"A máscara do riso e da doçura"

Por detrás do disfarce de jovem ladrao está, afinal, uma frágil mulher. Nesta comédia de enganos, o realizador George Cukor realça o fascínio que sentia pela sua actriz de eleiçao, Katharine Hepburn

Nunca foi a mais feminina das actrizes, mas o nariz empinado, a voz estridente e a garra que revelava em todos os papéis tornaram-na numa das estrelas mais carismáticas do cinema. Gostava de usar calças, praticar os mais variados desportos e discutir em voz alta. Talvez por isso, Katharine Hepburn tenha demorado algum tempo a convencer Hollywood do seu inegável talento.

Em "Sylvia Scarlett", o filme desta semana da colecçao Clássicos Público, aproveita as poses de maria-rapaz para dar vida a uma jovem que é obrigada a disfarçarse de homem para nao levantar suspeitas sobre um roubo. O papel de Sylvia (que, em grande parte da acçao, se assume como Sylvester) voltou a nao ser bem aceite nas bilheteiras, mas é, hoje, entendido como um bom exemplo da comédia de enganos e um passo seguro na longa relaçao da actriz com o realizador George Cukor.

Nesta história de falsos ladroes, Hepburn consegue tomar as rédeas da acçao e dita o ritmo dos acontecimentos. De cabelo curto e roupas justas, convence todas as personagens que a envolvem de que é um rapaz e há até uma cena polémica de um beijo com outra mulher. O despudor e a vontade de brincar com a sexualidade chocaram o público conservador de 1936, mas George Cukor (1899-1983) nao desistiu daquela que se tornaria a sua actriz de eleiçao.


"Sylvia Scarlett", de George Cukor

Katharine Hepburn disfarça-se de rapaz para nao levantar suspeitas e a máscara con-vence, até ao dia em que se apaixona

A comédia romântica ganhou um novo impulso com o aparecimento do cinema sonoro. Tornou-se sofisticada, atraente e com diálogos acelerados que deram um novo sentido as peripécias e reviravoltas típicas das histórias de amor complicadas. "Sylvia Scarlett", o filme desta semana da colecçao de DVD Clássicos Público, vai um pouco mais longe por introduzir a máscara como elemento ideal para uma série de enganos.

Neste primeiro encontro entre Katharine Hep burn e Cary Grant o que conta sao as artimanhas porque os protagonistas adoram extorquir dinheiro, embora o bom senso os impeça de ter sucesso na difícil arte de enganar o próximo. O final será feliz ou nao fosse esta obra um exemplo perfeito do riso açucarado que Hollywood apresentou na sua "época de ouro". Em fuga França devido a um roubo, Henry Scarlett (Edmund Gwenn) nao quer levantar suspeitas. A filha, Sylvia Katharine Hepburn), propoe vestir-se de rapaz para desviar as atençoes e os dois vao para Inglaterra a procura de novas oportunidades.


"Sylvia Scarlett" de George Cukor, 1936

Henry Scarlett (Edmund Gwenn) encontra- se em fuga para Inglaterra, depois de desviar dinheiro. Acompanhado pela filha Sylvia (Katharine Hepburn), obriga-a a vestir-se de rapaz para desviar as atençoes. A jovem conhece o artista Michael Fane (Cary Grant), que desconfia do seu disfarce e se apaixona.

 
"O Mundo a Seus Pés"
DE ORSON WELLES

"Um clássico que revolucionou a indústria artística, nos seus reflexos de testemunho e de onirismo. A partir dele, nada se adiantou - sobre os desígnios do poder, a influencia dos meios de comunicaçao, a vagabundagem visionária, os mistérios e os fantasmas da infância..."
"As Duas Feras"
DE HOWARD HAWKS

"O exemplo perfeito das 'screwball comedies', num requinte de ambiguidades morais e sexuais. Um prodígio quanto a narrativa e ao diálogo, ao tempo de acçao, aos efeitos de surpresa, ao absurdo dos artifícios, ao carisma extravagante dos intérpretes."
"Os Dominadores"
DE JOHN FORD

"Uma vibrante celebraçao da saga 'western', tendo John Wayne num dos seus mais formidáveis desempenhos, com a fenomenal reavaliaçao de Ford, em que ao envolvimento de massas se recorta, afinal, o vulto solitário dos protagonistas."
"King Kong"
DE MERIAN C. COOPER E
ERNEST B. SCHOEDSACK


"Épico do terror-fantástico, e um dos clássicos primordiais de culto, mantém um sortilégio essencial: em magia, exotismo, aventura, 'suspense', pulsao erótica em que se transcende o mito entre a bela e o monstro. Eis o espectáculo virtual por excelencia."