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esquina-de-cima.gif (265 bytes)
logo-poema-texto-vertical.gif (1150 bytes) Afinal de nada serviram...

Afinal
de nada serviram os joelhos em sangue,
as mãos postas e os ventres em flor:
raiva e sonho, medo e desejo,
apodrecendo, no silêncio dos dias e das noites,
à chuva e ao vento...
pasto de aves e vermes e raízes:
flor e pão, e esperança amanhã falida!

(e outros também a morrer, a morrer...
embora o sangue lhes corra nas veias
e as mãos alinhem cifras — de cor,
e os lábios murmurem sim — de cor,
e os olhos vejam o que está para além do que vêem,
e as mãos afaguem a solidão da noite parada!)

Afinal,
a morte é a mesma
ou se o não é, não existe,
e Deus está no céu,
e a morte não sabemos se em nós,
ou se na seara tão verde ainda,
ou se no fruto tão maduro já,
ou se nos dias calmos,
ou se nas noites banais,
mas não em mim,
ainda não em mim...
(Ou talvez já em mim,
adormecida no latejar do meu pulso!)

Afinal,
se a morte não é o fim, o fim!,
se a morte não é a fonte, a fonte
capaz de lavar o pecado não cometido...
Ah!, se a morte é a voz imperceptível
segredada lá do fundo da noite mais remota,
ou o princípio do sonho nunca sonhado,
apenas pressentido no espasmo e no êxtase,
ou no eco de cada palavra dita ao acaso...
(E se a voz imperceptível
segredada lá do fundo da noite mais remota,
nada nos disser que já não soubéssemos?
)

TOMAZ KIM
in "Dia da Promissão"
Cadernos de Poesia, 1945
40 páginas (esgotado)

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