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O direito à festa e as novas inquisições

11.05.2010 - 08:13 Por António Marujo

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Houve festa no domingo, era previsível, por causa do futebol. Voltará a haver hoje, por causa do Papa. Ainda bem: a festa é uma dimensão importante da existência. Mesmo se um certo discurso dominante quer negar, pelo menos a quem faz a festa em nome da sua fé, esse direito. Há um novo discurso inquisitorial que, hoje, se volta muitas vezes contra quem crê.


Muita gente se manifestou indignada por causa da tolerância de ponto concedida pelo Governo a propósito da viagem do Papa. Outros contestam os custos da visita. E argumentam com o país em crise ou com dinheiros que deveriam ser utilizados na ajuda aos pobres.

Não sou favorável à concessão de tolerância de ponto para dia 13. Quem pretende ir a Fátima, organiza normalmente a sua vida para isso. Desta vez, não teria que ser diferente. Já as tolerâncias de Lisboa e Porto são uma questão de bom senso: as duas cidades serão perturbadas, trata-se de facilitar a vida às pessoas.

Claro que poderíamos não ter cá o Papa para evitar estes aborrecimentos. Mas quantos acontecimentos extraordinários já nos perturbaram a vida? Cimeiras, um campeonato de futebol, visitas de estadistas, festejos de vencedores...

Quanto à crise: na sociedade contemporânea, o trabalho é um deus. Séculos atrás, quem não trabalhava é que estava do lado certo. Algures no meio estará a virtude? Um acontecimento como a visita do Papa, mesmo em tempos de crise, pode fazer-nos recordar que não somos feitos, como pessoas, apenas para trabalhar. Aliás, a crise e a produtividade de que o país precisa poderia levar-nos a outras conversas. Como a da incapacidade dos Governos em controlar poderes financeiros que ninguém escolheu e que são, esses sim, responsáveis pela crise que vivemos.

E sejamos justos sobre a conversa dos pobres: são muitos os católicos e as instituições da Igreja que estão onde o Estado e tantos outros críticos não estão. E é curioso ouvir o pedido de contenção de custos no país europeu que menos poupou em 2009, como soubemos na semana passada.

Finalmente: do que conheço do cristianismo, a multidão não é o que melhor concretiza a experiência da fé. Mas reconheço a legitimidade das pessoas poderem dar uma dimensão festiva a elementos essenciais da sua existência. Para alguns, isso não deveria acontecer. Prefiro respeitar quem o quer viver dessa forma.