- 23 de Agosto de 2001

Caderno Eleitoral
A importância do crocodilo e da sua cor
Por Luciano Alvarez
Sexta-feira, 24 de Agosto de 2001

Que importância pode ter um crocodilo ou a sua cor na realização de um acto eleitoral? Em Timor-Leste, pode ter alguma. A história já foi contada mas está a ter desenvolvimentos. Relembre-se: na praia da Areia Branca, a mais conhecida da zona de Díli, anda, há uns dias a esta parte, a passear um crocodilo (ou talvez mais, ninguém tem a certeza). Até aqui nada de grave. O problema é que nem sempre o crocodilo (este ou outros) visita esta zona do país. O último, diz o povo, apareceu antes da divulgação dos resultados do referendo de Agosto de 1999, que libertou a ilha da ocupação indonésia mas motivou também os actos de destruição e morte levados a cabo pelas milícias e militares indonésios. E diz também o povo que em 1975, antes da invasão da Indonésia, os crocodilos também tinham andado por ali.

Os crocodilos na praia da Areia Branca (e cujo tamanho varia, mais uma vez segundo o povo, entre os três e os sete metros) estão por isso associados a desgraça. Sendo assim, o crocodilo - bicho que até faz parte de algumas lendas desta metade da ilha - que por lá anda agora não é visto com bons olhos por muito boa gente e é motivo de conversa frequente.

Entre medos, mistérios e lendas que trazem assustadas algumas pessoas e já foram notícia de jornal em Timor, Portugal e outros países, alguns dos moradores locais, com idade e memória para lembrar a passagem dos outros crocodilos, vieram recentemente acalmar os mais preocupados. Segundo garantem, os animais que por ali passaram em 1975 e em 1999 eram de cor escura e este (ou estes) é branco. Quase tão claro como o leite, juram. Sendo assim, acrescentam, o crocodilo de 2001 só pode trazer felicidade.

Assim como assim, o povo continua preocupado e os muitos timorenses que, pelas mais variadas razões, se deslocam à praia da Areia Branca não vão só para ver o crocodilo mas também para confirmar a sua cor. Só que o bicho (ou os bichos) não tem passado por ali nos últimos dias. Embora os que por ali moram continuem a jurar a pés junto que este é branco. Quase tão branco como o leite.

Os militares da força de paz da ONU, que já tentaram apanhar sem sucesso o animal (ou os animais), indiferentes aos receios locais, e pelo sim pelo não, instalaram recentemente dois grandes cartazes junto à praia, nos quais, em inglês e em tétum, avisam as pessoas que não devem nadar naquela zona porque por lá andam crocodilos.

A única coisa que o PÚBLICO pode assegurar é que os crocodilos que os militares da ONU pintaram nos cartazes são brancos.


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