poema anterior Poema Anterior    Poema Seguinte poema seguinte

esquina-de-cima.gif (265 bytes)
logo-poema-texto-vertical.gif (1150 bytes) MOTE

MOTE

Contentamento, onde estás
Que te não acha ninguém?
Se intenta buscar-te alguém
Não sabe por onde vás.

GLOSA

Amigo contentamento,
Peço-te por uma vez,
Que me não busques; que intento
Buscar-te em teu aposento
Para lançar-me a teus pés.
Assim, em tal ousadia,
Porque eu saiba aonde vás;
Ao fim de achar-te algum dia
Dize-me hoje, em cortesia:
Contentamento, onde estás?

Por mil partes diferentes
Andei; e te certifico
Não ver-te por entre as gentes;
Antes todos descontentes,
Alto, baixo, pobre e rico.
Fui-me aos palácios; e ouvi
Que se acaso ali te vêm,
Sem deixar sinais de ti,
Tão cedo te vais dali
Que te não acha ninguém.

Dei logo em imaginar
Que estás entre os namorados:
Busquei-te; e vendo-os queixar,
Mal disse, se podem dar
Contentamento e cuidados:
Com que vendo o teu desvio,
Julguei que passar além
Era trabalho baldio;
E que intenta um desvario,
Se intenta buscar-te alguém.

Fiquei tão desenganado
Que direi, por toda a parte,
Que quem por dita ou por fado
Se não vir por ti buscando,
Não se canse com buscar-te:
Porque é tal sua conquista
Que inda o triste a quem te dás,
Por muito que ele te assista
Não sabe por onde vás.

GREGÓRIO DE MATOS
in "Gregório de Matos de Masria de Lurdes Teixeira"
Ed. Martins (São Paulo), 1972
175 páginas (fora do mercado)

esquina-de-baixo.gif (264 bytes)

poema anterior Poema Anterior    Poema Seguinte poema seguinte