vida. Algumas semanas depois trabalhava como ajudante de cozinha, até que encontrou outra ocupação numa empresa de agro-turismo. "Agora faço camas e varro o chão", diz com uma confiança renovada.

A quadra natalícia "foi muito trabalhosa", recorda. A unidade de agro-turismo nos arredores de Beja onde trabalha estava cheia de hóspedes, para quem fez doce de tomate, abóbora e meloa. Queriam comprar para levar, mas Adriana fê-los em conta e apenas para serem consumidos durante a estadia e às refeições. O mesmo aconteceu com o pão alentejano, que cozeu recorrendo à tradição.

O dia-a-dia desta mulher que não desiste de voltar à horticultura é preenchido pela necessidade incessante de fazer coisas novas. "Sinto uma enorme alegria de viver e de estar onde estou", confidencia Adriana, que se recusa a olhar o próximo ano com a apreensão que diz ser comum nas pessoas com quem fala ou convive.

Em Fevereiro, vai arrancar a produção nas estufas. A tubagem metálica está montada e o terreno devidamente adubado. Falta instalar a tela plástica e a bomba de água, para começar com a produção das verduras tendo em vista a promoção de cabazes que vai "entregar a casa das pessoas". Adriana acredita no negócio, numa altura em que até o Presidente da República apela ao regresso dos portugueses à terra.

"Cada um tem de fazer pela própria vida", sentencia ela, que sempre recusou pedir ajuda à Segurança Social mas não esquece os apoios que recebeu "de muita gente amiga nas más horas", sobretudo em Aljustrel, onde ia vender produtos na sua carrinha só para não se "deixar ir abaixo".

Agora até as folgas são passadas com vontade de que o próximo dia chegue para ir trabalhar. A conversa estimula-lhe o regresso constante às recordações. "Há 20 anos, deixei de tomar conta de uma manada de vacas e fui servir para Lisboa", para casa de uma família abastada, a quem ia levar os filhos ao Liceu Francês. Teve de aprender a viver numa grande cidade. E resultou como experiência. "Fazer pela vida só faz bem à mente e à alma."