1- Que papel pode o Presidente da República desempenhar para contribuir para o desenvolvimento económico do país?
2- Na sua opinião, qual deve ser a grande aposta estratégica do país para alavancar o desenvolvimento económico?
Aníbal Cavaco Silva
1. O Presidente da República (PR) tem como grande desafio contribuir para a mobilização dos portugueses, numa conjuntura extremamente adversa, através de uma magistratura de influência activa. Sendo ao Governo que compete governar, o PR deve usar todos os meios à sua disposição para influenciar os agentes políticos, económicos e sociais, as empresas, os trabalhadores e os cidadãos em geral a interiorizarem a vontade de levar o País a um novo rumo que combata o flagelo do desemprego e reduza o endividamento externo. A confiança que os diversos agentes, internos e externos, têm no PR é decisiva na captação das boas vontades. Essa confiança é decisiva no exercício de uma magistratura de influência e ela assenta num percurso pessoal e profissional facilmente avaliável por todos, seja no que toca à experiência no exercício de funções públicas, aos conhecimentos adquiridos e a um compromisso permanente com a verdade.
2. O grande desafio do País é o aumento da riqueza e da competitividade, especialmente nos sectores em que concorremos directamente com outros países, pois só assim é possível diminuir o desemprego e conter o endividamento externo. É também dessa forma que combateremos as enormes desigualdades sociais existentes no País. Assim, a grande aposta estratégica é o aumento da competitividade, elevando a nossa capacidade de exportar e de produzir, sendo capazes de substituir algumas importações, de forma a que uma maior percentagem do que consumimos seja produzida em Portugal - caso em que o sector agrícola deve ser um bom exemplo. Nesse sentido, a avaliação que o Presidente da República faça sobre o impacto das diversas medidas públicas no aumento da competitividade é uma forma de exercer a sua magistratura de influência activa.
Defensor Moura
Dependendo a economia de factores tão subjectivos como a confiança e a credibilidade, é ainda mais importante a acção do PR na garantia do regular funcionamento das instituições democráticas, contribuindo para a estabilidade e credibilidade interna e externa dos órgãos de soberania, numa articulação sintonizada com o Governo. Não sou economista, nem me parece que o PR ser economista traga qualquer vantagem para a resolução dos graves problemas da economia nacional. Veja-se o que aconteceu nos últimos anos com tão habilitado protagonista no Palácio de Belém.
Aumentar a produtividade, para reduzir as importações e aumentar as exportações, é um princípio básico que até um médico advoga e que uma boa dona de casa, como diz o dr. Medina Carreira, pode executar com sucesso. Como fazê-lo não faltam receitas que, com maior ou menor rapidez, podem garantir o sucesso.
Tal não será possível, porém, se continuarmos com uma administração pública centralizada que asfixia a criatividade e o dinamismo dos agentes empresariais e, com um pesado sistema judicial que, pela lentidão e ineficácia, acaba por beneficiar os infractores da corrupção e do clientelismo que campeiam impunemente na sociedade portuguesa, com incompreensível tolerância dos poderes instituídos e do cidadão comum, já familiarizado com a cunha, o favorecimento, o negócio paralelo, a fuga aos impostos, o tráfico de influências, as opacidades das parcerias público-privadas e das contrapartidas dos submarinos.
Na Presidência da República não deveria haver absoluta intolerância com estes roedores da credibilidade do nosso sistema democrático?
Fernando Nobre
1. O PR é um mobilizador e, nesse sentido, deve utilizar a sua influência. Tenho falado na ausência de um desígnio - é essa ausência que tem condenado Portugal a ser um país demasiado permeável a todas as marés. Comprometo-me enquanto Presidente a criar condições para que Portugal deixe de ser um país de serviços e que, continuamente, gasta mais do que produz. Para isso é necessário fazer crescer a economia, mas também revolucionar o sistema político e administrativo do país.
