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Bonecos perfeitos

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O mistério da formação das antenas que as células têm

Mónica Bettencourt Dias, bioquímica,
37 anos

Não se assuste com a palavra, que designa algo fundamental na nossa existência, mas apresente-se aquilo que Mónica Bettencourt Dias investiga nas células: os centrossomas. Estas estruturas minúsculas foram vistas pela primeira vez no século XIX, por Alexander Fleming, esse mesmo, o descobridor da penicilina. Logo se percebeu que são o órgão especial de divisão celular e levantou-se a hipótese de que poderiam estar envolvidas no cancro, caracterizado por uma multiplicação anormal das células. Pouco antes da divisão, a célula tem de criar tudo em duplicado e a maior parte delas também duplica os centrossomas. Depois, é como se entre os dois centrossomas existisse uma corda e cada um deles puxasse para seu lado os cromossomas, que contêm os genes.

Durante 120 anos, andou-se atrás de um mistério: como se formam os centrossomas? Pensava-se que o centrossoma que já existia na célula servia de molde ao novo. A equipa de Mónica Bettencourt Dias, do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, desvendou o mistério em 2008, na revista Science: não é preciso ter um molde, basta ter a planta de construção do centrossoma. Essa planta é, na verdade, uma proteína. A prova de que ela permite a formação dos centrossomas de raiz está nas experiências da equipa desta bioquímica, de 37 anos, em ovócitos de moscas-da-fruta. Os ovócitos não têm um centrossoma (é fornecido pelos espermatozóides), mas, quando a equipa lhes introduziu a proteína, ficaram cheios deles. Para lá de pôr fim a este mistério centenário, a bioquímica gostaria de oferecer outra descoberta ao mundo. Sobre os centrossomas, pois claro.

Eles também estão na base da formação de antenas, pequenos apêndices existentes em quase todas as células, que são responsáveis pelo movimento celular. Por exemplo, os espermatozóides movimentam-se graças a uma dessas antenas, a cauda. Há muitas dessas antenas nas células que movem o muco nos pulmões. E elas servem ainda de sensores — no cérebro, por exemplo, para sentir que já comemos o suficiente. "Os centrossomas têm um papel muito diverso", resume a cientista, que viveu nove anos em Inglaterra (doutorou-se no University College de Londres e fez um pós-doutoramento na Universidade de Cambridge) e, em 2006, regressou a Portugal.

Portanto, anomalias nos centrossomas podem estar envolvidas em variadas doenças. Nas células cancerosas, há centrossomas a mais, cada um a puxar para seu lado, e as suas antenas têm malformações. A ausência ou alterações na formação do centrossoma traduz-se em problemas na cauda dos espermatozóides, que têm dificuldade em deslocar-se até ao ovócito. Ou, nos olhos, é nas antenas que a luz é captada e, se tiverem anomalias, pode ser-se cego.
Um dos sonhos de Mónica é descobrir como é regulado o número e a estrutura das antenas das células, o que deve ser feito por vários genes. Gostaria assim de encontrar os maestros que dirigem quer essas antenas, quer os centrossomas na sua base. Ao perceber-se como se faz essa regulação, poderá ver-se o que está modificado em variadas situações, que vão desde cancro até à infertilidade masculina.
"Não trabalho em biologia aplicada ou medicina, mas nos bastidores. A descoberta de um mecanismo fundamental da biologia pode levar a formas diferentes de atacar doenças." Ao palco, em sentido literal, já subiu, para comunicar, através do teatro, na peça A Máquina dos Genes, a ciência ao grande público, outro dos seus interesses.