Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

Bonecos perfeitos

Produção
de moda

hotel 1

Uma planta de milho que se esqueça da sede

Fernando Catarino, botânico, 78 anos

Atira para cima da mesa de conversa, numa esplanada de Lisboa, num final de tarde ameno, uma pergunta desconcertante: "Sabe quantos litros de água são usados para criar uma única planta de milho?" Como a resposta tarda, Fernando Catarino desvenda: "É preciso que haja 200 litros a atravessar a planta durante três meses. Não há água que chegue." A pensar na escassez de recursos hídricos, na falta de alimentos ou na pobreza, o botânico, de 78 anos, 44 dos quais como professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), gostaria que os biólogos oferecessem ao mundo plantas mais eficientes no uso da água. Por exemplo, que desenvolvessem uma planta de milho que só consumisse cem litros nos três meses em que vive. Ou plantas que aguentassem muitos dias sem receber uma gota. Experiências numa planta acarinhada pelos biólogos como modelo de estudo, a Arabidopsis, já fizeram com que resistisse duas semanas sem ser regada, conta o botânico.

Como conseguir que se esqueçam que estão à míngua de água? Através de manipulação genética. Isso mesmo, Fernando Catarino não é contra os transgénicos. "Os organismos geneticamente modificados são o grande receio de muita gente. Sou cuidadoso, mas a favor."

Mais: a biologia e a biotecnologia podem ajudar a resolver muitos problemas. "Tive a sorte de ver os biólogos deixarem de ser os coitadinhos — eram aqueles que apanhavam os bichinhos ou contavam as moscas. As pessoas perceberam que a biologia é para ser levada a sério, que tem ligações com a biotecnologia, com o cancro, com a farmacologia..."
A biotecnologia pode, por exemplo, dar origem ao desenvolvimento de uma nova agricultura. "É possível que venha a haver uma agricultura com água salgada. Se há algas que vivem no mar, podíamos fazer uma nova agricultura e resolver diferentes problemas: a falta de água, a poluição", vaticina Fernando Catarino, que durante quase 20 anos esteve à frente do Jardim Botânico da FCUL.

Além de aproveitar solos com algum sal, essa nova agricultura poderia vir a utilizar muitas das terras salgadas pelo mundo fora, Península Ibérica incluída, que ficaram com excesso de sais devido à evaporação da água no solo e não podem ser cultivadas.
Quem sabe se um dos sete mil alunos que Fernando Catarino teve, ao longo de mais de quatro décadas como professor, não desenvolverá as plantas que aguentem esse sal, ou o tal pé de milho que se esqueça da sede.