O Telegraph de anteontem, falando da visita do Papa, traduziu "Viva o Papa" como Long live the Pope. No entanto, o long live está mais perto do nosso "Que conte muitos" do que do "Viva". O nosso "viva" não é nem isso nem o viva Zapata!, no sentido de "Deus queira que não morra!" O "viva o Papa!" só superficialmente significa que não queremos que ele morra. O nosso "viva" é mais um "Uau, o Papa!" do que o desejo que morra muito velho. O adjectivo long está a mais.
Este Papa já viveu muitos anos. Que conte muitos, já agora. Mas até do Papa anterior, que já morreu, os portugueses podem dizer "Viva o Papa João Paulo II!". O estar morto não interessa. Não se deseja que um morto conte muitos. Mas dão-se vivas a ele. Viva Luís de Camões!
A diferença entre Long live the Pope e "Viva o Papa" é enorme por ser cultural. O inglês é empírico: "Como gostamos (ou temos de fingir que gostamos) desta pessoa, queremos que ela viva muitos anos e que vamos continuar a gostar dela até morrer."
O português é apenas emotivo: "Que sorte! O Papa está aqui ao pé de mim! Eu até nem gostava dele! Mas agora gosto e quero que ele saiba que gosto muito dele! E, sobretudo, quero que ele goste muito de nós! E de Portugal!"
É uma especialidade nossa, isto de sermos mais do que hospitaleiros e teimarmos e tudo fazermos para que os nossos hóspedes gostem de nós, sejam estrelas pop ou pontifícias. Mas, sim, parece que o Papa alemão de quem ninguém gostava gosta de nós.