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Bonecos perfeitos

Produção
de moda

hotel 1

Há ouro no convento

Fomos ao Convento do Espinheiro experimentar uma pequena extravagância conventual. Em vez de comermos um doce carregado de gemas de ovos e açúcar, acabámos por nos deixar envolver em ouro dos pés à cabeça.
Texto Maria Antónia Ascensão

No caminho para o convento surge na rádio a voz de Shirley Bassey a cantar Goldfinger e a primeira imagem que nos vem à cabeça é a da bondgirl Jill Masterson coberta de tinta dourada, num dos melhores filmes do espião britânico, 007 contra Goldfinger. Coincidência das coincidências, porque o que nos leva ao Convento do Espinheiro é um tratamento de beleza que consiste num envolvimento em ouro, um mimo requintado que deixa a pele suave e a brilhar, não tanto, mas quase como a da bondgirl. É que há mais do que bons doces conventuais nesta unidade hoteleira.
Sim, há um mundo onde as pessoas se envolvem em ouro. É o mundo da cosmética de luxo, onde se utilizam os ingredientes mais puros na tentativa de atrasar o relógio biológico. O ouro, também símbolo de riqueza e poder, é dos metais mais facilmente absorvidos pela pele que ajuda na prevenção da flacidez, na promoção da regeneração celular, além de aumentar a capacidade de eliminar os radicais livres. Razões que nos levaram a optar por este tratamento no cardápio recheadíssimo do Diana Spa, que em 2009 ganhou o troféu de melhor resort de spa em Portugal do World Travel Awards.
Chegámos ao Convento do Espinheiro no início da tarde e a suave brisa que corria faz-nos parar um pouco, sentar, respirar fundo e olhar em redor os bonitos jardins e o recuperado edifício do século XV, classificado como Monumento Nacional e também a única unidade hoteleira portuguesa a entrar no ranking das melhores do mundo, elaborado pela revista norte-americana Travel and Leisure.
Aqui, na planície alentejana, a natureza encarregou-se de assegurar um ambiente calmo e descansado necessário a um spa. "Os jardins do convento sempre foram local de santuário, passeio e meditação para os frades Jerónimos. No fundo, o espírito actual de estar num spa sempre existiu no Espinheiro", disse o director da unidade hoteleira, Dinis Pires, quando nos recebeu.
No interior do convento também reina uma tranquilidade monástica, apetecível para quem está prestes a envolver-se no brilhante metal dourado.

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Véu dourado
"Pronta para brilhar?", pergunta o terapeuta Tiago Pestana, depois de nos entregar a chave do cacifo onde trocamos a roupa por um roupão e um par de chinelos amarelos — cor brilhante, alegre, que simboliza o luxo e que contribui para a felicidade.
Mas é mesmo ouro que vai utilizar no envolvimento Gold Star? Tiago Pestana explica que não. Não é um ouro de 18 ou de 24 quilates, mas um ouro marinho, extraído de uma alga dourada, encontrado na região da Bretanha, que absorve o ouro natural do oceano através da luz solar. Aliás, esta alga incrível também foi utilizada para reduzir a sensibilidade da pele aos raios ultravioletas ruins. Um extracto conseguido pela marca espanhola Germaine de Capuccini.
No fundo, este tratamento "aporta energia e hidratação à pele, ao mesmo tempo que cobre o corpo com uma camada de partículas de ouro puro", explica o terapeuta. É um tratamento muito procurado para ocasiões festivas, principalmente por noivas ou por quem quer sentir "glamour na pele".
O Gold Star consiste numa limpeza, num envolvimento de rosto e corpo de 20 minutos, e inclui uma massagem à cabeça. Além do Gold Star, há a Massagem com Néctar de Ouro (€130, ambos os tratamentos), que Tiago Pestana sugere. "O produto é o mesmo mas, em vez de se fazer o envolvimento, é aplicado através de uma massagem. Talvez melhor para descontrair e aliviar pontos de tensão."
Não sabemos se é mesmo ouro que contém a alga dourada, mas uma vez iniciado o tratamento paramos de reflectir nas propriedades do plâncton submarino e deixamo-nos elevar lentamente até às nuvens. O corpo começa a receber o unguento precioso, que tem um aroma suave e muito agradável aos sentidos, numa massagem que vai das costas até aos pés. Enquanto o produto actua no corpo, é altura para colocar o néctar dourado no rosto, "para que fique com mais luminosidade", esclarece o terapeuta. E ainda há tempo para fazer uma massagem à cabeça. Sentimo-nos como Cleópatra, a receber os seus tratamentos de beleza únicos.
Resultado: a pele fica macia, suave, hidratada, renovada e a brilhar como ouro. Há um truque que o terapeuta utilizou e que traz mais energia ao corpo — fazer deslizar pedras quentes durante a massagem. Um must.
Terminados os 60 minutos de tratamento, passamos à sala de relaxamento, onde nos espera uma chávena de chá de uma mistura de ervas que crescem nos terrenos do convento e às quais acrescentam uma casca de limão e um fio de mel, na tentativa de que esta bebida quente nos consiga transportar de novo à realidade.

