Caderno Eleitoral
Xanana, os Partidos e a nova
mentalidade
Por Luciano Alvarez
Segunda-feira, 27 de Agosto de 2001
Com o aproximar da data das eleições
para a Assembleia Constituinte de Timor, a campanha eleitoral
chegou finalmente e com alguma força a Díli.
O tempo para apresentar as propostas termina amanhã
e alguns partidos trazem para a capital os seus comícios
finais. E todos eles têm merecido agora a presença
de Xanana Gusmão.
No sábado, já depois de ter anunciado
a candidatura à presidência da futura República
independente, o líder histórico da resistência
passou pelos comícios do Partido Socialista de Timor
(PST) e do Kota. Ontem foi a vez do Partido Trabalhista (PT)
e do Partido Democrático (PD).
Estas são forças políticas
com ambições diferentes nas eleições
de dia 30. O Kota e PT surgem na lista dos que têm poucas
esperanças de obter percentagens altas de votos, enquanto
o PS e o PD lutam pelos lugares cimeiros.
O PD é mesmo uma das grandes surpresas
da campanha e tem merecido a preferência de Xanana Gusmão,
que já passou três vezes pelos seus comícios
enquanto aos restantes três foi apenas uma vez (Xanana
já esteve também duas vezes nos comícios
do Partido Social Democrata).
Criado há cerca de um ano, o PD consegue
ser dos partidos que reúne mais gente nos seus comícios
e sessões de esclarecimento, dos mais dinâmicos
em campanha, e apostou numa forte distribuição
à população do seu projecto eleitoral.
O PD foi de tal forma conquistando terreno e ganhando apoios
(de Xanana e outras personalidades da vida política
timorense) que é já apontado por muitos observadores
como um dos três partidos que conseguirá mais
votos.
Liderado por Fernando Araújo, um lutador
pela independência que foi durante vários anos
companheiro de prisão Xanana Gusmão na cadeia
indonésia de Cipinang, o PD conseguiu reunir no seu
núcleo forte alguns dos principais dirigentes da ex-Renintil
(os estudantes da resistência), guerrilheiros e combatentes
pela independência, quer no mato, quer nas células
das cidades. Com um discurso sereno, de apelo à unidade
e de defesa do povo, o PD chamou a si os jovens, e a seguir
vieram os mais velhos.
Ontem, no Estádio de Díli, o
PD conseguiu reunir uma das maiores assistências nos
comícios das várias forças em campanha.
Quando Xanana Gusmão chegou (mais uma vez com as suas
máquinas fotográficas e sempre a retratar tudo
e todos), foi uma festa. O líder histórico da
resistência, questionado - devido ao número de
visitas a comícios do PD - sobre se tinha alguma preferência
por este partido, não escondeu a sua irritação:
"Não vêem que esta é a gente que
lutou ao meu lado durante 24 anos. Qualquer dia não
posso sair à rua."
Xanana, tal como nos outros comícios
em que participou, fez depois um discurso que foi acima de
tudo um apelo à defesa dos interesses do povo, à
tolerância e uma lição básica do
que é a democracia: "É como um jogo de
futebol. Às vezes ganha-se, outras perde-se e até
se empata, mas a malta é sempre amiga porque no outro
dia o vencedor pode ser outro."
O líder histórico disse ainda
que há uma mentalidade nova em Timor. Uma mentalidade
de liberdade e democracia que Xanana diz que vai vencer. O
PD aposta exactamente nesse slogan, dizendo que o partido
é "uma nova alternativa" aos partidos do
passado, mas formado por "gente que esteve na luta"
e que tem como objectivo principal "a defesa do povo".
"Este é o nosso êxito",
diz Fernando Araújo. "Se não ganharmos
hoje, vamos na mesma festejar a democracia e a liberdade.
E quem sabe amanhã, como diz Xanana, chegue a nossa
vez.", acrescenta. Uma modéstia que contrasta
com os muitos que apontam já o PD como um dos grandes
vencedores das eleições do dia 30.
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