Um Ano na Crise

Família Dimas

A vida muda muito em muito pouco tempo e a vida de Adriana não é excepção

Por Carlos Dias
António Carrapato

Ao ar livre, junto ao estupendo espelho de água da albufeira que valoriza o enquadramento paisagístico da empresa de agro-turismo Monte da Diabrória, em Beja, estão Adriana Dimas e Ondina Páscoa, a sua nova "patroa", na lavagem de reposteiros e cortinados. O tempo quente e seco que já molda os dias no Alentejo convida à sesta, ao remanso.

Para Adriana, este era o tempo das culturas da Primavera/Verão, quando cultivava hortícolas há três meses. Teve de abandonar a actividade agrícola, por estar a cultivar numa área proibida e por não ter tido acesso a água para rega em tempo oportuno.

Para sobreviver, Adriana arranjou trabalho num estabelecimento de restauração. Passadas poucas semanas, teve de procurar nova ocupação. O pagamento do salário não se processava com a regularidade que as necessidades da sua vida exigiam.

Soube que na empresa de agro-turismo Monte da Diabrória precisavam de uma pessoa. "E no meio de tantas pessoas entrevistadas ficou a Adriana", conta Ondina Páscoa, realçando os atributos da sua nova funcionária que "em boa hora" contratou e com quem já pensa "fazer umas coisas giras" na cultura de hortícolas.

Agora, no seu novo emprego, faz de tudo um pouco, desde atender telefonemas a arrumar os quartos dos hóspedes. "O que houver para fazer, faço", precisa a "caseira" do Monte da Diabrória, que é como classifica a sua nova função.

Contudo, a agricultura não ficou para trás. A empresa de agro-turismo está instalada num terreno com uma área superior a 300 hectares, boa parte preenchida com os chamados barros de Beja, identificadas como das melhores terras da Península Ibérica. Adriana leva-nos, orgulhosa, à sua horta plantada em regime de part-time. Viçosas, as culturas de meloa, melancia e melão ocupam pouco mais de mil metros quadrados.

"O tempo não é muito para fazer mais do que estou a fazer" na cultura de hortícolas, justifica-se. Tudo é feito depois de ter terminado o seu período normal de trabalho. Por volta das 17h00 ou 18h00, é vê-la no meio das culturas, fazendo a rega ou ajeitando as plantas onde hão-de crescer as melancias, os melões mais as meloas.

"Ontem [a última quarta-feira] andei a plantar pimentos." Ao lado destes já desponta uma seara de milho que se estende por um hectare. Num terreno próximo "vou plantar couves".

Adriana não pára de projectar o futuro a curto prazo. De braço estendido, aponta o espaço, já arranjado, onde decidiu instalar, no próximo mês, as duas estufas que vendeu ao proprietário do Monte da Diabrória. São mais de mil metros cúbicos onde Adriana pensa plantar, a partir de Setembro, feijão-verde, tomate, cenouras, etc.

Enquanto fala do amanhã, os dias que correm têm sido bastante sofridos, por mais que o sorriso prevaleça quando fala do que gosta. O seu marido continua a ser vítima de salários em atraso que não param de se somar uns atrás dos outros. Adriana pede desculpa por não entrar em mais pormenores. "As coisas mudaram muito em muito pouco tempo", observa, resumindo assim aquilo que foram os últimos três meses da sua vida.