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BALADAS
DAS ONDAS
Ó ondas, ondas
frias,
ó ondas a rezar ave-marias
ou a rugir como profetas, sonho vão,
o sonho de fazer da terra um coração...
Ó ondas, ondas
lívidas e mortas,
mendigas a bater às frias portas
das rochas impassíveis e serenas...
ó ondas a arrolar céus de gangrenas,
ó rebanhos perdidos, soluçantes...
Que é do vosso pastor, ó ondas marulhantes?
Ó ondas glaucas
em abris de espumas,
ó ondas a mugir presságios pela bruma,
ó ondas em que cai cariciosamente,
uma suicida triste, a lua opalescente!
ó ondas, ondas vãs, ondas como o Destino
dizendo um não sei quê de vago e de divino...
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Ó ondas , maternais dizendo ao moribundo
que na morte achará o que não viu no mundo...
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Ondas, eu vou beijar a vossa irmã mais branca,
beber o seu olhar que a minha sede estanca
e dizer as palavras pobres que ela adora
e ouve como as de Deus falando em cada aurora...
Seu corpo que me enlaça e tem carícias de onda,
sabe alguma de vós onde eu o ame e esconda?
Seja como for
ouvindo em cada espuma um perfume de flor,
um murmúrio de reza e a ânsia de perdão
que faz de cada forma um sonho-coração...
Seja onde for, ó ondas, ondas frias,
mas a ouvir-vos rezar avé-marias
ou a rugir como profetas, sonho vão,
o sonho de fazer da terra um coração
ANTÓNIO PATRÍCIO
in "Poesia Completa"
Assírio e Alvim, Lisboa,1980
200 páginas
890$00.
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