Um Ano na Crise

Família Fonseca

Já não há crise que assuste Sandra

Por Idálio Revez

Sandra passou quase metade do ano no desemprego, sem direito a subsídio. E o companheiro, Luciano, vive de uma pensão de invalidez de 207 euros mensais, depois de ter perdido uma perna num acidente de moto.

"Quando ouço falar de crise lembro-me da música: "P"ra melhor está bem, está bem, p"ra pior já basta assim"", brinca Luciano, resignado com a "vida de pobre" que leva. Por isso, com crise ou sem crise, "não conheço a diferença".

No início do ano, Sandra viu-se forçada a regressar ao apartamento dos pais - um T2 habitado por oito pessoas -, depois de ter rompido o casamento e perdido o pequeno negócio num snack-bar que geria. "Foi como recomeçar do zero." Arranjou trabalho no serviço de limpezas da Universidade do Algarve, mas foi sol de pouca dura. Com dois filhos - Wilson, de 11 anos, e André, de seis -, passou a viver da ajuda dos pais.

Chegou a Primavera e não foi só a estação que mudou. "Conheci o Luciano, apaixonámo-nos e passámos a viver juntos." As dificuldades financeiras "não mataram os sonhos". Em Março, Sandra passou a trabalhar no empreendimento turístico de Vale do Lobo, mas só ficou três meses.

Os dois vivem agora numa barraca coberta com chapas de zinco junto à casa dos pais de Luciano. "Sinto-me bem aqui", diz a jovem mãe de 30 anos, "mas gostava de ter mais conforto". Foi com esse objectivo que se inscreveu há dois meses no serviço de apoio social da Câmara de Faro. "Disseram que, para já, não podiam arranjar casa, mas iam ajudar com alimentos e roupas. Continuo à espera..."

Sandra tem experiência em geriatria e há tempos inscreveu-se no Instituto de Emprego e Formação Profissional para tentar uma saída na área. Enquanto a resposta não chega, vai fazendo limpezas desde há dois meses nos escritórios de uma fábrica, onde ganha 2,80 euros por hora. "Não chego a ganhar o ordenado mínimo nacional."

Também Luciano se tem inscrito como "caixa" em hipermercados, mas ainda não teve resposta aos pedidos de trabalho. "O que gostava mesmo era de trabalhar na mecânica, pois sempre tive uma grande paixão por motos."

Apesar de tudo, Sandra ainda acredita. "Não acho que 2012 vá ser pior que este ano, pelo menos para gente como eu, que já perdeu quase tudo - menos a esperança".