Pelo
Homem e com o Homem
Apesar de ter decidido aos 14 anos que seria escritor, John
Steinbeck foi muitas outras coisas na vida. Nascido no fértil
Vale de Salinas, na Califórnia, em 1902, começou
por se dedicar à biologia marítima - uma das
suas principais influências é Edward Ricketts,
um professor da Universidade de Stanford que conheceu enquanto
frequentava um curso que não chegaria a acabar.
Depois de abandonar a faculdade, Steinbeck
teve várias profissões, indispensáveis
à construção de algumas das suas mais
emblemáticas personagens. Foi repórter, em Nova
Iorque, e regressou à Califórnia para ser caseiro
de uma propriedade no Lago Tahoe, aceitando trabalhos como
servente, aprendiz de pintor e apanhador de fruta e encontrando
sempre tempo para escrever.
O seu primeiro romance, "Cup of Gold"
(1929), uma narrativa histórica sobre o capitão
Henry Morgan, um pirata jamaicano, antecedeu aquela que, segundo
os críticos, seria a sua década de criação
mais produtiva. Nos anos 30, Steinbeck escreve "Tortilla
Flat" (1935), "In Dubious Battle" (1936), "Ratos
e Homens" (1937) ou "As Vinhas da Ira" (1939),
o último valendo-lhe o Prémio Pulitzer e o National
Book Award.
Na maioria das suas obras, marcadas pela paisagem
e o quotidiano californianos, o autor explora as duras condições
de vida das populações rurais, obrigadas a sobreviver
no limiar da pobreza ou forçadas a longas e miseráveis
migrações. Procurando tornar evidente que cada
ser humano deve ser analisado no ambiente em que se insere,
o autor dedicou-se, sobretudo, ao retrato de personagens inadaptadas
("A Leste do Paraíso", de 1952, transposto
para o cinema por Elia Kazan e protagonizado por um brilhante
James Dean, é um dos melhores exemplos), camponeses
em busca de uma terra prometida, homens e mulheres no limite
das suas forças, prestes a renunciar aos valores morais
que a América proclamava.
Para alguns dos ensaístas, a obra que
melhor define o seu estilo e o seu universo temático
é "As Vinhas da Ira", um volume em que a
consciência popular toma forma.
Aliando-se às massas e afastando-se
dos círculos intelectuais e académicos, John
Steinbeck foi frequentemente repudiado na América (sobretudo
nos últimos anos), não merecendo a atenção
de outros autores seus contemporâneos, como Hemingway
ou Faulkner.
Repórter durante a Segunda Guerra
Mundial, em vários cenários do conflito, viria
a receber o Prémio Nobel, em 1962. No discurso de aceitação
do galardão, aproveitou para reflectir sobre a importância
da escrita e para reforçar a sua confiança nas
capacidades do homem. "A Literatura é tão
antiga como a linguagem. Nasceu da necessidade humana e só
mudou na medida em que se tornou ainda mais necessária
(...) O homem transformou-se no nosso maior risco e na nossa
única esperança." E acrescentou, adaptando
as palavras do apóstolo S. João: "No fim
está a palavra, e a palavra é homem, e a palavra
é com o homem." Morreu em 1968.
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