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Desvendar as causas genéticas da diabetes mais comum

Eugénia Carvalho, bioquímica, 43 anos

De Portugal para os Estados Unidos, depois a Suécia, novamente os Estados Unidos e, nos últimos dois anos, o regresso às origens. Em traços largos, este é o percurso de Eugénia Carvalho, de 43 anos, que entrou na rota da ciência quando parecia estar tão longe dela. Aos 17 anos, com o 12.º ano concluído, na área das humanidades, partiu da aldeia de Forles, no concelho de Sátão, Viseu, rumo a Nova Iorque. Ia atrás de uma vida melhor para a família, de sete irmãos. Ela, a mais velha dos sete, não pensava em voltar a estudar. "Aterrei em Nova Iorque pelas boas mãos de uma religiosa. Ela era da minha aldeia. Quando vinha de férias, perguntava-lhe como era lá do outro lado. Ela disse-me: 'Vem cá uns meses.' Mandou-me o bilhete de avião e lá fui com o meu visto de turista. Quando decidi ficar, para não estar ilegal, resolvi estudar para ter um visto de estudante." Enquanto fazia limpezas, cozinhava, cuidava de bebés e esperava pelo visto, conseguiu estudar línguas na Marymount Manhattan College e foi aí que, depois, também fez um bacharelato em química. Após cinco anos em Nova Iorque, mudou-se para a Suécia: na Universidade de Gotemburgo, fez o mestrado em bioquímica. Seguiu-se o doutoramento, concluído em 2000, com uma descoberta sobre a diabetes de tipo 2, a mais comum, em que o açúcar não é devidamente absorvido pelas células, para ser gasto como energia, e acaba por ficar acumulado no sangue: nas células de gordura de quem já tem resistência à insulina, mas ainda não é diabético, há uma proteína que aparece em quantidades reduzidas. Até a doença se declarar, pode ser-se resistente à insulina durante muitos anos, necessitando-se assim de mais quantidades desta hormona, para dar vazão à mesma quantidade de glicose no sangue.

Ora esta proteína pode ser usada para desenvolver um teste precoce de pré-diabetes, com a recolha de uma amostra de gordura subcutânea, enquanto as análises actuais ao sangue já vêem se a doença existe mesmo. "Pode verificar-se se a pessoa está ou não no bom caminho", diz Eugénia Carvalho, agora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra.

Em 2001, depois de dez anos na Suécia, a bioquímica voltou aos Estados Unidos, para um pós-doutoramento no Hospital de Beth Israel, da Universidade de Harvard, em Boston. Em 2008, quando já tinha vivido mais tempo fora do que dentro de Portugal (quase 25 anos), quis fazer ciência no seu país e esta nova mudança na sua vida passou também pela adopção de uma criança.

Desde que voltou, tem feito por exemplo experiências em ratinhos em busca das principais proteínas responsáveis pelas feridas nos pés dos diabéticos, difíceis de cicatrizar e que terminam, muitas vezes, em amputações. A ideia é ver que proteínas estão em falha, quando existem ulcerações crónicas nos pés dos diabéticos, e se há maneira de as aplicar localmente para que cumpram o seu efeito.

Nunca mais largou a diabetes de tipo 2, que não tem uma causa única. Além de factores ambientais, como os maus hábitos alimentares, a obesidade e o sedentarismo, aparentemente mais fáceis de mudar, há muitos factores genéticos envolvidos. "As causas genéticas são bastante complexas. Já se descobriram alguns genes envolvidos, mas não se sabe nem metade da história."
Ela gostaria de contribuir para a descoberta das causas genéticas do tipo de diabetes mais comum, que representa 90 por cento dos casos e que só em Portugal afecta 900 mil pessoas, completando um pouco mais essa história.