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I. Despem-se as árvores da sua carne de verdura, e o seu vulto esquelético, às horas
do poente, sangra, crucificando no crepúsculo. II. O Outini é belo para o homem, porque o faz antegozar o repouso eterno, e acorda, em nós, o fantasma adormecido, o Anjo remoto em que se transmuda a criatura, depois do último suspiro. III. Todos nós, pelo Outono, somos esse anjo, dalgum modo... E é, por isso, que os sentidos adquirem estranhas virtudes, sob o primeiro sopro do nordeste e a primeira nuvem escura... Ouvimos e vemos mais além; e a luz do nosso olhar, habituada apenas ao contacto das coisas materiais, parece dar forma e relevo a Figuras, que viviam dispersas em brumas de melancolia... IV. Se a penumbra outonal aviva a nossa tristeza, torna-a distante de nós, como que a
recebe, em seu nubloso seio morto... V. O outono é belo, porque nos provoca uma fuga da alma sobre as cousas, isto é, sobre o Passado. E o homem adora tudo o que o afasta de xsi mesmo. Ele Gosta de contemplar através da saudade , essa distância espiruitual, que dá perspectiva eterna ao seu frágil ser transitário. VI. Ah, se a morte fossse a infinita lembrança da Vida?! VII. O outono é belo para o homem, porque ele já foi árvore, e recorda ainda a
delícia do adormecer, quando a seiva pára arrefecida e a sensação do mundo externo,
tomba, com as folhas, das ramagens. |
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