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logo-poema-texto-vertical.gif (1150 bytes) M. Bandeira

JOVEM DESCALÇO CAÍDO NA CALÇADA

1

Jovem recém-morto
um riso
torto
entre o céu e a lei.

Sinais roxos de bala
no peito, mais nada.

Caído na calçada.

Junto ao palavrão
que
amanheceu escrito
no muro de Dom Xisto,
El-rey.

Quem será?

Não
um simples cadáver
(via-se) mas um corpo
na calçada,
com uma flor na
mão.

2

Morto sem gravata

Sem relógio de
pulso.

Sem sapato.

Sem fotografia
no bolso.

Incivil
até depois de
morto.

Um morto sem
educação, mas
uma flor na mão,
num cromo.

Resta-lhe, ao todo,
um ramo de pronomes
para a autópsia:
"quem"
"alguém"

"Ninguém"

E aquela flor na
mão,

Não se sabe como.

CASSIANO RICARDO
in "Os Sobreviventes"
Livraria José Olympio Ed., 1971
269 páginas

 

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