O Nome da Rosa
Umberto Eco


 


Este livro deu um filme
O Guilherme de Sean Connery
Nuno Franco

Mostrando uma Europa brutal, simultaneamente imersa nos fantasmas da superstição e tão cheia de contradições, o filme "O Nome da Rosa", realizado pelo francês Jean-Jacques Annaud em 1986, a partir do romance homónimo de Umberto Eco, abre com duas personagens a cavalgarem numa paisagem gelada, dirigindo-se para uma abadia isolada no norte de Itália. Nessa altura ainda não o sabemos, mas aos poucos, descobre-se tratar-se das memórias de um monge alemão do século XIV (Christian Slater) que, quando noviço, é enviado para ajudar um afamado teólogo inglês da época, Guilherme de Baskerville (Sean Connery) a descobrir o culpado de uma série de crimes sanguinolentos que estão a ocorrer nesse local. É este o ponto de partida para, em "O Nome da Rosa", Annaud criar uma visão policial que não anda longe do original de Eco mas que lhe serve, mais do que isso, para fazer um retrato realista de época. Opção estilística com evidentes implicações formais, até porque Annaud parece ter nessa confrontação com o real o território mais talhado - a expensas de uma eloquente reconstituição da época pré-histórica, como a que fez no início da década de 80, em "A Guerra do Fogo" - para aceder a outras dimensões, como o da efabulação (presente na forma como trabalha o suspense). Filmes de ambiências saturadas e de sucessivos desbobramentos, numa história que não deixa de ter contornos quase borgianos - nem que seja pela visão da labiríntica biblioteca em chamas -, "O Nome da Rosa" acaba como metáfora das muitas visões fracturadas que parecem pairar, à época, na cultura da Idade Média, e que Eco tão bem recriou no seu romance.