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Lendas e história
As pequenas extravagâncias conventuais do Diana Spa — que deve o seu nome ao Templo de Diana, um dos monumentos mais marcantes da cidade de Évora — não se cingem ao ouro. Há tratamentos à base de pérolas brancas e negras, banhos de uva ou esfoliações com pepitas de chocolate. Um cardápio que tenta acompanhar o da cozinha praticada pelo chefe Luís Mourão e que também leva muita gente ao convento.
No espelho do balneário confirmamos a luminosidade da pele, um brilho natural que gostaríamos de exibir todos os dias, e estamos prontos para a viagem de regresso. Mas não sem aproveitar a cortesia de uma visita guiada pelos recantos frequentados por reis e aristocratas que utilizavam o convento como retiro de contemplação. Se estas paredes falassem, teriam histórias e lendas para contar e também as memórias dos monges Jerónimos que aqui habitavam.
"Esta unidade hoteleira foi a primeira de cinco estrelas a surgir em Évora, e pelas mãos de um madeirense que percebeu a falha e a colmatou", disse Dinis Pires.
Quando o empresário começou as obras, o convento estava em riscos de ruir e os interiores muito danificados, mas, com a ajuda de historiadores da cidade alentejana, arquitectos e engenheiros, conseguiu-se fazer uma reconstrução exímia e ainda acrescentar alguns anexos — como é o caso do Diana Spa e de alguns dos quartos — perfeitamente integrados na arquitectura.
A capela, onde todos os domingos se reza a missa da paróquia dos Canaviais, é um dos ex-líbris do convento. A imagem de Nossa Senhora está guardada num altar todo em talha dourada e ladeado por azulejos que contam histórias.
Nos claustros do convento, cada quarto tem também uma história para contar. E quanto maiores os quartos mais histórias contam... A suíte D. Isabel revela uma das mais indecorosas, relativa ao casamento do príncipe D. Afonso com a princesa D. Isabel de Castela: "Parece que antes do casamento o príncipe teve 'ajuntamento com ela', o que causou estranheza aos frades e ao povo por ser em casa de Nossa Senhora. Nessa mesma noite, caiu uma ameia da igreja, junto aos aposentos onde os príncipes se encontravam e que foi visto como castigo pelo acto pecaminoso", contou o director do hotel.
Mas há muitas mais: desde fidalgos a prepararem uma conspiração contra D. João II, passando pela história da ermida que D. Sebastião mandou construir e onde se recolhia em oração, até à de que foi neste convento que D. Manuel recebeu a notícia da descoberta da Índia por Vasco da Gama.
O convento deve o seu nome a uma lenda: reza a história que Nossa Senhora terá aparecido em cima de um espinheiro a um pastor. Deste local de devoção foi feita uma capela e, no reinado de D. João V, construiu-se o convento que foi entregue aos frades Jerónimos.
Os reflexos dourados ainda se mantêm na pele. Voltar? Sem dúvida. Até porque existem outras extravagâncias conventuais a experimentar.