30 de Maio de 2002
Tiragem de 92.000 exemplares
"O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago, praticamente esgotado em todo
o país
Marisa Torres da Silva

O segundo volume da Colecção Mil Folhas foi um gigantesco sucesso de vendas,
à semelhança do que sucedeu na semana passada, com "O Nome da Rosa", de Umberto Eco

Nove horas da manhã de ontem, Avenida da República. A azáfama matinal atingia o seu auge, com um sol resplandecente a anunciar um dia de calor. A corrida às bancas de jornais já se fazia sentir e muitas das mãos que cruzavam apressadamente a rua transportavam um exemplar de Saramago. António Moreira, proprietário de um dos quiosques, recebeu 50 volumes de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", mas apenas restavam 10 para vender. "Daqui a meia hora, desaparece tudo", afirma categoricamente.
Nove e meia, Largo do Rato. Rui, de 25 anos, prepara-se para atravessar a rua, ao mesmo tempo que folheia o jornal, alheio ao caótico movimento dos carros. Interceptado pelo PÚBLICO, diz, com um ar algo desconfiado, que comprou o livro "porque surgiu a oportunidade e para fazer a colecção". Mais à frente, José Maria Branquinho, funcionário do quiosque, gostaria de ter recebido mais volumes, devido à enorme procura e à quantidade de reservas que foram feitas no dia anterior. "Deram-me 60, só tenho 10 disponíveis. Para a próxima, se calhar era melhor mandarem mais...", acrescenta.
Dez horas, Avenida António Augusto Aguiar. Entre passos curtos, pressionados pela escassez do tempo, Maria João, secretária de profissão, confessa que adquiriu o livro para outra pessoa que está a fazer a colecção. Numa tabacaria próxima, ainda há alguns volumes por vender, ao contrário do que acontecia na semana anterior, à mesma hora.
Dez e um quarto, Estação de metro Colégio Militar/Luz. A única banca de jornais existente no local principiou a sua actividade há poucos minutos, e os 16 exemplares recebidos estão ainda bem guardados, à espera de comprador. Meia hora depois, no Martim Moniz, o Sr. Ramos, proprietário de uma tabacaria homónima, informa o PÚBLICO que "já despachou 5 e só faltam 3 livros".
Onze horas, Alameda D. Afonso Henriques. "Apesar de não ser grátis, isto está a vender bem. E olhe que há muita gente que não gosta de Saramago...", adverte o proprietário do quiosque, António Sousa Silvestre, enquanto atende outros clientes.
Onze horas e dez minutos, Campo Grande. Num dos postos de venda da zona, os 130 volumes recebidos já tinham desaparecido há uma hora atrás. Levantando os olhos do livro de Saramago, Pedro Rato, de 32 anos, professor, adquiriu o jornal propositadamente para ficar com o volume. "Da colecção, vou comprar os livros que me interessam e sobretudo aqueles que não tenho", afirma.

Terceira edição aumenta tiragem

Três horas da tarde, Entrecampos. Tendo adoptado a estratégia de não aceitar nenhuma reserva do livro, nem mesmo dos clientes mais assíduos, um dos quiosques tinha esgotado os 60 livros que estavam disponíveis para venda, isto de manhã bem cedo. Também no Areeiro já não restava nenhum exemplar, à hora do almoço.
Três horas e meia, Avenida Almirante Reis. Na tabacaria junto à estação do metro dos Anjos, a quem também foram atribuídos 60 volumes, os livros tinham desaparecido por volta das onze horas da manhã. Progressivamente, até ao final do dia de ontem, a edição de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", com uma tiragem de 92 mil exemplares, estava praticamente esgotada em todo o país. O próximo título, "Siddharta", de Herman Hesse, que será vendido em conjunto com o jornal no dia 5 de Junho, terá uma tiragem igualmente substancial, de 90 mil exemplares, o que representa um aumento relativamente ao número anteriormente previsto de 70 mil exemplares.