2. Gostaria de criar condições para que os diplomatas passem a estar comprometidos com o aumento das exportações e a captação de investimento para o país - esse compromisso influenciará positiva ou negativamente a sua carreira. No prazo de um ano apresentarei uma proposta para um pacto de revitalização da agricultura, das pescas e da indústria. Um país sem sector primário e secundário é um país sem futuro.
Francisco Lopes
O PR jura defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República e se esse juramento for consequente encontrará forma de contribuir para o desenvolvimento económico do nosso país. Designadamente dos princípios que determinam a subordinação do poder económico ao poder político e a consagração da coexistência dos sectores público, privado, cooperativo e social dos meios de produção.
Portugal deveria apostar na defesa e reforço do seu aparelho produtivo como motor do crescimento económico, dinamizador da procura interna, da substituição de importações e de um sector exportador competitivo e mais diversificado, sectorial e geograficamente. Defendemos, tal como a Constituição da República prevê, uma política económica e social alternativa que vise o aumento do bem-estar social e económico e da qualidade de vida das populações, em particular dos mais desfavorecidos. Defendemos a redução das desigualdades sociais e uma justa repartição da riqueza nacional já hoje produzida, com a revalorização dos salários e uma política fiscal e de segurança social adequadas.
José Manuel Coelho
1. Mesmo correndo o risco de ser considerado polémico e controverso, quero e vou dizer aos portugueses o que se passou nos últimos 30 anos para colocar Portugal outra vez num beco sem saída. O alastramento da corrupção, a engorda da máquina do Estado e dos partidos políticos, a ineficácia da Justiça, a paralisação da Economia foram os grandes cancros que contaminaram todo o País e nos colocaram em 2011 no abismo da iminência da bancarrota nacional. Terei uma intervenção pró-activa fiscalizando e controlando a política económica do Governo. Desta forma a nossa economia nunca ficaria refém dos interesses da banca e dos grandes grupos económicos. Em suma, impedirei o controlo do capital financeiro sobre a economia real do País.
2. É preciso apostar no sector empresarial do Estado a fim de recuperar mais-valias e valor acrescentado para financiar o Estado Social. Quero acabar com o princípio neoliberal de que as empresas lucrativas são para o sector privado e as deficitárias para o sector público. Acabar de vez com o regabofe de fuga aos impostos no off-shore da Madeira. É preciso voltar a fazer aquilo que sempre se fez melhor. Precisamos não de uma grande aposta estratégica mas de múltiplas estratégias nas áreas que melhor dominamos.
Manuel Alegre
O Presidente deve inspirar o debate em torno dos grandes problemas nacionais e ser um moderador político e social. Num momento em que a Europa entrou num ciclo de desconstrução, Portugal deve ter voz própria na reforma dos tratados. E deve procurar um novo modelo de desenvolvimento para sair do ciclo vicioso da austeridade e da recessão. Há também razões estruturais para a crise. Uma economia assente na mão-de-obra barata e no betão não nos serve. Mas não podemos secundarizar ou adiar as questões sociais. Como Lula demonstrou, a luta contra a pobreza é ela própria condição do desenvolvimento económico.
Precisamos de uma nova estratégia de desenvolvimento, com mais inovação, mais emprego, mais coesão. Temos de refazer o nosso tecido produtivo a partir dos nossos recursos (da agricultura à floresta e ao meio marinho) e valorizando os nossos diferentes patrimónios, em especial a História, a cultura, a língua, os sítios e as paisagens.Aumentar as exportações, diminuir a factura energética, melhorar o desempenho ambiental, incentivar e economia social, qualificar as pessoas e promover os sectores em que temos pontos fortes são dimensões essenciais. Mas a grande aposta estratégica, sem a qual Portugal compromete o seu próprio futuro, é incorporar no nosso tecido empresarial as elevadas qualificações das gerações jovens, cujo desemprego e precariedade constituem o nosso maior desperdício de recursos.