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RESSONAR

A noite arquitecta
um tecto, uma casa

pensa uma porta
repensa um portão

e planta verde
e tranca o jardim

seu sonho de nervos
entranhado no muro

verde sono:calado
coagulado sangue

cerâmica - absorto
vaso sem veia

sem pulso, esbatido
absorvido arbusto

embuçado esboço
embaçado embutido

estojo, lavrado
lacrado no escuro.

JORNAL

A tortura torce
o corpo retorce
dentes estridentes
tensas engrenagens

em transes mecânicos
trituram os homens
costuram nas carnes
grandes e grangrenas

pilhas de processos
enfezados fichários
fichas sem trânsito
se fecham cifradas

malhas burocráticas
prisões de papel
arcas e arquivos
atulhados de laudas

propagam a praga
da propaganda prega
uma pêta - as patas
da patranha pisam

o jornal do dia
ejacula: manchas
móveis manchetes
mentem às massas

monótona máquina
move-se autómata
mastiga mecânica
o dia - o diário

repete esquemático
páginas apagadas
cotas cotidianas
se escoam: acuadas

camadas uniformes
murchas e amorfas
marchas militares
botinas uníssonas

palavras-de-ordem
direita volver!
a mímixa maquinal
do milico: mico.

ARMANDO FREITAS FILHO
in "Dual", Rio de Janeiro, 1966
74 páginas

 

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