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”O
Estrangeiro ”, de Albert Camus
Mersault recebe a notícia da morte da mãe através
de um telegrama: “Sua mãe falecida. Enterro amanhã.
Sentidos pêsames.” Fica-lhe a dúvida se
terá morrido naquele dia ou na véspera. Imediatamente
nos dá conta de que pediu dois dias ao patrão
e de que à má cara deste respondeu: “A
culpa não é minha.”
O protagonista passa logo às questões práticas:
pedir emprestados uma gravata preta e um fumo, almoçar
e dirigir-se ao autocarro que o levará ao asilo onde
a mãe residia. Dormiu durante quase toda a viagem.
“Por agora, é um pouco como se a mãe não
tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário,
será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se
de um ar mais oficial”, pensou, antes de viajar.
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Condenado por não chorar
Há três mortes neste segundo
romance de Albert Camus, uma natural e duas não. Numa
mata-se com a pistola, noutra com a guilhotina. Crime, só
a do revólver. É Mersault, o protagonista de
"O Estrangeiro", que dispara sobre um árabe,
na praia, num dia de muito sol. Também ele há-de
morrer, por execução. Antes de tudo isto, assiste
ao funeral da mãe. Sem chorar.
Com este enredo, Camus põe a verdade, a justiça
e a culpa a andar às voltas na cabeça de Mersault.
E na nossa.
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