Acabou o Conselho Nacional,
começou a campanha em Timor-Leste
Por António Sampaio/Lusa
Domingo, 15 de Julho de 2001
Apesar de não ser um orgão
eleito, o Conselho Nacional timorense trabalhou muito em pouco
tempo, aprovando tantos regulamentos que estabeleceu "um
recorde em termos dos parlamentos mundiais". Ontem foi
extinto e louvado numa breve cerimónia. Hoje arranca
a campanha eleitoral para a futura Assembleia Constituinte
de Timor-Leste.
Bastaram pouco mais que 20 minutos para que
o Conselho Nacional, o parlamento transitório de Timor-Leste,
fosse ontem formalmente extinto numa curta cerimónia
que durou bastante menos tempo do que as despedidas finais.
Perante 26 dos 32 membros que o integravam
desde Março - depois da demissão de Xanana Gusmão
- e na presença de representantes diplomáticos
e observadores, Sérgio Vieira de Mello assinou formalmente
o regulamento que pôs fim ao primeiro exercício
legislativo timorense. "Tal como previsto no calendário
de transição, o Conselho Nacional dissolve-se
hoje", referiu o presidente da estrutura, Manuel Carrascalão
no início da curta cerimónia.
Ainda que os seus membros não tenham
sido eleitos, o Conselho Nacional provou, nas 92 sessões
que realizou, 30 moções e avaliou 28 regulamentos
apresentados pelo executivo, chumbando apenas um - sobre a
criação de comissões constitucionais
distritais.
Dada a pressão do calendário
e só nas duas últimas semanas, o Conselho Nacional
aprovou uma dúzia de regulamentos, conseguindo nas
últimas duas sessões fazer passar pacotes legislativos
sobre os serviços prisionais, gestão financeira
e orçamental, alterações aos regulamentos
judiciais e a criação de um serviço de
apoio judiciário.
Na sua penúltima sessão, antes
do encerramento formal de ontem, os membros do Conselho Nacional
aprovaram ainda uma resolução final autorizando
Sérgio Vieira de Mello a "executar provisoriamente"
oito regulamentos "na condição de serem
posteriormente aprovados pela Assembleia Constituinte".
São eles o referente à criação
de um Banco Central de Timor-Leste, um Código Laboral,
o de televisão e rádio pública, um pacote
sobre os standards para os produtos orgânicos e o da
criação de uma autoridade reguladora das telecomunicações.
No mesmo grupo estão alterações ao sistema
tributário - para isentar o café de direitos
aduaneiros de exportação - ao reforço
da "dolarização" da economia timorense
e à lei de espécies protegidas.
Com um trabalho muito mais intenso do que
inicialmente previsto e depois de centenas de reuniões
das sete comissões parlamentares que o integravam,
o Conselho Nacional acabou por elaborar dois projectos de
lei, entre eles a Lei Eleitoral agora em vigor.
Louvando o papel dos membros do Conselho Nacional,
Manuel Carrascalão reconheceu os seus "grandes
esforços acrescidos" para conseguir fazer aprovar
o largo número de regulamentos que por ali passaram
no curto tempo de vida do Conselho Nacional.
Também Sérgio Vieira de Mello
salientou a importante colaboração de todos
os membros da estrutura para conseguirem aprovar tantos regulamentos
"claramente um recorde em termos dos parlamentos mundiais".
"O trabalho do Conselho Nacional
terá um impacto a longo- prazo no futuro de Timor-Leste",
referiu salientando em particular o apoio da Assembleia da
República portuguesa e dos cinco funcionários
enviados para o território "a quem este Conselho
e Timor-Leste muito devem".
Em declarações aos jornalistas
depois da cerimónia, Vieira de Mello defendeu a decisão
de usar directivas para substituir os únicos dois aspectos
rejeitados pelo Conselho Nacional, um referente a quotas de
participação de mulheres e outro sobre as comissões
constitucionais distritais.
Manuel Carrascalão, o presidente do
Conselho Nacional, disse à Lusa não conseguir
ainda entender a razão que levou à extinção
da estrutura, defendendo a sua vigência até à
criação da Assembleia Constituinte.
Nascido a 23 de Outubro do ano passado depois
de consultas alargadas mantidas por Sérgio Vieira de
Mello com a liderança timorense, o Conselho Nacional
- era o único órgão da transição
totalmente formado por timorenses.
Inicialmente, a estrutura era presidida por
Xanana Gusmão, que acabou por
abandonar as funções e as estruturas em Março,
tendo sido substituído durante alguns dias por José
Ramos Horta. A presidência foi desde aí assumida
por Manuel Carrascalão, que bateu Ramos Horta num processo
de eleição por voto secreto.
O CN integrava 13 representantes de partidos
políticos e igual número de representantes dos
distritos, sete de organizações da sociedade
civil e três membros das comunidades religiosas.
A lista de membros inclui alguns nomes fortes
da sociedade timorense, pesar dos dois partidos históricos,
Fretilin e UDT, terem avançado com candidatas praticamente
desconhecidos fora do território, respectivamente Cipriana
Pereira e Maria Lacruna.
Durante as suas funções o parlamento
transitório contou com o apoio de entre dois e cinco
funcionários parlamentares emprestados pela Assembleia
da República portuguesa, no âmbito de um protocolo
de cooperação assinado durante a visita ao território
de António Almeida Santos.
O secretariado da estrutura era formado por
três internacionais e uma timorense contando ainda com
o apoio de 11 funcionários timorenses e apenas dois
tradutores/intérpretes de português e inglês.
A sala onde estava instalado o Conselho
Nacional vai ser agora recuperada e melhorada para ali instalar
a Assembleia Constituinte a eleger no dia 30 de Agosto.
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