Caderno Eleitoral
A importância do crocodilo
e da sua cor
Por Luciano Alvarez
Sexta-feira, 24 de Agosto de 2001
Que importância pode ter um crocodilo
ou a sua cor na realização de um acto eleitoral?
Em Timor-Leste, pode ter alguma. A história já
foi contada mas está a ter desenvolvimentos. Relembre-se:
na praia da Areia Branca, a mais conhecida da zona de Díli,
anda, há uns dias a esta parte, a passear um crocodilo
(ou talvez mais, ninguém tem a certeza). Até
aqui nada de grave. O problema é que nem sempre o crocodilo
(este ou outros) visita esta zona do país. O último,
diz o povo, apareceu antes da divulgação dos
resultados do referendo de Agosto de 1999, que libertou a
ilha da ocupação indonésia mas motivou
também os actos de destruição e morte
levados a cabo pelas milícias e militares indonésios.
E diz também o povo que em 1975, antes da invasão
da Indonésia, os crocodilos também tinham andado
por ali.
Os crocodilos na praia da Areia Branca (e cujo
tamanho varia, mais uma vez segundo o povo, entre os três
e os sete metros) estão por isso associados a desgraça.
Sendo assim, o crocodilo - bicho que até faz parte
de algumas lendas desta metade da ilha - que por lá
anda agora não é visto com bons olhos por muito
boa gente e é motivo de conversa frequente.
Entre medos, mistérios e lendas que
trazem assustadas algumas pessoas e já foram notícia
de jornal em Timor, Portugal e outros países, alguns
dos moradores locais, com idade e memória para lembrar
a passagem dos outros crocodilos, vieram recentemente acalmar
os mais preocupados. Segundo garantem, os animais que por
ali passaram em 1975 e em 1999 eram de cor escura e este (ou
estes) é branco. Quase tão claro como o leite,
juram. Sendo assim, acrescentam, o crocodilo de 2001 só
pode trazer felicidade.
Assim como assim, o povo continua preocupado
e os muitos timorenses que, pelas mais variadas razões,
se deslocam à praia da Areia Branca não vão
só para ver o crocodilo mas também para confirmar
a sua cor. Só que o bicho (ou os bichos) não
tem passado por ali nos últimos dias. Embora os que
por ali moram continuem a jurar a pés junto que este
é branco. Quase tão branco como o leite.
Os militares da força de paz da ONU,
que já tentaram apanhar sem sucesso o animal (ou os
animais), indiferentes aos receios locais, e pelo sim pelo
não, instalaram recentemente dois grandes cartazes
junto à praia, nos quais, em inglês e em tétum,
avisam as pessoas que não devem nadar naquela zona
porque por lá andam crocodilos.
A única coisa que o PÚBLICO
pode assegurar é que os crocodilos que os militares
da ONU pintaram nos cartazes são brancos.
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