Segundo volume de “As Célticas”

Na frente de guerra do Somme, Corto Maltese desmascara uma espia alemã. E assiste impávido à morte do "Barão Vermelho" porque os heróis de carreira o deixam indiferente

"Mas por que é que as mulheres que me interessam estão sempre do outro lado da barricada?...", interroga-se Corto Maltese no final do julgamento que condenou à morte "Lady" Rowena Welsh. O questionamento ocorre em "Sonho de Uma Manhã de Meados de Inverno" - uma das histórias do segundo volume de As Célticas, que hoje é posto à venda com o jornal PÚBLICO - e parece sublinhar um certo fatalismo na condição do herói criado pelo italiano Hugo Pratt. Este último, porém, persiste sempre em "trocar as voltas" aos estudiosos da obra, respondendo às questões que lhe são postas de forma mais ou menos desconcertante, mas invariavelmente desdramatizada:

 

Corto Maltese sonha em Stonehenge e liberta a Inglaterra da ameaça germânica

Os mitos celtas e germânicos são actualizados em aventuras que põem frente a frente dois mundos antagónicos. O herói está no meio e toma partido

"Dormir no interior do círculo desenhado pelas pedras megalíticas de Stonehenge é uma prerrogativa dos heróis, dos que não têm onde reclinar a cabeça nas suas eternas andanças pelos caminhos do mundo. Corto Maltese é um desses seres, por quem a aventura chega até nós, rodeada do mistério e do encanto que só os criadores de eleição transportam dentro de si.

 

As mulheres de Corto - Morgana

“O nosso mundo não morrerá enquanto houver na Bretanha alguém capaz de sonhar”, diz Morgana, deusa das águas na tradição celta e meia-irmã do rei Artur, a quem um dia roubou a espada Excalibur. A réplica de Oberon, rei dos elfos que soube mobilizar o seu pequeno povo contra os saxões que ameaçavam a Bre- tanha, é magnífica: “Ah, fada Morgana, o que disseste é a coisa mais bela que já ouvi…”

Logo de seguida, Merlin cortará cerce este diálogo, porque depois da vitória total, ao lado de Corto Maltese, contra os alemães que se preparavam para invadir a Inglaterra, chegou o tempo de voltar para Brocelândia e para a doçura dos seus sonhos, povoados pelo sortilégio da fada Viviana.

 

Pedro Rosa Mendes
Corajoso, erudito e elegante

Quando penso em Corto Maltese, penso logo em “A Casa Dourada de Samarcanda”, que é, para mim, o mais belo episódio. No universo da série, é o equivalente a “Tintin no Tibete”, pois existe nele mais calor do herói do que em qualquer outra história. Foi isso que me impressionou, quando a li pela primeira vez, por volta dos 18 anos. Recordo a amizade conflituosa entre Rasputine e o herói, no limite do suportável, e também o telefonema de Corto para Estaline, que é uma sequência notável. Adoro a forma como Hugo Pratt introduz espaços e vazios no diálogo, uma brilhante maneira de interceptar a sua ficção com a história. Quando isso é bem feito, seja num romance ou numa BD, torna a leitura imprescindível. ...

 

O segundo volume de "As Célticas "
O segundo volume na proxima segunda, 01 de Novembro.

Vindo de Amesbury, entre as estradas A344 e A303, entre o crocitar dos corvos e o protesto do vento, o viajante encontra a geografia mítica de Stonehenge. É ali, em pleno solstício de Inverno, que descansa Corto Maltese, Prestes a viver uma das suas mais extraordinárias aventuras, "Sonho de uma Manhã de Meados de Inverno", dada à estampa pela primeira vez em março de 1972, na revista "Pif".