Retórica domina primeiro
debate político em Timor
Por António Sampaio,
Díli
Quarta, 18 de Julho de 2001
Foi uma estreia, qualificada de "evento
histórico", mas que pouco esclareceu, pois predominaram
as generalidades
Representantes de 14 dos 16 partidos concorrentes
às eleições de 30 de Agosto em Timor-Leste
participaram ontem no primeiro debate da campanha, moderado
por José Ramos-Horta e marcado por generalidades e
retórica.
Reunidos no auditório do Departamento
de Informação da administração
transitória e num encontro organizado pela Associação
de Jornalistas de Timor-Leste, os representantes partidários
- em que se notaram as ausências do PDM e da ASDT -
apresentaram as plataformas centrais dos seus partidos.
Abrindo o debate, José Ramos-Horta relembrou
que "pela primeira vez na história" os partidos
políticos se reuniam, antes de eleições
livres, para apresentarem "as suas ideias com transmissão
em directo". "Este é um evento histórico
e o primeiro do género em Timor-Leste", salientou.
O debate, que começou cerca das 09h00
e se prolongou até às 17h00, foi transmitido
pela Rádio UNTAET, devendo ser transmitido em diferido
na TVTL na quarta-feira.
Depois de uma pequena introdução
"de apenas um minuto", como relembrou Ramos-Horta,
os representantes dos partidos políticos responderam
a várias questões de um grupo de jornalistas
timorenses. Além de dúvidas sobre as plataformas
de cada um, o tema mais debatido na fase inicial foi a questão
da violência e dos eventuais problemas que possam surgir
após o sufrágio.
Em tétum, e um por um, cada um dos representantes
partidários garantiu que o seu partido se compromete
a aceitar o resultado da votação de 30 de Agosto,
reafirmando o empenho "na paz e estabilidade".
Ramos-Horta aproveitou o papel de moderador
para lançar logo alguns desafios, querendo saber por
exemplo qual é a diferença da democracia cristã
do Partido Democrata-Cristão (PDC) e do Partido Democrata-Cristão
Timor (UDC/PDC).
Declarando-se "igualmente confuso"
sobre as diferenças entre a social-democracia do PSD
e a da ASDT, questionou ainda a vice-presidente do Partido
Nacionalista Timorense (PNT) sobre a sua intervenção
inicial em que "quase falou como se fosse da Fretilin".
"Sendo assim, então porque é que não
se junta à Fretilin?", interrogou, perante risos
da pequena plateia.
Num intervalo do debate, José Ramos-Horta
explicou a jornalistas portugueses que com 16 partidos é
necessário "manter um bom sentido de humor"
para tentar "encontrar as 'nuances' necessárias
para explicar as diferenças ao eleitorado".
Admitindo que numa primeira fase os partidos
optam bastante pela "retórica e generalidade",
considerou que mais do que conhecer as plataformas o importante
é saber "onde vão buscar o dinheiro"
para cumprir as promessas. "Infelizmente, creio que só
dois ou três partidos é que fizeram um estudo
adequado. De outros ouve-se muita demagogia irresponsável",
criticou.
O debate em que a "língua oficial"
foi o tétum funcionou sob regras bastante estritas,
que proibiam "o uso de palavras insultuosas" ou
interrupções, tendo cada candidato de esperar
até que o moderador lhe passasse a palavra. "Ninguém
pode interromper, quer para falar quer para discutir, enquanto
outro candidato estiver a falar", determina a lista de
20 regras entregue a cada um dos participantes. Não
poderiam igualmente dar entrevistas durante a realização
do evento nem "abandonar a arena de discussão".
Os encontros com a imprensa arrancam
a sério na próxima semana quando diariamente
um representante de cada um dos 16 partidos se apresentará
para um debate alargado com jornalistas timorenses e estrangeiros
em Timor-Leste.
Lusa
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