|
|
"A Terceira
Rosa", de Manuel Alegre
Para a história da vida
literária de Manuel Alegre, 1998 foi um ano de ouro.
A lume saiu um dos mais belos livros de poesia dos anos 90,
"Senhora das Tempestades", que esteve na origem
de vários prémios, e ainda "A Terceira
Rosa", a quarta incursão de Alegre no universo
da ficção.
Existencialmente, os tempos a que estão ligados "Senhora
das Tempestades" e "A Terceira Rosa" não
foram fáceis. Se por trás do primeiro está
um enfarte de miocárdio e dois ataques cardíacos
- "tinha ido ao outro lado e vindo", confessou Alegre
ao PÚBLICO em Janeiro de 1999 -, "A Terceira Rosa"
"foi uma emergência, um impulso, uma viagem para
trás" (suplemento Leituras, 9/1/1999). (TEXTO)
|
|
|
Manuel Alegre
A os 67 anos, Manuel Alegre
acaba de entregar na sua editora, a Dom Quixote, um livro
sobre o exílio, “Rafael”. Antes dele, tinha escrito “Cão
como Nós”, que já vendeu 120 mil exemplares.
E antes ainda, “A Terceira Rosa”, onde conta a história
de uma paixão, entre Xavier e Cláudia, e um
romance onde é possível entrever o próprio
escritor. Alegre escreveu-o como pensa que a vida se nos
oferece: em pequenos momentos, em fragmentos de eternidade,
sabendo que há coisas que não podem ser escritas,
ou, como diz, “inundadas pela prosa”. E a poesia? “A poesia,
como a matemática e a física quântica,
apanha tudo.” (TEXTO) |
|
|
O nome da paixão
“(Que nome te dar? Tu és única.
Tu és todas. Ou talvez nenhuma. Eu sou tu. Tu és
eu. A outra metade de mim. A parte de ti que de mim ficou.
A parte de mim que foi contigo. Ninguém me foi tão
próximo. Ninguém me escapou tanto. Como foi
que constantemente nos encontrámos e nos perdemos?
Esta é a história. Uma história sem
história. Um história só isto.)”
O
leitor chega ao fragmento número 22 e já sabe
que há um eu, Xavier, e um tu, Cláudia, personagens
centrais de um amor, mas não de um amor qualquer.
Mas do amor. Vá até ao primeiro fragmento e
volte a ler de novo. “Olá disseste. E a terra começou
a tremer.” A partir de então, nada será como
dantes. (TEXTO) |
|
|
Rafael
Depois de ter tido o seu nome ligado às
lutas académicas de Coimbra, em 1961 Manuel Alegre foi
mobilizado para Angola, onde viria a dirigir uma tentativa
de revolta militar contra a guerra colonial. Um pouco dessa
experiência relatou-a em “Jornada de África” (1989).
Depois, em 1964, quando regressou a Portugal, fugiu e partiu
para o exílio em Argel. Tornou-se militante da Frente
Patriótica de Libertação Nacional e assumiu
o lugar de um dos locutores da Rádio Voz Liberdade. “Rafael” – o
livro que tem edição prevista para o início
de 2004 – tem por base essa experiência limite. Alegre
avisa, porém: “É muito difícil escrever
o exílio.” (TEXTO) |
|
|
“Vivemos
num clima mais perverso do que na ditadura”
Concorda que a situação
que o país
vive, desde há alguns meses, é um excelente
tema de ficção. Só não sabe se
conseguiria ficcioná-lo, porque não sabe se é “verdadeiramente
um ficcionista”. É o político a falar mais
do que o escritor. Manuel Alegre está revoltado. (TEXTO) |
|
|
"Talvez não seja
um romancista, ou não sei bem o que é hoje ser
romancista, e não vejo que se possa fazer uma narrativa
hoje que não seja através da colagem ou da desmontagem
de fragmentos" |
|
|
“Poeta é aquele
que acredita que a palavra pode alterar o mundo.” |
|
|
|
|
|
Manuel
Alegre |
|
|
|
Manuel Alegre nasceu em Águeda em
1936. “A Terceira Rosa” foi publicado em 1998. |
|
|
|
|
|
|