Um bando de amigos, “blacks”, “dreads”,
nascidos na “pior zona do pior país da CEE” —
Zona J, Chelas. Patamares com “graffiti” que dizem “fuck
them all”, que dão para escadas de cimento, que dão
para becos cheios de lixo.
Salas que são cubículos, com
recortes de “rappers” e damas da “Playboy”
— e de Jesus Cristo, para as mães se benzerem quando
voltam das limpezas nocturnas. Um “black” e a sua “dama”
branca, como Romeu e Julieta, com o mundo à perna. Garotos
que sonham com um par Levi’s verdadeiras e homens que cortam
a barriga para trazer de Angola diamantes de cinco quilates que
valem dez carros.
Félix Fontoura vende sapatos na Amadora. Há
cinco anos protagonizou um dos maiores sucessos de bilheteira do
cinema português. O argumento era inspirado na história
do Mariana, um rapaz da Zona J de Chelas. Fomos à procura
deles, cinco anos depois.
Na paragem do 59, frente aos Correios — disse
Mariana ao telefone. Oficialmente, Chelas fica em Lisboa. Passe
L, no 59, por exemplo, que vem dos Restauradores. Não é
campo, nem subúrbio, nem improviso. Foi pensada de raiz para
ficar. E ficou assim. Algo que se contorna, dentro da cidade. Ou
que se atravessa rapidamente, de carro. Um vale ventoso. Centenas
de prédios de um lado e do outro — centenas de prédios
são milhares de pessoas, mas as pessoas não se vêem
dos carros. A Zona J fica no lado nascente. É lá que
Mariana mora. Foi a partir da história dele que se fez o
argumento de “Zona J”.
No dia da festa de casamento
da irmã, Tó, um descendente de angolanos que mora
na Zona J de Chelas, em Lisboa, sai da festa sozinho e senta-se
com uns amigos numa escada do bairro, ao ar livre. Entretanto,
um amigo aparece com um carro roubado e dá-lhes boleia
para a discoteca. Carla está lá, a conversar com
uma amiga sobre o seu "homem ideal".