“Zona J”, de Leonel Vieira,
na série Y
Por Alexandra Lucas Coelho
Um bando de amigos, “blacks”, “dreads”,
nascidos na “pior zona do pior país da CEE” —
Zona J, Chelas. Patamares com “graffiti” que dizem “fuck
them all”, que dão para escadas de cimento, que dão
para becos cheios de lixo.
Salas que são cubículos, com recortes
de “rappers” e damas da “Playboy” —
e de Jesus Cristo, para as mães se benzerem quando voltam
das limpezas nocturnas. Um “black” e a sua “dama”
branca, como Romeu e Julieta, com o mundo à perna. Garotos
que sonham com um par Levi’s verdadeiras e homens que cortam
a barriga para trazer de Angola diamantes de cinco quilates que
valem dez carros. Um gerente de centro comercial que não
gosta de “blacks” e dorme com a mãe da “dama”
branca, à espera de dormir com a “dama” branca.
Um inspector da PJ que chama “caras de carvão”
aos “blacks” e lhes dá pontapés nos tomates
quando têm uma arma na mão. Um assalto a uma joalharia
que podia ter sido uma “fezada a sério” e ter
dado “big money”. Tiros, balas que acertam, gente que
perde.
“Zona J”, o filme, uma encomenda do produtor
Tino Navarro ao argumentista Rui Cardoso Martins. Depois de algum
tempo a tentar “entrar” em Chelas, Cardoso Martins conheceu
Mariana, um “black” nascido na “pior zona do pior
país da CEE”, que vivia sozinho com a mãe, já
tinha trabalhado nas obras e vivia de “fezadas”. Foi
Mariana que lhe abriu Chelas. E o filme veio a ser também
a história dele e dos amigos dele.
O papel principal coube a Félix Fontoura,
um bailarino angolano que não morava na Zona J e chegara
há poucos anos a Portugal. Mariana faz de Filomena, um dos
“blacks” do bando — é na casa dele que
se encontram, é dele a ideia do assalto à joalharia.
Quase todos os restantes actores do grupo de amigos são estreantes.
Para o realizador Leonel Vieira, então um
desconhecido (o seu primeiro filme, anterior, não passara
ainda nas salas), “Zona J” foi também uma primeira
prova pública. Com grande sucesso de bilheteira: fez 250
mil espectadores.
Na edição de amanhã, vamos
saber o que é feito dos protagonistas de “Zona J”,
cinco anos depois.
|