João Paulo II deu uma notoriedade global a Fátima e a cidade espera que a visita de Bento XVI traga um novo fôlego a um santuário que é também um destino turístico.
Fátima recebe seis milhões de peregrinos e turistas por ano, mas daí a ser um destino para os grandes mercados turísticos como o da Europa Central e do Leste, Brasil e EUA, ainda falta muito. O sector do turismo espera que a visita de Bento XVI dê mais visibilidade à cidade que nasceu e cresce à volta da devoção a Maria, mas acredita que o passo fundamental será dado este ano, quando o turismo religioso passar a ser classificado produto estratégico, no âmbito do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT).
A medida, reclamada pelas entidades ligadas ao turismo, foi confirmada há pouco menos de uma semana pelo secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, segundo o qual o "touring cultural e paisagístico", responsável por 700 milhões de euros de receitas anuais, passa a designar-se "turismo cultural e religioso" e a integrar a lista dos dez produtos estratégicos para o país. A alteração será feita no âmbito da revisão do PENT, prevista para este ano.
O efeito prático desta medida passa sobretudo pelo fôlego financeiro e institucional que o turismo religioso terá para a sua promoção e visibilidade externas. Numa recente feira internacional de turismo religioso em Roma, Fátima não tinha uma única imagem, lembra o presidente da região de turismo Leiria-Fátima, David Catarino, a quem o episódio foi contado pelo embaixador de Portugal na capital italiana.
O secretário-geral da Confederação do Turismo Português, Jorge Catarino, explica que, em vez de um esforço isolado da iniciativa privada, o regime da contratualização externa com as autoridades do turismo, possível a partir do momento em que o turismo religioso for classificado como produto estratégico, dá prioridade a este segmento e permite multiplicar o investimento na promoção turística de um para cinco. Por cada euro da iniciativa privada, o Estado aplicará quatro, desde que o público e o privado estejam de acordo quanto aos mercados a atingir.
Dez produtos estratégicos
"Se os mercados emissores forem objecto de consenso com as autoridades públicas, [estas] não só se comprometem a fazer acções que dêem visibilidade como torna possíveis os esforços dos privados", acrescenta o responsável da CTP.
Jorge Catarino reconhece que o turismo religioso "não é uma panaceia para o turismo português, mas provavelmente já tem uma dimensão suficiente e um potencial de crescimento que justifica que entre no grupo dos dez produtos estratégicos".
Desde 2006, o turismo religioso recebeu 5,2 milhões de euros de incentivos para um investimento total de 24,6 milhões de euros, de fundos do QREN e do programa de intervenção do turismo, segundo números do Ministério da Economia.
A estratégia de captação de mercados que parece traçar-se para o turismo religioso aponta em duas direcções: reforço nos mercados tradicionais da Europa e centro da Europa, nomeadamente Polónia e República Checa, e entrada em novos mercados como o Brasil, tirando partido de ser também um grande destino da TAP, para além dos EUA e Canadá.
Quanto à oferta, o sector quer associar o turismo religioso - sobretudo com destino a Fátima e Braga - ao património, à natureza e à gastronomia. No caso de Fátima, aponta-se a sua proximidade aos mosteiros de Alcobaça e Batalha, às serras de Mira d"Aire, Candeeiros e Sicó, para além da tradição gastronómica.
Uma grande diferença entre Fátima e destinos como Lourdes estará na forma como ambos são promovidos, com vantagem para o segundo. "Os franceses associam um conjunto de outros recursos turísticos", que não apenas o religioso. Por isso, sublinha Jorge Catarino, os turistas permanecem quatro a cinco dias em Lourdes, o dobro do tempo do que em Fátima, o que se reflecte na despesa feita por eles.
Governo, entidades do turismo e região estão de acordo que o baixo período de estadia dos visitantes e a fraca despesa têm sido dois pontos de debilidade do turismo religioso em Portugal e que devem ser melhorados.
O presidente da região de turismo Leiria-Fátima, que não tem dúvida de que foi João Paulo II quem deu "notoriedade universal" a Fátima, reconhece que a diversidade da oferta turística que complementa a visita à região tem crescido, "sobretudo a partir do momento em que as férias passaram a ser pagas", mas continua pouco desenvolvida.
Para além do património, da natureza e da gastronomia, David Catarino defende que a região deve também apostar no turismo de negócios, considerando que o baixo tempo de permanência só se combate "resolvendo a oferta complementar" e acredita que o projecto de um centro de congressos, da AIP, para Fátima, para um segmento mais barato do que Lisboa, pode trazer mais visitantes e atenuar as quebras dos picos do turismo religioso.