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As três viagens de Bento XVI

17.05.2010 - 11:31

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Houve três viagens diferentes na primeira visita de Bento XVI a Portugal. A imprensa estrangeira viu-a sobretudo como a primeira grande viagem papal desde o início do escândalo da pedofilia, uma vez que Malta não tem uma relevância comparável a Fátima no universo católico.

Em Portugal, além da questão da laicidade do Estado, omnipresente nas polémicas em torno desta viagem, o principal foco estava na coincidência desta visita com o prazo para Cavaco Silva decidir sobre o casamento homossexual, que termina segunda-feira. E havia uma expectativa importante quanto ao encontro com personalidades da cultura, uma novidade da visita. Bento XVI resolveu a questão da pedofilia antes de aterrar, com uma declaração forte em que assumiu as responsabilidades da Igreja. Esse passo precedeu os encontros com as multidões em Portugal. Estes foram o verdadeiro teste para o resto do mundo e deram ao Papa uma legitimação necessária face à crise que a Igreja enfrenta. As questões do casamento homossexual e do aborto foram mencionadas em Fátima. Seria difícil o Papa escapar a esses temas, que aliás abordou de forma muito pouco enfática. Mas se olharmos as palavras do Papa como as de um chefe de Estado, é difícil não as ver como uma ingerência.

Já o encontro com as figuras da cultura mostra como a Igreja que Bento XVI quer para o século XXI é muito mais uma igreja de elites do que uma igreja de multidões. Uma igreja que assenta numa minoria e não numa maioria. Mas uma minoria activa, com capacidade de influência. É todo um novo papel que o Papa racional procura para o catolicismo, muito distante da igreja dos afectos de João Paulo II.

Por vezes mais vale o silêncio

Costuma dizer-se, na gíria popular, que é melhor estar calado do que dizer asneiras, mas os líderes políticos fazem questão de ignorar olimpicamente essa verdade. Ainda ontem, no preciso dia em que todo o país lia de fio a pavio na imprensa as novidades pouco agradáveis que a crise e a fatal austeridade lhe impõem, o primeiro-ministro repetia, com ar visivelmente satisfeito, o que já começa a ser cansativo ouvir: que Portugal foi um dos primeiros países a sair da condição de recessão técnica depois da crise mundial; que foi também dos que melhor resistiram à crise em toda a Europa; e que, nessa Europa, teve este trimestre o maior crescimento entre todos. Portugal devia, neste cenário, estar feliz? Sem dúvida, segundo José Sócrates. Porque, disse ele ontem na refinaria de Sines, actualmente em obras de conversão que vão custar 1300 milhões de euros, há "boas razões para ter confiança na economia portuguesa e no país". Calcula-se que essas boas razões são as mesmas que ele não se cansa de repetir, chova ou faça vento, em lugar de apelar ao realismo e ao sentido de sacrifício que os portugueses, mesmo que não queiram, serão obrigados a ter. Porque se é para repetir o paliativo da "confiança", mais valia o silêncio, coisa que Sócrates desconhece.